Cambridge, Inglaterra
«(…)
Após assegurar-se de que Marbury fora embora, Samuel desabou na cadeira. Isaiah
exalou um longo suspiro. O que era chamado de Daniel foi o primeiro a tirar a
máscara. Enxugou o rosto com ela, e a mão tremia enquanto o fazia. Graças a
Deus esse negócio terminou e posso retornar logo a Roma. Bem, apenas..., pelo
menos por enquanto Samuel olhou para Isaiah, a máscara ainda no lugar. Nosso
irmão cardeal Venitelli não tem estômago para alcovas e sombras, suspirou
Isaiah. Vejam como fiquei empapado de suor, e, no entanto, que lugar frio é a Inglaterra.
O cardeal Venitelli atirou a máscara molhada na mesa. Não precisa me chamar de
Daniel agora. É , grunhiu Isaiah. Estamos a sós. Claro, Venitelli estremeceu e
persignou-se, sem pensar, levando os braços apertados ao peito. Devo dizer aos
dois senhores que sinto muito pela história de Marbury. Parece, por tudo o que
descobri dele, um homem inteligente. Como conseguiu enganar-se por tanto tempo?
É protestante, cuspiu Samuel,
desdenhoso. Confia em nós, por que não deveria? Cultivamos-lhe a confiança
durante vários anos para nossos fins. Ele foi nosso instrumento, sem o saber,
ao destruir a Conspiração Bye contra James. Foi?, perguntou Venitelli,
tiritando mais uma vez. Achei que nosso padre Henry Garnet... Nosso Papa queria
James para condenar todos os católicos, sibilou Isaiah. Quase nada nos
solidifica tanto, para Ele, quanto a oposição. Venitelli esforçava-se para
entender. Sua Santidade não quis que James repelisse a legislação anticatólica?
Marbury é mais nosso instrumento, embora não o saiba, que esse chamado irmão Timon,
escarneceu Samuel. Venitelli fechou os olhos ao ouvir o nome. Timon, repetiu,
tenso, encarando a porta pela qual desaparecera o visitante. Que vamos fazer?
Entregamos esse decente Marbury a um demónio.
Num
beco lateral a outra rua em Cambridge, nesse exacto momento, uma lâmina prateada
captou a luz do luar. Depois perfurou o coração de um idoso. O punhal fora
inserido com toda a destreza logo abaixo do esterno e empurrado para cima. O
velho, que se chamava Jacob, fitou dentro dos olhos do assassino, uma sombra
obsidiana de absurda altura que parecia reflectir as trevas. Um manto preto e o
capuz tornavam-no quase invisível na noite». In Phillip Depoy, A Conspiração
do rei James, Prumo, 2009, ISBN 978-857-927-022-2.
Cortesi de Prumo/JDACT
JDACT, Phillip Depoy, Literatura,