«O príncipe das trevas é um cavalheiro». In Shakespeare
«(…) Ela se esgueirou pela passagem estreita. Archer estava ao lado do que Cotten pensou que fosse uma cripta na parede mais distante da câmara. Ela vislumbrou restos de ossos escuros e um brilho metálico. Ele trazia consigo uma pequena caixa aberta, cujo interior os dois homens observavam com intensidade. Cotten abriu a boca para chamar. Nesse instante, o árabe puxou uma arma de dentro da túnica. Cotten congelou enquanto o homem apontava a arma para Archer. Entregue-a para mim!, exigiu ele. Archer fechou a tampa e recuou um passo, segurando a caixa com firmeza. Tinha os olhos arregalados e o rosto branco como um esqueleto. Você é um deles. Cotten apoiou as costas contra um andaime frouxo. O andaime saiu do lugar e uma pequena avalanche de seixos e areia desabou ao chão. Com o ruído, os homens se voltaram e por um momento olharam para ela. Archer deixou a caixa cair e tentou segurar a arma. Em seguida, agrediu o homem e ambos rolaram sobre o chão sujo. O árabe golpeou a cabeça do arqueólogo com o cano da arma. Archer ergueu um cotovelo, redireccionando a pontaria da arma exactamente no momento em que ela disparava. O disparo ecoou nas paredes frágeis da câmara. O árabe dominou Archer, forçando a arma contra a maçã do rosto do homem mais velho. Com um gemido alto, Archer levantou o joelho, empurrando o árabe e fazendo com que batesse com a cabeça contra a parede. Atordoado, o árabe deixou-o por um instante e Archer conseguiu esgueirar-se para longe dele. O árabe ergueu o revólver, apontou e Archer mergulhou sobre ele, esmagando o oponente com o seu peso. A arma disparou sob ele. Um segundo tiro foi disparado, mas os corpos de ambos o abafaram. Cotten prendeu a respiração enquanto os dois homens continuavam imóveis. A câmara permaneceu em silêncio, a não ser pelo zumbido do sangue dela pulsando nas orelhas e o batimento do coração contra o peito. Então, finalmente, Archer moveu-se, rolando vagarosamente para longe do árabe. Uma mancha vermelha borrava a parte da frente da camisa. Mais sangue escorria do peito do árabe. Archer levantou-se com dificuldade e olhou para o homem morto. O peito tremia e ele respirava com dificuldade enxugando o rosto na manga da camisa. Pegou a caixa, segurando-a com firmeza. Ele tossiu e se endireitou, os olhos fixos em Cotten. De repente, entortou os olhos, cambaleando alguns passos antes de desabar no chão. O meu coração, sufocou, a mão sobre o peito.
Cotten deixou a sacola cair e aproximou-se com cautela, olhando atrás de si. Observou o corpo do árabe ao passar por ele. O que quer que eu faça?, indagou, ajoelhando-se ao lado de Archer. Quer que vá buscar ajuda? Não. Archer procurou alcançar a mão dela. Começou a tossir e Cotten apoiou-lhe a cabeça no colo. A caixa, ele murmurou. Fique com ela. Ele olhou para o morto. Nada irá detê-los a partir de agora. Eles quem? O que está dizendo? O rosto dele se contorceu em consequência de uma fisgada de dor. Com as mãos trémulas, ele empurrou a caixa na direcção dela. A pele parecia perder a cor, os lábios escureciam. Deve impedir que eles fiquem com ela. O que é isso?, quis saber Cotten. A voz de Archer sumia, era pouco mais do que um sussurro. Vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, Mateus. Não estou entendendo. Archer não respondeu, parecendo olhar através dela. Então tentou puxá-la para perto de si e ela se inclinou para ouvir o que ele sussurrava. Depois balançou a cabeça, confusa. Por favor, o que está dizendo não faz nenhum sentido. Quer que eu detenha o sol..., o amanhecer?
Archer parecia delirar, erguendo a cabeça, a voz subitamente forte enquanto falava. Geh el crip. Cotten sentiu o mundo rodar. Archer não podia ter dito o que ela pensava ter ouvido. Era impossível. Impossível. Ele falou numa língua que ela não ouvia desde que era criança. Só uma outra pessoa conversava com ela naquela língua..., a irmã gémea. A irmã gémea dela, que estava morta.
Viagem de Volta
Como
pode conhecer essas palavras?, indagou Cotten com voz trémula. Mas Archer
já havia fechado os olhos. A mão dele perdeu a força e a cabeça pendia frouxa
para trás, o peito silenciou. Archer estava morto. A fieira de lâmpadas piscou
e apagou-se, e então tudo ficou às escuras. O combustível do gerador acabou,
imaginou ela. Com delicadeza, afastou do colo a cabeça de Archer. Não havia
mais nada que pudesse fazer por ele e, como só devia restar um caminhão, era
melhor se apressar. Com receio de tropeçar nos escombros, Cotten pôs a caixa
debaixo do braço e encaminhou-se como pôde no meio da escuridão na
direcção
que pensou levar ao túnel. De repente, a terra tremeu e as paredes rangeram.
Ela caiu de joelhos e tentou proteger a cabeça, esperando que o tecto
desabasse, poeira
e areia se espalharam pelo recinto apertado, acumulando-se no cabelo dela e nos
dorsos das mãos. Pedregulhos atingiram-lhe as costas. Estariam caindo bombas em
algum lugar por ali? O rumor cessou e ela continuou a caminhar com dificuldade.
A sacola não devia ter ficado muito longe dali, mas avançar naquele espaço às
escuras era penoso. Tocou o chão com uma das mãos e retraiu-a, enojada. O
sangue do árabe. Agachou-se e limpou o sangue da mão na perna da calça do homem
morto. Quando chegou à parede lembrou-se do caminho que levava à abertura do
túnel, onde havia deixado a sacola. Apalpou com os dedos o náilon do forro da
sacola até encontrar a lanterna minúscula. A lâmpada piscou quando accionou o
interruptor e depois se apagou. Ora, vamos!, murmurou, agitando-a. A lanterna voltou
a se acender, mas a luz era pouco mais do que um fraco lampejo. Com a lanterna
na boca, Cotten foi jogando filmes e outros objectos no chão sujo e guardou a
caixa de Archer dentro da sacola. Depois de arrumar tudo de novo dentro da
sacola, a lanterna apagou de novo. Ela apalpou o chão em busca de algo que
tivesse esquecido. Um segundo estrondo abalou as paredes, seguido por um
terceiro e um quarto. Ouviu-se um estalo inconfundível, que ela reconheceu de
quando tinha feito
um artigo sobre armamento de alta tecnologia da Força Aérea: bombas sónicas lançadas
de caças rompendo a barreira do som». In Lynn Sholes e Joe Moore, A Conspiração do
Graal, 2005, Clube do Autor, 2020, ISBN 978-989-724-534-3.
Cortesia de CdoAutor/JDACT
JDACT, Lynn Sholes, Joe Moore, Literatura, Mistério, Médio Oriente,