Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses. Roskilde
«(…) Fitou um dos homens que
permanecera no leilão e perguntou-lhe: Conseguiste saber quem arrematou o
livro? O homem assentiu. Tive de dar mil coroas ao empregado pela informação. De
Roquefort não estava interessado no preço da fraqueza. O nome? Henrik
Thorvaldsen. O telemóvel no seu bolso vibrou. O seu segundo comandante sabia
que ele estava ocupado, por isso devia ser importante. Atendeu a chamada. Já não
falta muito, disse a voz ao telefone. Quanto tempo? Nas próximas horas. Um bónus
inesperado. Tenho uma tarefa para ti, afirmou De Roquefort para a pessoa ao
telefone. Há um homem, Henrik Thorvaldsen, um dinamarquês endinheirado que vive
a norte de Copenhaga. Sei algumas coisas sobre ele, mas preciso da informação
completa daqui a uma hora. Telefona-me quando tiveres tudo. Desligou o telefone
e encarou os seus subordinados. Temos de regressar, mas ainda há duas tarefas
que precisamos de completar antes de amanhecer.
Malone e Stephanie Nelle foram
transportados para uma esquadra da Polícia nos arredores de Roskilde. Nenhum
deles abriu a boca no caminho, pois sabiam ambos o suficiente para estarem
calados. Estava convencido que a visita da sua antiga chefe à Dinamarca nada
tinha a ver com o grupo que liderava. Ela nunca trabalhara no terreno, era o vértice
do triângulo e toda a gente em Atlanta lhe prestava contas. Para além disso, quando
na semana passada ela lhe telefonara e dissera que gostava de o ver, deixara
bem claro que se deslocava à Europa de férias. Grandes férias, pensou ele
quando os deixaram sozinhos numa sala bem iluminada, mas sem janelas. Ah,
acabei por não lhe dizer mas estava-se muito bem na esplanada do Café Nikolaj,
comentou Malone. Tive de beber o seu café. Claro que isso foi antes de ter
perseguido um homem até ao topo da Torre Redonda e tê-lo visto saltar lá de
cima. Ela não disse nada. Também reparei que apanhou a mala do chão. Por acaso não
viu o cadáver mesmo ao lado, não? Pois, não deve ter reparado, afinal estava
com pressa. Já chega, Cotton, ripostou ela num tom que lhe era familiar. Já não
trabalho para si. Então porque veio atrás de mim? Interrogava-me sobre isso
mesmo na catedral, mas as balas desconcentraram-me. Antes que conseguisse
responder-lhe, a porta abriu-se e entrou um homem alto de cabelo ruivo e olhos castanhos.
Era o inspector da Polícia de Roskilde que os acompanhara desde a catedral e
segurava a Beretta de Malone.
Fiz a chamada que me pediu, disse
o inspector para Stephanie. A Embaixada dos Estados Unidos confirma a sua
identidade e ligação ao Departamento de Justiça. Estou à espera de instruções
do nosso Ministério do Interior sobre o que fazer consigo. Voltou-se para
Malone. O senhor é outro assunto. Está na Dinamarca com um visto temporário de
residência como comerciante. Mostrou-lhe a arma. As nossas leis não permitem o
porte de armas e muito menos dispará-las no interior das catedrais, e estamos a
falar de uma que é Património da Humanidade. Só gosto de quebrar as leis mais
importantes, argumentou ele, mostrando ao inspector que não se sentia amedrontado
pelas suas palavras. Também aprecio o humor, Sr. Malone. Todavia, isto é um
assunto da maior seriedade. Não para mim, mas para si. As testemunhas referiram
que havia outros três homens armados e que foram eles que começaram o tiroteio?
Temos descrições. Mas é pouco
provável que ainda estejam por perto. O senhor, no entanto, está aqui. Inspector,
interrompeu Stephanie, toda aquela situação foi culpa minha e não do Sr.
Malone. Lançou-lhe um olhar. Ele trabalhou em tempos para mim e pensei que
pudesse necessitar da sua ajuda. Está a dizer-me que o tiroteio nunca teria
acontecido se não fosse a interferência do Sr. Malone? Não. Estou apenas a
dizer que as coisas se descontrolaram, mas não foi responsabilidade dele. O
inspector considerou o que acabara de ouvir com alguma apreensão. Malone
interrogou-se sobre o que estaria Stephanie a fazer. Mentir não era o seu
forte, mas decidiu não a contradizer frente ao inspector. Estava na catedral em
missão oficial?, perguntou-lhe o polícia. Isso não posso revelar. Creio que
compreende. O seu trabalho envolve actividades sobre as quais não pode falar?
Pensei que fosse advogada. E sou. No entanto, a minha unidade está
frequentemente envolvida em investigações ligadas à segurança nacional. Na
verdade, é por essa razão que existimos. O inspector não pareceu impressionado.
O que veio fazer à Dinamarca, Sra. Nelle? Vim visitar o Sr. Malone. Há mais de
um ano que não o via. Foi esse o único motivo que a trouxe cá? É melhor
esperarmos pelo parecer do Ministério do Interior. Foi um milagre ninguém se
ter magoado naquela confusão. Houve estragos em alguns monumentos sagrados, mas
nenhum ferido. Eu acertei num dos atacantes, revelou Malone». In Steve
Berry, O Legado dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN
978-972-203-808-9.
Cortesia PdomQuixote/JDACT
JDACT, Literatura, Steve Berry, Templários,