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Criação do Bispado
D. João III, para engrandecimento do reino e da igreja, cria três dioceses: Leiria, Miranda do Douro e Portalegre.
A princípio, a «Santa Sé» levantou alguma oposição à criação da diocese de Portalegre, sobretudo por não serem explícitos os rendimentos da futura Sé, pela não aceitação, pela Cúria Romana, do direito de apresentação do rei e pela falta de igreja catedral.
O rei garante que a Vila de Portalegre é lugar «nobre» e de grande população, com igrejas, clero e mosteiros, e de gente honrada, terra abastada, sugerindo, ao mesmo tempo, que, com facilidade, se poderia anexar igrejas paroquiais à futura catedral.
A vontade de D. João III, os esforços do embaixador em Roma, o esclarecimento das dúvidas da Santa Sé, no referente aos rendimentos e escolha da igreja para Sé foram ultrapassadas. Paulo III promulga as Bulas da criação da Diocese e aceitação de D. Julião de Alva, Prelado de origem espanhola, confessor da rainha, para primeiro Bispo de Portalegre, em 21 de Agosto de 1549.
O Papa enumera algumas razões que justificam esta criação, repetindo os «argumentos» apresentados pelo rei «Piedoso»:
- Cidade notável e opulenta pela fertilidade dos seus campos, pela nobreza, afluência do clero e do povo, com diversas igrejas paroquiais e vários mosteiros de ambos os sexos, merecendo «decorar-se» com o nome, título e prerrogativa de cidade e dar a um dos templos o nome e título de catedral.
Motivos externos também ajudaram:
- D. Jorge de Melo, bispo da Guarda, aonde nunca se deslocou, não se opunha, apesar da divisão da sua diocese, território extenso.
Falecido Paulo III, sucede-lhe Júlio III que encarrega os Bispos de Angra e de São Tomé, Abril de 1550, de executarem as Bulas da criação da diocese de Portalegre e escolha da igreja para catedral, já publicadas, aceitando D. Julião de Alva como primeiro bispo.
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Santa Maria do Castelo-Sé «velha»
Logo que Portalegre se foi organizando como povoação, a Praça da Vila, ligada ao adro da igreja de Santa Maria do Castelo, tomou lugar preponderante. Estes dois espaços contíguos, cada qual com o seu objectivo e funcionalidade, tornaram-se o «centro», medieval da Vila. Aqui se concentra a sociedade mais «qualificada» e se estabelece o lugar de culto mais importante da terra. Daqui se expandem, em leque, as ruas para as principais portas. As testemunhas chamadas pelos executores da Bula papal, entre os quais estavam os confessores da rainha, do bispo e dois nobres portalegrenses, escolheram a igreja de Santa Maria do Castelo para Sé, por se situar no lugar mais acessível e central, onde viviam as pessoas mais «honradas» e por ser a igreja de Portalegre, na altura, de maior prestígio.
Aduzem razões económicas, sociais, religiosas e geográficas e justificam a anexação das freguesias de Santa Maria a Grande e de São Vicente, porquanto, todas juntas, fariam uma freguesia mais redonda e aconchegada. Satisfazendo as Cartas do Rei, os bispos de Angra e de são Tomé passaram à execução, confirmando os pareceres das testemunhas. É pertinente lembrar o lugar assinalado que esta igreja teve, dentro da diocese da Guarda, à qual pertencia. Em 1304, na divisão de Portalegre, em nove freguesias, a paróquia de Santa Maria do Castelo pagava o maior contributo à diocese da Guarda, confirmado, em 1321.
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Situada junto às muralhas, esta igreja foi ponto de referência importante na terra, tal como o castelo. Do seu adro partia a rua que tinha o nome de Santa Maria do Castelo, hoje, rua da Sé.
Um esboço do seu «rosto»
A igreja de Santa Maria do Castelo, na altura da criação da diocese, engrandecida com o nome de Sé, não seria grande, estava velha, internamente com alguns altares e, externamente, com torre sineira. Em Dezembro de 1550, D. Julião de Alva, numa visitação, denunciava a falta de «decoro» do baptistério, a insegurança dos haveres da igreja, um estado de «pobreza» e degradação tal que o prelado urgia obras de restauro e limpeza que não tiveram efeito imediato. Na visitação, por outro lado, ordena que os fregueses da igreja mandassem fazer bancos para que «se assentem aos tempos» e procura disciplinar e dar funcionabilidade ao espaço litúrgico.
No entanto, já existiam muitas alfaias e peças de culto que os inventários notificam e que deram origem aos «bens» do futuro tesouro da Sé, a partir desta Sé «velha». In José Heitor Patrão, Catedral de Portalegre, Guia de Visitação, Edições Colibri 2000, ISBN 972-772-139-7.
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