terça-feira, 24 de maio de 2011

A Bela Poesia: Camilo Pessanha. «A sete chaves, a carta encantada! E um lenço bordado... Esse hei-de o levar, que é para o molhar na água salgada no dia em que enfim deixar de chorar»

Cortesia de rbeminedu 
Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:
no teu olhar sem cor, frio escalpelo,
o meu olhar quebrei, a debatê-lo,
como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
e minha obsessão! Para bebê-lo
fui teu lábio oscultar, num pesadelo,
por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
esfriou sobre mármore correcto
desse entreaberto lábio gelado:

Desse lábio de mármore, discreto,
severo como um túmulo fechado,
sereno como um pélago quieto.
Camilo Pessanha

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