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Dona Maria, Infanta de Portugal
«A trasladação foi feita no ano de 1551 e a consciência no acto é demonstrada pelo pormenor e riqueza dos relatos destes, de que tirámos as páginas que mencionam a Infanta:
- Detriminou elrrei noso Senhor, ir d’Almeirirn a Lisxboa ?ara trasladar os ossos do mui invictissirno Rei e Senhor dom Manuel, seu pai e da mui catholica Rainha, e Senhora dona Maria sua mãe [...] E para se isto fazer assi partio S. A. d’Almeirim co a Rainha nosa. Senhora, e ho principe, e ha Ifante Dona Maria, huuma quarta feira, ho derradeiro dia de Setembro [...] Começarão se as vesporas de finados mais perto das quat'oras que das tres, e durarão ate despois das seis, que estes prinçipes se recolherão a seus apousentos. E a rainha nosa senhora, e a ifante dona Maria, que com suas damas estiverão no coro ouvinda as… A Rainha e ifante dona Maria partirarn Denxobregas o rnesrno dia rnais cedo, e com pouca gente, e estauam ja em Betleem: e do moesteiro vrão aa procissam, com vestidos e toucados, conformes ao mesmo aucto que vião, e assi em tudo o mais. […] A Ifante dona Maria defronte del Rey nosso senhor.
Cerca de dois anos mais tarde, D. Gonçalo da Silveira, que ambicionava seguir o caminho da missionação em África, é escolhido para dirigir a Igreja de São Roque, casa-mãe da Companhia em Portugal. A profissão foi no dia 1 de Outubro, tendo assistido roda a corte, o arcebispo de Lisboa, Dom Fernando de Vasconcelos, nobreza e muito Povo.
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Mas a 30 de Fevereiro (??) de 1556 embarca para Goa como provincial dos Jesuítas, demonstrando o seu afã evangelizador na, remodelação de todo o programa missionário e na realização de várias missões de cristianização dos gentios, nomeadamente junto do imperador do Monomotapa, já na década de 60. Os seus esforços são de tal forma bem-sucedidos que o imperador jura a fé católica, adoptando o nome de Sebastião e sua mãe o de Maria, com o propósito de homenagear a Infanta. Este episódio demonstra a relação próxima de Gonçalo da Silveira com a família real, e, mais importante, o facto do nome da infanta D. Maria surgir associado à subordinação e aclamação do Reino de Portugal. Esta percepção de quem nascera e convivera no seio da corte é também partilhada pela população, que havia aprendido a respeitar e a ver na Infanta um membro de pleno direito da família real.
E exemplo da quase dependência dos habitantes de Lisboa pela figura da Infanta, são as reticências que colocam ao encontro na raia alentejana com a sua mãe, no ano de 1558.
A jornada realiza-se poucos meses depois da morte de D. João III e de renegociações quanto ao local e comitiva que acompanharia a Infanta ao encontro com Leonor de Áustria e Maria da Hungria, composta pelos mais altos dignatários portugueses, apesar da pompa e circunstância estar condicionada pelo luto do falecido rei:
- Partiu a Infante segunda feira pela manhã tres dias do mes de Janeiro de 1558, […] O Senhor Cardeal Infante acompanhou a Senhora Infante até Alcouchete, e foi com elle o Senhor D. Duarte seu sobrinho, e o Duque de Bragança D. Jemes e D. Constantino seus irmãos […] Os Cavalheros Castelhanos desempenharaõ a generosa grandeza de seus animos por espaço de vinte dias, que a Infanta assistio naquella Cidade [Badajoz].
A reunião das três mulheres durou cerca de vinte dias, sempre acompanhada de jogos e banquetes:
- as damas, caprichosamente vestidas de tres sedas: a de cima golpeada,e a de baixo em bordaduras, acompanhando-as rnuitos pagens e moços de esporas com suas exquisitas librés; os cavalleiros, presididos pelo deslumbrante Conde de Vimioso, de opas e roupas bordadas de perolas, collares de pedrarias, ricas espadas, e adagas esmaltadas de oiro. A Infanta vinha garbosamente montada numa mula com guarnição e andilhas de riquissirna chaparia de ouro. Do seu lado a Rainha D. Leonor montada ricamente em uma mula, tendo-se pouo antes apeado das andas […].
Antes de partir D. Maria fora obrigada a jurar que voltaria; os cronistas e estudiosos que se debruçaram sobre a vida da Infanta falam na insistência de D. Leonor e D. Maria para que a Infanta as acompanhasse a Castela, não podemos esquecer que o erário castelhano também enfrentava problemas graves, e que a própria D. Leonor podia ter vontade de manobrar as hipóteses casamenteiras da filha, mas a princesa tinha ideias bem definidas de como agir; todavia, o povo recebeu a sua benfeitora genuinamente, celebrando-se nas águas do Tejo um “Te Deum laudamus” em acção de graças pela sua lealdade». In Carla Alferes Pinto, A Infanta dona Maria de Portugal, o Mecenato de uma Princesa Renascentista, Fundação Oriente, 1998, ISBN 972-9440-90-5.
Cortesia da Fundação Oriente/JDACT