Descemos em silêncio outra vez.
Quando estávamos na lavandaria, Tanneke disse: Você vai lavar toda a roupa da
casa, e apontou um monte de roupas muito mal lavadas. Eu ia trabalhar bastante
para colocar o serviço em dia. A cozinha tem uma cisterna, mas é melhor você
pegar água no canal, que é bem limpa nesta parte da cidade. Tanneke, você fazia
tudo isso sozinha? Cozinhar, limpar e lavar para a casa toda?, perguntei,
baixinho. Escolhi as palavras certas. Tudo, além de algumas compras Tanneke
estava orgulhosa da própria competência. Claro que a jovem patroa faz a maior
parte das compras, a não ser carne e peixe quando está carregando um filho. O
que acontece com frequência, acrescentou ela, num sussurro. Você terá de ir ao
Mercado de Carne e às barracas de peixe também. É outra das suas tarefas. Dito
o quê, ela me deixou com a roupa para lavar.Contando comigo, havia dez pessoas
na casa, uma delas um bebê que deveria sujar mais roupas que todos os demais.
Eu teria de lavar roupa todos os dias, minhas mãos ficariam rachadas e ásperas
com o sabão e a água; meu rosto, vermelho por causa do vapor das roupas na
fervura, minhas costas doídas de carregar roupa molhada, e meus braços
queimados pelo ferro. Mas eu era jovem e nova na casa, esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.e meus braços
queimados pelo ferro. Mas eu era jovem e nova na casa, esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.e meus braços
queimados pelo ferro. Mas eu era jovem e nova na casa, esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.esperava-se que fizesse
o trabalho mais árduo.
As roupas precisavam ficar de
molho um dia antes de serem lavadas. Na mesma despensa que levava ao porão,
encontrei dois baldes de estanho e uma chaleira de cobre. Peguei os baldes e
percorri o longo corredor até à porta da frente. As meninas estavam sentadas no
banco. Lisbeth soprava as bolhas de sabão enquanto Maertge dava pão amolecido
no leite para o bebé Johannes. Cornélia e Aley discorriam atrás das bolhas.
Quando apareci, elas ficaram paradas me olhando, à espera. Você é a nova criada,
declarou a menina ruiva. Sim, Cornélia. Cornélia pegou um seixo e jogou do
outro lado da rua, no canal. Estava com o braço todo arranhado, deveria ter
perseguido o gato da casa. Onde vai dormir?, perguntou Maertge, enxugando os
dedos redondinhos no avental. No porão. Nós gostamos do porão, disse Cornélia. Vamos
brincar lá agora! Ela entrou, mas não foi longe.Como ninguém a acompanhou,
voltou e ficou emburrada.
Aley dis, chamei,
estendendo a mão para a caçula. Pode-me mostrar como pegar a água do canal? Ela
segurou minha mão e me olhou. Seus olhos eram como duas moedas cinzentas e
brilhantes. Atravessamos a rua, com Cornélia e Lisbeth atrás. Aley dis me levou
até uma escada que descia para o canal. Descemos e apertei a mão dela, como fiz
anos antes com Frans e Agnes sempre que ficávamos perto de água. Não pise na água,
avisei Aley dis, que, obediente, deu um passo atrás. Mas Cornélia estava bem
nas minhas costas quando carreguei os baldes na escada. Cornélia, ajuda-me a
carregar a água? Senão, fique com suas irmãs. Ela me olhou e fez o pior: se
tivesse ficado brava ou gritado, eu saberia como controlá-la. Mas caçoou». In Tracy Chevalier, Moça com Brinco de Pérola, 1999, Bertrand Brasil, 2002, ISBN 978-852-860-957-8.
Cortesia de BertrandB/JDACT