Cortesia de wikipedia e jdact
Breves considerações sobre Lições de Filologia Portuguesa
Apresentação
«Este
livro é o resultado final de uma proposta de trabalho iniciada em 2011, quando
tivemos a oportunidade de visitar a Exposição itinerante A Vida e a Obra de Carolina
Michaëlis de Vasconcelos: Evocación e Homenaxe”(15 de Março a 14 de
Abril de 2011), então abrigada na Faculdade de Filologia da Universidadede
Santiago de Compostela, mas realizada, originalmente e com o mesmo título: A
Vida e a Obra de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Evocação e Homenagem,
na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, em 2009. Testemunhando a
numerosa e significativa recolha do acervo do Espólio da filóloga custodiado na
Biblioteca coimbrã (incluindo, além da sua biblioteca, documentos da vida
pessoal e profissional, exemplares de trabalho e epistolografia), pensamos que
seria importante transplantá-la ao Brasil, hipótese que imediatamente teve a
melhor acolhida por parte dos organizadores ali presentes, a Professora Doutora
Maria Manuela Gouveia Delille e o Professor Doutor João Nuno Corrêa-Cardoso.
Além de oferecer ao público da Biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo a oportunidade de conhecer a
trajectória pessoal e intelectual da filóloga, era também nossa intenção:
ressaltar o diálogo interdisciplinar que a homenageada praticara enfaticamente
na sua exemplar vida acadêmica; celebrar o espírito científico da estudiosa
que, em seu tempo, cultivou amplas e fecundas relações com os círculos eruditos
contemporâneos; e salientar sua importância como mulher à vanguarda de sua
época, activa colaboradora no então crescente movimento feminista mundial. A
exposição que pensamos para a Biblioteca Florestan Fernandes da Universidade de
São Paulo respeitou, na medida do possível, dentro das nossas condições
bibliográficas, documentais e espaciais concretas, o formato original, dividido
em três partes: Anos de Berlim, Anos do Porto, Anos de Coimbra e do Porto.
Procuramos destacar também o diálogo intelectual que Carolina manteve com Oskar
Nobiling, alemão como ela, naturalizado brasileiro e professor catedrático no
Ginásio de Estado de São Paulo, figura nacional de grande importância, pela
competência e pelo rigor com que tratou os estudos de filologia
galego-portuguesa no Brasil. Dessa forma, cremos que os usuários da nossa
Biblioteca puderam mergulhar no mundo dos filólogos dos séculos XIX e XX.
Acompanhando a Exposição e para promover o debate, organizamos, a exemplo do
que fizera a Universidade de Coimbra, um Colóquio Internacional em Homenagem
a Carolina Michaëlis de Vasconcelos, com o intuito de proporcionar
interlocução em áreas interdisciplinares, como a filologia românica, as
literaturas galega e portuguesa, a filologia e língua portuguesa. O diálogo que
nessa ocasião se estabeleceu entre as universidades brasileiras, a Universidade
de São Paulo, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal
do Espírito Santo, cujas vozes fizeram coro às dos convidados estrangeiros,
trouxe aportes de carácter histórico-filológico, cada vez mais vigorosos no
Brasil desde os anos 80 do século XX. O Colóquio reuniu um grupo de
investigadores que abordou, a partir da perspectiva contemporânea, aspectos e
questões ainda hoje suscitados pela obra de Carolina Michaëlis: o trabalho de
edição crítica; o conceito de filologia e sua contribuição para as filologias
galega, portuguesa e brasileira; os contributos para os estudos de história da
língua e da literatura em português, espanhol e galego-português; a troca de
ideias e informações com os romanistas da época; o contato que ela estimulou
entre as culturas portuguesa e alemã. […]
«A
orientação filológica, haurida pela autora junto aos próceres da Filologia
Românica dos séc. XIX e XX, foi aplicada à língua portuguesa com inteligência e
arte. É sabido que muitos eminentes romanistas dedicaram pouco espaço ao
português, espaço esse ocupado em grande parte por Carolina. Este trabalho
destaca alguns aspectos de sua valiosa contribuição» In Resumo.
«Com
toda consideração pelas numerosas obras de Carolina Michaelis, fiz a opção de
abordar as Lições de Filologia Portuguesa, neste simpósio, sobretudo
pela grande contribuição que deu aos estudos filológicos da língua portuguesa.
Irmã, digamos, menor, no contexto românico no início do séc. XX, a língua
portuguesa não era estudada de modo mais profundo e amplo pelos grandes
romanistas da época. Veja-se, v.g., a forma apresentada pelo REW (4875) lãa,
sem a crase das vogais, na 5 ª edição de 1972, quando a única forma corrente é
lã desde o séc. XVI. Carolina Michaelis viveu na época de Friedrich Diez, cujos
critérios de avaliação das línguas românicas são eminentemente geográficos,
políticos, literários e culturais, os quais não conferiam destaque maior ao
pequeno Portugal, enquanto seus territórios ultramarinos não tinham maior
expressividade. Despontavam, nessa época em Portugal, os primeiros filólogos,
como Francisco Adolfo Coelho, Augusto Epifânio Silva Dias, Goncalves Viana e
José Leite Vasconcelos. Ressalte-se que esse último, médico de formação,
defendeu sua tese de doutorado em Paris, com o conhecido Esquisse d’une
dialectologie portugaise, em 1901, ano em que também publicou Estudos de
filologia mirandesa. De 1903 a 1909, lecionou na Biblioteca Nacional de Lisboa,
cujas prelecções foram publicadas, em 1911, na obra Lições de Filologia. Nesse
cenário filológico em Portugal, insere-se a vinda de Carolina Michaelis de
Vasconcelos. É preciso não relacioná-la com José Leite Vasconcelos, com o qual
não tem qualquer relação de parentesco. O sobrenome de nossa autora, como é
sobejamente sabido, lhe adveio de seu casamento com Joaquim António da Fonseca
Vasconcelos, musicólogo e historiador de arte, em 1876, adquirindo a cidadania
portuguesa e passando a morar na cidade do Porto. Nascida e criada em ambiente
favorável, teve o exemplo do pai, o Gustav Michaelis, professor de
matemática e dedicado aos estudos da ortografia e da estenografia, era muito
bem relacionado com os meios científicos e institucionais da Prússia; foi
também, de 1855 a 1889, director do Gabinete de Estenografia da Câmara dos
Pares do Reino. Entre os cinco irmãos de Carolina, destacaram-se Karl Theodor
Michaelis, pedagogo, que exerceu altos cargos na administração escolar de
Berlim no tempo do Império; e Henriette Michaelis, lexicógrafa e autora dos
dois volumes do Dicionário Alemão-Português e Português Alemão, ainda hoje
valiosos e acessíveis. Carolina completou os cursos básicos na Luisenschule dos
sete aos dezesseis anos; estimulada pelo professor Carl Goldbeck, da mesma
escola, a quem muito interessavam os estudos hispânicos, dedicou-se a eles com
afinco». In Bruno Fregni Bassetto, Breves
considerações sobre Lições de Filologia Portuguesa de Carolina Michaëlis de
Vasconcelos, Núcleo de apoio à pesquisa em Etimologia e História da Língua
Portuguesa (NEHiLP) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
Universidade de São Paulo (USP) São Paulo, 2015, ISBN 978-857-506-249-4.
Cortesia de NEHILP/JDACT
JDACT, Bruno Fregni Bassetto, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Filologia, Cultura, Conhecimento,