«(…) Entrando no estacionamento cujo chão era coberto de pedregulhos da rústica atracção turística, Cotten Stone sentiu aquela antiga e conhecida pontada de excitação. Ela havia produzido manchetes importantes ao longo dos dois últimos anos: ao encontrar o Santo Graal, duas vezes; ao persuadir o Vaticano a abrir os seus cofres e permitir que os judeus recuperassem a menorá sagrada do Segundo Templo, levada para Roma por Tito em 70 d.C.; ao cobrir o impressionante achado dos rolos de pergaminhos mais antigos em cavernas próximas ao Mar Morto; e ao anunciar a descoberta das trinta peças de prata que Judas Iscariotes recebera em pagamento pela traição a Cristo. Mas esta agora seria a coroação das suas conquistas. Quando se tratava de sensacionalismo religioso, Cotten Stone ditava as regras. E agora ela tinha a oportunidade de desmascarar, sozinha, os fundamentos da teoria científica da evolução, ali mesmo naquela tarde quente, numa faixa poeirenta às margens de uma rodovia texana. Ela estava nas alturas, sentindo a adrenalina correr pelo rosto e pela garganta. Cotten parou ao lado do veículo de geração e transmissão de vídeo à distância da NBC-5 de Dallas-Fort Worth, estacionada na frente do estabelecimento de Gilley. Já devia estar tudo pronto para a transmissão ao vivo via satélite da sua próxima reportagem revolucionária. Em instantes, ela revelaria ao mundo um osso de dinossauro com uma ponta de lança enterrada, a prova de que o homem tinha vivido na época dos dinossauros. Quando saiu do carro, Cotten voltou a observar o céu nublado do Texas. Controlem-se, pensou. Cotten Stone está prestes a abalar o noticiário nocturno outra vez.
Apenas uma semana depois do que deveria ter sido o melhor momento da sua vida, Cotten Stone estava outra vez diante das câmeras. Mas não havia o brilho de excitação no seu rosto, nem qualquer animação na sua voz. Em vez disso, seus olhos estavam pesadamente maquiados, numa tentativa de disfarçar as pálpebras inchadas. O corpo todo parecia encolhido, recurvado e, quando ela falou, a voz saiu acanhada. Gostaria de me desculpar com todos aqueles que se sentiram traídos ou ofendidos por mim, declarou Cotten, evitando o contacto visual com a câmera. Ela olhava para baixo, para os apontamentos que tinha preparado, sentindo os olhares de toda a equipa do estúdio sobre ela; o desprezo que eles sentiam era quase palpável. Não era a minha intenção mentir ou conspirar para enganar os espectadores da National Broadcasting Company ou as suas afiliadas. Nunca tive a intenção de decepcionar ninguém. Fui acusada de ignorar as evidências que indicavam aquilo que agora está sendo chamado de fóssil inventado, uma mentira premeditada. Nego terminantemente que tivesse algum conhecimento anterior de que se tratava de um artefacto falso e nunca pretendi iludir nem confundir ninguém. Se fui motivo de embaraço para algum grupo ou pessoa, sinto profundamente que isso tenha acontecido. Espero que todos possam perdoar-me». In Lynn Sholes e Joe Moore, O Último Mistério, 2006, Publicações Europa-América, 2007, ISBN 978-972-105-782-1.
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