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O político. Na Câmara dos Deputados
«As esperanças depositadas nas eleições de 1878 dissiparam-se parcialmente. A nível nacional a vitória pertenceu ao Partido Regenerador - Fontes Pereira de Melo era de novo chefe do governo - mas o Partido Progressista registou avanços substanciais no Alto Alentejo. No círculo de Portalegre, Frederico Laranjo triunfou com mais de 2000 votos de vantagem, vencendo em Castelo de Vide, Marvão e Portalegre, e só perdendo em Arronches. As áreas de influência sua, de Diogo da Fonseca e de Luís Xavier eram nítidas.
No entanto, o novo executivo não terá vida longa. No Parlamento levantam-se incómodas discussões em redor de questões candentes como a concessão da Zambézia. A Câmara dos Pares hostilizava o governo, que foi substancialmente enfraquecido com as demissões dos ministros Barjona de Freitas, Andrade Corvo, António Lourenço de Carvalho e Couto Monteiro. A sobrevivência do executivo estava comprometida, acabando por se demitir a 1 de Junho de 1879. Era tempo de os progressistas assumirem o poder. Naquele mesmo dia tomava posse um novo elenco ministerial chefiado por Anselmo José Braancamp, com José Luciano de Castro (Reino), Adriano de Abreu Cardoso Machado (Justiça), Barros Gomes (Fazenda), João Crisóstomo (Guerra), marquês de Sabugosa (Marinha e Ultramar) e Saraiva de Carvalho (Obras Públicas).
Frederico Laranjo assumira, entretanto, o seu lugar no Parlamento. Entrara na «cova dos leões», como lhe chamou António Cabral. Antes de partir pata a capital, Luís Xavier de Barros Castelo Branco procurou-o e disse-lhe:
- «É provável que o Partido Progressista vá ao poder; é provável que me façam pedidos para lhe transmitir; se eu lhe fizer qualquer pedido, veja se o que peço é bom para o país, bom para o seu partido, bom para si; se for bom sob estes aspectos, faça, se puder; se não, não se apoquente, que não será por isso que me molestarei».
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Luís Xavier queria marcar a diferença. O Partido Progressista estava agora no poder. Tinha que mostrar que não era igual ao Regenerador. Façamos um breve parêntesis para abordar outra questão. Como se sabe, os partidos políticos nessa época nada tinham que ver com os partidos dos nossos dias. Não eram partidos de massas, de militantes, com estruturas nacionais. Bem pelo contrário, assentavam em uma ou duas personalidades nacionais prestigiadas, que serviam de bandeira e de programa, em redor das quais se congregavam outros notáveis, os «marechais». A nível regional e local passava-se o mesmo, eram figuras influentes quem animava os partidos, caciques de diverso matiz que arregimentavam votos e conduziam os eleitores até às urnas, como muito bem descreveram os nossos caricaturistas do século passado e o próprio Eça de Queiroz, nessas páginas inolvidáveis de “As Farpas”. Nesta região, o Partido Progressista estruturava-se, assentando para além das personalidades já referidas, num conjunto assinalável de nomes bem sonantes:
- Em Portalegre, Henrique de Sá Nogueira de Vasconcelos, Dr. Martinho de França de Azevedo Coutinho, João da Fonseca Achaioli, António Dinis Sampaio, Dr. António Joaquim Araújo Juzarte de Campos, Dr. Francisco António Rosa, Inácio Castelo Branco, o Cónego Adolfo Ernesto Mota;
- No resto do distrito, salientamos os nomes de Eusébio David Nunes da Silva, José Alfredo Menice Sardinha, António Lino Neto, António José Repenicado, António Amaro Canelas, João Magrassó, José Augusto Serra, João Rafael Mendes Dona, Joaquim de Calça e Pina...
Era também o partido com maior popularidade junto dos operários, em especial os corticeiros. O tipógrafo Leonardo Augusto, por exemplo, um dos pioneiros do movimento associativo em Portalegre, era membro do Partido Progressista e será vereador da Câmara Municipal local por aquela formação política.
No campo contrário a situação era semelhante. Ali se congregavam figuras de relevo à frente das quais estava o Vigário Geral da diocese, Dr. José d'Andrade Sequeira, máximo responsável distrital do Partido Regenerador. Outros dirigentes regeneradores dignos de registo foram os viscondes de Reguengo e dos Cidrais (este, Adolfo Juzarte Rolo, acompanhará João Franco na cisão que dará origem ao Partido Regenerador-Liberal, sendo seu dirigente distrital), o conde de Avilez, Jerónimo Sequeira, o cónego José Maria Ressurreição, e, naturalmente, os diversos governadores civis que dirigiram o distrito, com especial destaque para o Conselheiro Cândido Maria Cau da Costa.
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Os elencos dirigentes registaram algumas alterações na sua composição provocadas pela chegada de novos elementos, em especial funcionários públicos colocados quando mudava o governo, ou estudantes que terminavam os cursos, por falecimentos, mas nota-se uma certa estabilidade nos dirigentes concelhios e distritais.
Os mecanismos conducentes à designação dos candidatos a deputados, eram desencadeados pelos órgãos directivos nacionais dos partidos, que se impunham às regiões, provocando por vezes conflitos que levavam a demissões e ao aparecimento de candidatos independentes. Um caso paradigmático foi o do Conselheiro José Rebelo, que foi sucessivamente eleito deputado devido à influência que detinha na região de Gavião. As direcções partidárias acabavam por impor elementos alheios aos círculos pelos quais se apresentavam, como forma de assegurar a sua eleição. António Cabral, nas suas memórias políticas, dá-nos um bom exemplo com a sua experiência pessoal. A nível desta região, um futuro deputado do Partido Progressista e redactor do Correio da Noite, Lourenço Cayo1a, descreveu num dos seus livros de memórias o convite que José Luciano de Castro lhe dirigiu para ser candidato e a forma como foi escolhido o respectivo círculo:
- «Uma noite, o prestigioso estadista, em sua casa, chamou-me de lado e disse-me sem preâmbulos: - Como sabe, vamos ter em breve eleições de deputados. Desejava que o meu amigo fizesse parte da futura Câmara e por isso queria combinar consigo o círculo por onde há-de vir a ser proposto. Sendo há quatro anos um dos redactores políticos do Correio da Noite, o órgão da imprensa do Partido Progressista, e conhecendo há muito a estima que me dedicava o meu chefe político, a frase que acabara de lhe ouvir não me causou grande surpresa. Nem por isso, porém, ela deixou de me dar o maior prazer».
In António Ventura, José Frederico Laranjo, Colecção Estudos de História Regional, Edições Colibri, Lisboa, 1996, ISBN 972-8288-48-4.
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