De acordo com o
original.
Morte
da Rainha Santa
(…) A seguir recita com visivel
comoção algumas orações; os olhos fecham-se lentamente, o peito deixa de arfar,
e todos os presentes, estupefactos ante aquele quadro tão emocionante,
compreendem que a alma pura da Rainha Santa, solta do seu venerável corpo,
subia aos céus a receber o premio das suas virtudes, descançando para sempre na
paz do Senhor, onde eternamente gosará a bemaventurança com que Deus premeia os
seus eleitos. É, pois, no reino celestial que a nossa Santa Protectora está
recebendo o premio das suas boas acções e dos seus constantes trabalhos. Ali,
no seio de Deus, junto da Virgem Santissima, intercede pelo seu povo, por
aqueles que a ela recorrem com a alma angustiada pelas dôres humanas, e que
jamais esquecem o seu nome para lhe tributar as homenagens do seu
reconhecimento. Essas homenagens concretizam-se no culto fervoroso de todos os
portugueses pela Santa Rainha e, mui especialmente, do povo de Coimbra que por
Ela nutre o maior respeito e a mais significativa devoção.
Trasladações
Logo que a Rainha Santa entregou
a sua alma a Deus, o primeiro cuidado da côrte foi escolher local para
depositar o corpo de tão excelsa Senhora, opinando uns para que fôsse sepultado
no Convento dos Franciscanos, em Estremoz, e outros para que fosse trasladado
para a Sé de Evora, a cidade mais proxima daquela terra. Por conselho de Elrei procurou-se
o testamento de D. Isabel e vendo-se por ele que a Rainha Santa queria ser
sepultada em Coimbra, na Igreja de Santa Clara, foi respeitada esta vontade,
dandose logo ordens para se pôr em pratica o desejo ali expresso. Apezar das
opiniões em contrario, prevaleceram as determinações de El-rei. O prestito
funebre saiu de Estremoz na tarde do dia 5 de julho e, em marchas apressadas,
chegou a Coimbra no dia 11 do mesmo mês, tendo atravessado tão longo percurso
debaixo dum sol abrazador.
As inumeras pessoas que
constituiam o prestito funebre foram tomadas de verdadeiro espanto quando, ao
3.º dia de viagem, notaram que o ataúde onde vinha o corpo de Santa Isabel
principiava de abrir algumas fendas, escorrendo por entre elas um liquido que
todos supozeram ser proveniente da decomposição do cadaver. Mas, feliz engano!
Esse liquido, longe de exalar qualquer cheiro desagradavel, antes era ameno e
consolador, espalhando no espaço um tal aroma que aqueles que a principio se sentiam
inquietos e desconfiados, logo se aproximaram do ataúde, louvando o Senhor por
esta manifestação da sua omnipotencia. Quando o cortejo chegou a Coimbra
deram-se então scenas comovedoras e lancinantes entre a população citadina.
Todos á porfia queriam beijar o ataúde onde vinha a sua Protectora, a sua
desvelada Bemfeitora, ouvindo-se choros de verdadeiro compungimento pela morte
da virtuosa Rainha, cujo passado tinha sido um manancial de graças e bondade!» In Anonymous,
Isabel d’Aragão e Rainha Santa, 2011, ISO 8859-1, Project Gutenberg Ebook,
produzido por Pedro Saborano, Coimbra, Gráfica Conimbricense, Lda, 1921.
Cortesia
de PGutenberg/Gráfica Conimbricense/JDACT