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Introdução à leitura da Década Quarta de Diogo do Couto.
«Pelo tempo em que D. Sebastião tomou posse do Governo, decidiu Couto, entendendo que a sua folha de serviço, era já bastante eloquente, tornar ao reino «a requerer o prémio dos seus trabalhos», como diz Severim. Para isso embarcou na Índia em princípios de 1569, na armada em que vinha de regresso o vice-rei D. Antão de Noronha. Todas as naus, excepto uma que não conseguiu tomar terra, e seguiu directamente para Lisboa onde chegou na força da peste negra, arribaram à ilha de Moçambique. Antes de chegarem às alturas de Angoche, falecera o .vice-rei, que Couto estimava, até porque era muito amigo de «dar mesas» e ele, Couto, achava isso muito bem, e nelas participava com frequência e gosto.
Cortesia de topatudo
Em Moçambique, teria encontrado Luís de Camões, «tão pobre que comia de amigos». Estava o poeta a aperfeiçoar os Lusíadas e a organizar uma colectânea de poesias líricas. Segundo Severim e a versão Porto/Madrid da Década 8, e outros que provavelmente bebem nestas fontes, Camões teria pedido a Couto, cujo conselho seguia muitas vezes, que escrevesse um comentário do poema. Couto teria acedido, e teria levado o seu trabalho até certa altura do canto V. «Outros impedimentos» tê-lo-iam impedido de ir mais longe. Porém, nem por isso deixavam de ser «muito estimados» aqueles «fragmentos». Severim precisa que, na altura em que escreve (por 1623), o «volume original» dos «fragmentos» se encontra em poder de D. Fernando de Castro, que o houvera de D. Fernando de Castro Pereira, a quem, por particular amizade, Diogo do Couto enviara o manuscrito inacabado.
Cortesia deinfopedia
Na versão primeiro impressa da Década 8 escreve Couto que chegou a Cascais em Abril de 1570, a bordo da nau Santa Clara. Desembarcou com o correio da Índia, estava a corte em Almeirim. Aqui aguardou audiência nada menos que do rei D. Sebastião. Por suas palavras: «em Almeirim o esperei, aonde veio ter daí a dois dias, e de mim soube tudo o que quis».
Dos seus próprios assuntos, escrevera Couto, enquanto cronista, que foi «bem despachado», mas sem especificar que despachos obteve. Não lhe abriram no reino as portas do futuro: logo na armada seguinte voltou a embarcar para a Índia. Este rápido regresso merece ser ponderado em função de certos passos e queixas amargas. De Camões traz a Década 8 que morreu «em pura pobreza». No segundo diálogo diz o Soldado Prático que quem conseguiu ir a Portugal a despacho, «ou será forçado morrer de fome neste reino, ou deixar tudo e tornar-se para a Índia, sem ser respondido». Não se aplicará a alternativa, respectivamente, ao próprio poeta e ao próprio Couto?» In Diogo do Couto, Década Quarta da Ásia, volume I, coordenação de M. Augusta Lima Cruz, Fundação Oriente, 1999, ISBN 972-27-0876-7.
http://www.angelus-novus.com/admin/livros/uploads/soldado_pratico_E.pdf
Cortesia da Fundação Oriente/JDACT