sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Aurélio de Oliveira. Cartas de Etiópia. «A este respeito, vendo as muitas necessidades que padeciam, escreveram por vezes a S.M. que lhes acudisse mandandolhes navios Em que pudessem vir para a India, aonde podiam povoar Ceilam ou qualquer outra terra E ajudar na Conquista como muito bons soldados que os mais delles sam»

Cortesia de livrariaai

NOTA: De acordo com o texto original
«No tempo d'el Rey Malac Çagued deu elle aos Portuguezes as terras ou serras de Namira Em que sam fronteiras aos Agaos, quaüo ou sinco legoas da fonte do Nilo. Estas terras posto que montuozas Eram assaz ferteis. E, nellas estiveram os nossos bem accommodados posto que em continuos assaltos: E foram grandissimas as vitorias que aqui alcançaram aos Agaos Especialmente sendo Capitão Jorge Nogueira que foj hum dos mais Esforçados E bem affortunados que houve em Ethiopia. Porém, despois que a custa de muito sangue seu que derramaram, foram aqui os Portuguezes Estendendo estas terras de sua Comedia. Foj logo tal a inveja dos Abexins que lhas fizeram tirar E apresentaram-nos En Danbia ao pee dos montes do Daneas, terras entan bravias E cheas de mato E espinhos.

Romperam-nas os Portuguezes E cultivaram-nas com muito trabalho, mas não lhes duraram muito. Logo houve muitos que as apeteceram, (e) os fezeram arrancar daquelle lugar.


Cortesia de livrariaai e aii.it

Deixo de contar outras muitas partes para que foram mudados. E o peor de tudo he que para se assinarem estas terras e Comedias manda o Emperador que apareçam os soldados com suas armas E se faça resenha do bando no qual contando aos soldados que podem tomar armas E servir na guerra, para estes somente manda dar terras E ficam muitos velhos, muitas mínimas E minimos orfãos E muitas viuvas aos quaes se não dá nada. Os Portuguezes Então como bons Christãos sam forçados a repartir com toda esta multidam de gente das terras que se dam so para a gente de guerra; E, ficam todos muito faltos.

A este respeito, vendo as muitas necessidades que padeciam, escreveram por vezes a S.M. que lhes acudisse mandandolhes navios Em que pudessem vir para a India, aonde podiam povoar Ceilam ou qualquer outra terra E ajudar na Conquista como muito bons soldados que os mais delles sam.

Não deffiriram a Esta petiçam posto que muita iusta, o Serenissimo Rej de Portugal havendo consideração a quem Em tam remotas partes Estendera E conservarva a Naçam Portugueza e fazia com tanto intento de Sua divina providencia. E por ventura Eram os da Reduçam do Imperio Abexim a Nosa Santa Fee catholica que por este meio pretendia levar ao Cabo. E posto que de tam bons vassalllos se pudiam inda Esperar grandes serviços, quizeram os Reis de Portugal privarse delles antes ajuntaram novas despezas de Sua Real fazenda asinando para estes filhos dos Portuguezes d'Ethiopia cada anno mil pardaos de mamudes nos rendimentos da Alfandega de Dio, acudindo desta maneira a suas necessidades E ordenando que fossem da India mandados Religiozos da Nossa Companhia que os fosse conservando na Santa Fee E juntamente a fossem pregando aos Abexins prometendo-se daquella pequena faísca hum incendio tan grande que alumiasse com a luz da Fee E abrazasse com o fogo do amor de Deos aquelle tan Estendido E errado imperio Abexim». In Aurélio de Oliveira, Cartas de Etiópia, Câmara Municipal de Vila Verde, edição Livraria AI, 1999, ISBN 972-571-446-6.

Cortesia da CM de Vila Verde/JDACT