terça-feira, 25 de outubro de 2011

António Nobre. Poesia. Só: «A Lua! Ela não tarda aí, espera! O mágico poder que ela possui! Sobre as sementes, sobre o oceano, impera, sobre as mulheres grávidas influi...»

Cortesia de macroscopio

Da influência da Lua
Outono. O Sol, qual brigue em chamas, morre
nos longes de água... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
e os bardos, a cismar, molham a pena!

Ao longe, os rios de águas prateadas,
por entre os verdes canaviais, esguios,
são como estradas líquidas, e as estradas,
ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos,
o xale pedem a quem vai passando...
E nos seus leitos nupciais, os ninhos,
as lavandiscas noivas piando, piando!

O orvalho cai do céu, como um ungento.
Abrem as bocas, aparando-o, os goivos;
e a laranjeira, aos repelões do vento,
deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cai... E, à falta de água, rega
o vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o padre-oceano, lá de longe, prega
o seu sermão de lágrimas à Lua!

A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui!
Sobre as sementes, sobre o oceano, impera,
sobre as mulheres grávidas influi...

Ai os meus nervos, quando a Lua é cheia!
Da arte novas concepções descubro,
tudo me aflijo, fazem lá ideia!
Ai a ascensão da Lua, pelo Outubro!

Tardes de Outubro! Ó tardes de novena!
Outono! Mês de Maio, na lareira!
Tardes...
Lá vem a Lua, gratiae plena,
do convento dos céus, a eterna freira!
António Nobre, in «», Porto 1886

Cortesia de pnbrevitas

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