De Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgias
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Outro evento causou ainda maior admiração do que o
final das hostilidades entre Inglaterra e França. Em 29 de maio de 1453, o
sultão Maomé II conquistou Constantinopla e exterminou, assim, os últimos
resquícios do Império Bizantino. O susto provocado contribuiu para que Nicolau
V alcançasse um bom êxito no seu empenho de resguardar a estabilidade política
na Itália. Por meio dos acordos fixados em Lodi, na Itália, em 1454 e 1455,
foram criadas estruturas federais que deveriam engendrar a manutenção da paz
por meio da reconciliação de interesses. No entanto, a estrutura complexa dos
numerosos estados com seu complicado emaranhado de sistemas, com diversas
relações de protecção e dependência, permaneceu, também no futuro, altamente
susceptível a interferências. Só era possível instaurar o equilíbrio se, pelo
menos, as cinco principais potências praticassem uma política permeada por
prudência e ponderação. Os acordos
exigiam, assim, a contenção de todos, principalmente do papado. O lema da modernidade
era abdicar do nepotismo excessivo. Nicolau V respeitou essa regra.
Será que seu sucessor iria fazer o mesmo? Após a morte do
primeiro papa humanista, o conclave se reuniu primeiramente com 14 e, em
seguida, com 15 cardeais; jamais o número de eleitores de um conclave voltou a
ser tão baixo. Os italianos, que contavam com sete purpurados, detinham uma
exígua maioria. O segundo grupo mais forte era o dos espanhóis, com quatro
representantes. Esses últimos, contudo, não chegavam a representar uma ameaça
tão grande como os franceses, embora esses só estivessem representados com dois
príncipes da Igreja. Os eloquentes humanistas italianos eram considerados
bárbaros por excelência e os prelados italianos, uma ameaça para o papado. Será
que iriam transferir a cúria novamente para Avignon, que durante 1309 e 1377
tinha sido a residência papal, em detrimento da Cidade Eterna?
Não foram apenas essas preocupações e o precoce
nacionalismo que moldaram a eleição do novo pontifex maximus. Como
era comum havia muito tempo, a rivalidade entre os Colonna e os Orsini exercia
forte influência sobre as formações partidárias do conclave. Com suas vastas e,
de facto, autónomas propriedades feudais, esses dois clãs da aristocracia
dominavam, desde o século XIII, não apenas a paisagem rural romana, mas também
a região de fronteira com Nápoles, sem
falar na própria Cidade Eterna. No conclave, cada linhagem apresentou um
cardeal e este permaneceu rodeado pelos seguidores da respectiva família. Uma
vez que o poder de ambas as partes equiparava-se, não foi possível fazer valer
a força de seu respectivo preferido. Foi inevitável, portanto, proceder à busca
de um candidato de conciliação. O cardeal Bessarion, com sua elevada formação
filológica e teológica, bem como seu estilo de vida exemplar, ofereceu-se como
tal. Mas rapidamente pairou no ar uma espécie de xenofobia, mais exactamente
grecofobia. Um grego como papa? A união da Igreja Ortodoxa com a Igreja
Católica não fora realizada pura e simplesmente pela força das circunstâncias,
ou seja, pela ameaça iminente da queda de Constantinopla? Era possível confiar
realmente na ortodoxia desse príncipe estrangeiro da Igreja?
Alonso de Borja, nesse aspecto, estava completamente fora
de suspeitas. Além disso, como espanhol, ele representava a Reconquista, a
batalha de fé contra os mouros. Dentro das circunstâncias altamente tensas e de
confinamento espacial do conclave, o regresso a esses antigos motivos que,
depois de 1453, passaram a ser novamente actuais, desempenhava um papel muito importante.
O factor decisivo, no entanto, foi que, com a elevação a papa do homem de
Xátiva, o impasse foi resolvido e foi adiada provisoriamente a decisão sobre o
desenvolvimento no longo prazo da situação do poder em Roma. Não é de se
esperar que um papa de 77 anos quisesse tomar alguma decisão importante.
Dessa forma, os Orsini aproveitaram a oportunidade e apoiaram activamente o candidato do rei Afonso, ganhando, assim, pontos a seu
favor em Nápoles. Além disso, um pontífice já idoso e de carácter bem consolidado parecia oferecer melhor garantia para combater
a ascensão vertiginosa de determinados grupos ao poder apostólico, sem incorrer em transformações incómodas
de sua natureza». In Volker Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o papa
sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN 978-857-960-127-9.
Cortesia de EEuropa/JDACT
JDACT, Volker Reinhardt, Vaticano, Escrita,