«As coisas têm aquecido
ultimamente, não só as temperaturas globais, mas também o próprio debate em torno
das alterações climáticas. Nos últimos anos, a discussão evoluiu de será que o
aquecimento global é real?, para as quais as causas e o que poderemos fazer para
o evitar? A verdade é que os antigos cépticos se viram obrigados a reconhecer que
o planeta está a mudar, seja pelo degelo de glaciares por toda a parte, pelo desaparecimento
acelerado da placa de gelo da Gronelândia ou pela subida progressiva das temperaturas
dos oceanos. O próprio clima tornou-se mais extremo, com períodos de seca persistentes
e inundações maciças. Tal como foi anunciado em Fevereiro de 2016, o território
do Alasca registou o segundo Inverno mais quente de sempre, tendo-se verificado
valores na ordem dos 12 graus Celsius acima da temperatura média habitual. Em Maio
do mesmo ano, medições via satélite deram conta de uma diminuição do gelo ártico
para novos níveis mínimos. Porém, a questão mais assustadora, é esta: para onde
estamos a caminhar? Pouco discutida, a resposta é surpreendente, embora baseada
em dados concretos e científicos. Mais chocante, ainda, já aconteceu no passado.
Cépticos ou crentes, estarmos avisados significa estarmos preparados para o que
aí vem. Está na altura de conhecer a verdade assombrosa sobre o futuro do nosso
planeta.
Primavera,
1324 a.C.
Deserto da Núbia, sul do Egipto
A alta sacerdotisa ajoelhou-se nua
na areia e soube que o momento havia chegado. Os presságios tinham-se acumulado,
cada vez mais prementes, tornando-se uma certeza. A oeste, levantou-se uma tempestade
de areia em direcção ao sol, transformando o céu azul num manto negro empoeirado,
entrecortado pelo clarão de relâmpagos. O inimigo encontrava-se cada vez mais perto.
Em preparação, Sabah rapara todos os pelos do corpo, incluindo as sobrancelhas por
cima dos olhos pintados. Banhara-se nas águas à esquerda e à direita, dois afluentes
que saíam do deserto profundo e corriam para norte, para depois se juntarem nessa
sagrada confluência que dava origem ao poderoso rio a que os antigos reis dos heqa
khasewet chamavam Nahal. Imaginou o seu curso sinuoso que banhava as cidades
de Luxor, Tebas e Mênfis, a caminho do grande mar azul que se estendia para lá das
terras férteis do delta. Apesar de nunca ter visto a região com os próprios olhos,
ouvira histórias.
Essas eram as terras que os antepassados
de Sabah tinham abandonado há mais de um século, para escaparem ao período das
pragas, fome e morte, acossados por um faraó entretanto desaparecido. À maioria
das outras tribos do delta procurara refúgio nos desertos a leste, conquistando
essas terras e erguendo um reino que fosse deles, mas o povo de Sabah vivera numa
área mais a sul ao longo do rio, perto de Djeba, no distrito egípcio de Wetjes-Hor,
conhecido como o Trono de Hórus. Durante o período das trevas e morte, a tribo cortara
as raízes que os ligavam àquele lugar, fugindo rio acima, para lá dos domínios do
reino egípcio, rumo ao deserto núbio. Eram uma tribo de estudiosos, escribas, sacerdotes
e sacerdotisas, guardiões de grande conhecimento. Tinham-se refugiado na vastidão
do deserto com o propósito de protegerem esse saber durante os tempos turbulentos
que se seguiram às pragas, quando o Egipto fora invadido por um inimigo a leste,
um povo de guerreiros com bigas velozes e armas de bronze superiores, que logo conquistaram
as cidades egípcias enfraquecidas, quase sem disparar uma única flecha». In
James Rollins, A Sétima Praga, 2016, Bertrand Editora, 2017, ISBN
978-972-253-415-4.
Cortesia de BertrandE/JDACT