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Urbanismo: o Contexto Europeu
«(…) Horta Correia define do seguinte modo o urbanismo barroco:
Não há um único urbanismo barroco, mas várias formas, por vezes convergentes, de desenho urbano na época barroca que tão-só por necessidade de sistematização e síntese, convencionaremos associarem-se em duas grandes famílias de cidades: As que alguma coisa devem ao barroco romano, tal como se concretizou urbanisticamente entre o plano ordenador de Sisto V e a conclusão da Roma berniniana e onde avultam o efeito de surpresa, um novo uso da perspectiva, a transferência para o urbanismo de valores até então especificamente arquitectónicos e uma vivencialidade teatralizada do efémero, da festa e da própria arquitectura. As que alguma coisa devem, por genealogia das formas, às cidades ideais do Renascimento em qualquer das suas vertentes radioconcêntricas ou ortogonais, despidas agora de conteúdo ideológico mas mantidos os seus princípios no planeamento de cidades cortesãs, ou os seus modelos nas cidades fortalezas da Europa ou nas cidades de expansão urbana do Novo Mundo.
É neste último grupo que o autor encaixa o urbanismo barroco de tradição portuguesa.
Os exemplos, vagamente enumerados nos parágrafos anteriores têm, morfologicamente falando, raízes várias, mas podem agrupar-se nas duas categorias fundamentais que propõe Horta Correia. A primeira pode encontrar-se naqueles traçados que privilegiam os eixos e as referências visuais. Traçados diversificados, baseados em figuras geométricas, em cruzamentos de eixos e perspectivas, que tiveram nos jardins um campo de aplicação muito fértil. Experiência precoce deste tipo de urbanismo, que se irá desenvolver sobretudo nos séculos XVII e XVIII, com a França na primeira linha, são as reformas ocorridas em Roma durante o pontificado de Sisto V (1585-1590), com especial relevo para o tridente da Piazza del Popolo. Este urbanismo barroco, de carácter cenográfico e que submete a arquitectura ao traçado urbano, está profundamente ligado aos monarcas absolutos, sendo os seus produtos mais acabados as residências reais (Richelieu e, mais tarde, Versalhes) e as praças abertas para albergar estátuas equestres, homenageando o rei (Praça Vendôme). Contudo, a pouco e pouco, e sob influência das Luzes, outros programas, civis, vão sendo também executados. A segunda consiste na longa tradição, nascida no período renascentista, da cidade ideal, inspirada em modelos vitruvianos. A partir do século XVI, e no campo do urbanismo, muitas experiências foram beber às influências clássicas, reciclando os ensinamentos de Vitruvio. Vários teóricos, sobretudo ligados à arquitectura militar (Giorgio Martini, Cattaneo, Scamozzi…), aplicaram as suas premissas de firmitas, utilitas e venustas numa busca pela cidade ideal, em propostas ligadas a aspectos defensivos. Numa Europa com o tecido urbano consolidado, as oportunidades para pôr em prática estas ideias escasseiam. Palmanuova, datada de 1593, foi um dos poucos exemplos realmente construídos. É centrada numa praça hexagonal e limitada por um sistema abaluartado. Uma componente importante dos vários projectos teóricos desenvolvidos em torno da cidade ideal é a presença de uma multitude de praças, que contribuiriam para o desafogo e para o embelezamento das povoações, ao mesmo tempo que se especializariam em funções da vida pública. Chueca Goitia filia na teoria renascentista da cidade ideal, nomeadamente de Scamozzi, as cidades de Grammichele e Avola (erguidas após o terramoto de 1693 na Sicília).
Arquitectura e Urbanismo: o
contexto Português
Quanto a Portugal, o país afastou-se irreversivelmente das influências espanholas, sobretudo a partir da Restauração, e exibe uma crescente vontade de ser parte integrante da Europa, fugindo do isolamento forçado da época filipina. O interesse pelas línguas e literaturas francesa, inglesa e italiana dilata-se a partir do final da centúria de Seiscentos. A acompanhar tal tendência o barroco (tardiamente surgido) vai sendo substituído por obras de inspiração neoclássica de influência francesa ou italiana. Aliás, muita da produção artística, e sobretudo arquitectónica, do período joanino é fruto da produção de artistas estrangeiros, atraídos ao nosso país pela oportunidade de servir um monarca e um regime sedentos de fausto e com uma situação económica bastante confortável. A crise da Restauração havia recuado e Portugal estava disposto a recuperar o tempo perdido. Este interesse por acompanhar as tendências exteriores levou também à encomenda de numerosos elementos gráficos, como gravuras, desenhos, maquetes. Os novos gostos de feição neoclássica foram impulsionados por diversos factores: os alunos enviados a Roma, (que faziam os seus estudos na Academia Portuguesa das Artes, instalada no Palácio Cimarra) e que lá acompanharam a mesma tendência, e as várias instituições que prestavam serviços na área do ensino artístico, como a Casa do Risco (com o seu papel preponderante na reconstrução de Lisboa), o Colégio Real dos Nobres, a Real Fábrica das Sedas, a Imprensa Régia e a Casa Pia». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.
Cortesia de FCTUC/JDACT
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