quarta-feira, 4 de maio de 2011

Valentim Fernandes: «Como impressor, foi das primeiras pessoas a exercer essa actividade em Portugal, tendo imprimido 8 dos 28 livros que foram publicados antes de 1500. A primeira obra que imprimiu em Portugal, em conjunto com Nicolau da Saxónia, foi a Vita Christi, de Ludolfo da Saxónia»

(14??-1518 ou 1519)
Morávia
Cortesia de wikipedia 

Valentim Fernandes, o Alemão, nascido na Morávia, veio da Alemanha em meados de 1495. Permaneceu no nosso país até à sua morte que ocorreu muito provavelmente em 1518. Da sua vivência em Portugal, nesta transição do século XV para o XVI, destacamos três facetas:
  • o representante dos alemães em Portugal,
  • o impressor, 
  • o divulgador, para a Alemanha, de novidades relativas aos descobrimentos portugueses.
Os negócios e as viagens marítimas atraíam a Portugal muitos estrangeiros, tendo alguns deles decidido fixar‑se definitivamente em Lisboa. Foi este o caso de Valentim Fernandes. Estando perfeitamente adaptado à vida portuguesa não é de estranhar que tenha sido nomeado, em 1503, por D. Manuel I, notário dos comerciantes alemães em Lisboa. Esta função fez dele uma pessoa muito bem relacionada junto do poder, o que lhe facilitava a obtenção de informações sobre os mais recentes desenvolvimentos que a expansão portuguesa ia conhecendo. Essa sua importância pode ser notada no facto de privar com as grandes figuras do reino, nomeadamente a Rainha Velha, D. Leonor de Lencastre.

Cortesia de wikipedia 
Como impressor, Valentim Fernandes merece também um destaque especial. Foi das primeiras pessoas a exercer essa actividade em Portugal, tendo imprimido oito dos vinte e oito livros que foram publicados em Portugal antes de 1500. Na primeira década do século XVI foram impressos dezassete livros, sendo mais de metade deles, nove, publicados pelo impressor alemão. A primeira obra que imprimiu em Portugal, em conjunto com Nicolau da Saxónia, foi a Vita Christi, de Ludolfo da Saxónia.
A sua actividade como impressor não se limitava à cópia de manuscritos já existentes em português. Efectuou a tradução para a nossa língua de diversos textos antes de os levar à estampa. Entre estes destacam‑se alguns capítulos que acrescentou ao Livro de Marco Paulo, o Livro de Nicolao Veneto, a Carta de Jerónimo de Santo Estevam e o Repertório dos Tempos. Algumas destas obras espelham o seu interesse na divulgação de informações sobre terras distante.

Cortesia de wikipedia
Assume assim uma particular importância o seu papel como divulgador, junto de humanistas da sua terra natal, de informações referentes a estes novos mundos. Valentim Fernandes enviava regularmente para a Alemanha correspondência onde relatava o modo como iam decorrendo essas actividades. Entre os destinatários dessas missivas encontrava‑se o Dr. Conrado Peutinguer, banqueiro e agente político de Carlos V. Curiosamente, embora Valentim Fernandes exercesse o ofício de impressor, a maioria dessas informações ficou na forma manuscrita. As epístolas por ele enviadas foram reunidas num volume que actualmente se encontra em Munique, tendo sido posteriormente publicadas sob o título Manuscrito de Valentim Fernandes. O documento, bem como outros textos por ele impressos ou traduzidos oferecem‑nos um manancial de informações fundamentais para quem pretenda estudar a História da Cultura Portuguesa e a História das Navegações. Ele não se limitou a traduzir, transcrever ou redigir, a partir de informações de navegantes, textos onde apresentava essas novas realidades que iam sendo descobertas.

Cortesia de wikipedia 
Nota‑se uma preocupação constante para não incluir informação supérflua, que não forneça novidades sobre esses novos mundos e o cuidado de, em relação a uma determinada região, expor o maior número de dados possível. A sua versão da Crónica da Guiné de Zurara que incluiu na obra que designamos por Manuscrito de Valentim Fernandes pode ser considerada como uma reescrita do texto do cronista do Infante, pois Fernandes retirou as características tipicamente cronísticas. Por outro lado, na tradução e edição do Livro de Marco Paulo, ao qual acrescentou capítulos retirados de outros textos, preocupou‑se em pedir aos marinheiros portugueses que se dirigem para as terras descritas naquele livro que actualizassem as informações com a sua experiência pessoal». In António Costa Canas, Instituto Camões

Cortesia do Instituto Camões/JDACT