Tempos de Boa Memória (1383-1433)
Principais
cidades e vilas
«Os besteiros provinham da gente
dos ofícios mecânicos, sapateiros, ferreiros, alfaiates, que maioritariamente
laboravam nos centros urbanos. Assim sendo, o rol dos besteiros de 1421,
publicado nas Ordenações Afonsinas, permite assinalar no mapa os principais povoados,
o mesmo é dizer. permite-nos medir a força do povo miúdo, meão e melhor, isto é
dos burgueses ou homens dos burgos. O rol tem servido também para calcular o
número de portugueses. Seriam um milhão ou mais.
Apuraram-se 4906 besteiros, assim
distribuídos: Alentejo 1700, Estremadura 1179,Beira 1077, Entre Douro e Minho 550,
Trás-os-Montes 400. Comparando estes números com os 1000 besteiros ordenados
pelas Cortes de Guadalajara de 1390 ou os 8000 do reino de França, infere-se
que Portugal não descurava os perigos que vinham de Castela nem os riscos que
vinham da política do Mar. As preocupações com a segurança levaram João I a
criar, em 1392, um corpo de elite, os besteiros de cavalo.
Os números evidenciam o povoamento
disperso característico do Norte, em particular da região de Entre Douro e
Minho, e o povoamento agrupado do Sul. Indicam também que os lugares mais
povoados se situavam na Estremadura, no Alentejo e no Algarve.
Por ordem decrescente e até 30
besteiros, as localidades ordenavam-se do seguinte modo: Lisboa 300, Évora 100,
Coimbra 100, Santarém 100, Guimarães 100. Eram os principais centros urbanos do
reino: um em Entre Douro e Minho, outro no Alentejo e três na Estremadura. mas
Lisboa vinha muito à frente.
Num segundo patamar, ficavam
Elvas 80, Beja 80, Setúbal 65, Torres Vedras 62, Almada 60, Braga 50,
Guarda,50. O Porto, burgo por excelência, vivia do comércio marítimo, da pesca
e da construção naval, mas só participava com 40 besteiros, ao lado de Olivença
40, Estremoz 40,Leiria 40, Tomar 40, Mértola 40.
No último patamar ficavam
Valelhas 39, Faria e Rates 33, Pena Maior 32, Alcácer 30. Silves 30, Faro 30, Tavira
30, Serpa 30, Portalegre 30, Avis 30, Vila Viçosa 30, Monsaraz 34,
Montemor-o-Novo 30, Abrantes e Punhete 30, Montemor-o-Velho 30, Ponte de
Lima 30, Vila Real 30, Terra de Chaves 30, Bragança 30, Pinhel 30, Covilhã 30,
Viseu 30. Lafões 30, Castelo Branco 30.
Como comarca, o Alentejo vinha
muito à frente: 1700 besteiros contra 1179 da Estremadura onde se situavam três
dos centros urbanos mais populosos. Nalgumas províncias, as cidades e vilas eram
ilhas num mar de ruralidade, dominado pela fidalguia e os senhores eclesiásticos.
Os campos
A massa da população dedicava-se
à agricultura e à criação de gado. Havia grandes diferenças entre o Norte, o
Centro e o Sul. Nas Cortes de Lisboa de 1427, dizia-se que em Entre Douro e
Minho e na Beira não haveria cavões e jornaleiros por dinheiro. Tal não
significava que não existissem, desde há muito, cabaneiros, homens que viviam
do trabalho braçal, em boa parte pago em géneros, e que não tinham mais que uma
cabana. Significava que aí era predominante a economia assente em casais, adubados
com o suor familiar e exauridos pela renda feudal». In António Borges Coelho, Largada
das Naus, História de Portugal, 1385-1500, Editorial Caminho, 2011, ISBN
978-972-212-464-5.
JDACT, António Borges Coelho, Ceuta, Cultura e Conhecimento, História, Descobrimentos,