Pamplona. 22 de Novembro do ano de 1027
«(…) Lope Ferrech participava
pela primeira vez naquele compromisso anual; não pertencia à alta nobreza, por
enquanto. O pai deixara-lhe um reduzido território na serra de Leyre, não muito
extenso nem rico. Mas suficiente para poder assistir aos mesmos banquetes que
os grandes do reino, ainda que nunca dar-se com eles. Ao pai, custara-lhe uma
vida conseguir aquelas terras, agora cabia-lhe tirar proveito delas. Desmontou
ao entrar no faustoso pátio de armas do castelo e deixou a montada com o
escudeiro, um robusto homem de queixo quadrado e costas largas como as de um
urso. Fiel e obediente, tranquilo e calado, mas também feroz e sanguinário em
combate. Sozinho, acabara com quatro homens de armas na passagem de Biniés,
perto do caminho que levava a Santiago, quando sofreram uma emboscada às mãos
de foragidos. Às vezes, não era claro quem eram os piores inimigos, se os
sarracenos ou os cristãos que ansiavam por obter um saque a qualquer preço. Quem
infringia as leis de Deus só podia receber a morte como castigo. No entanto,
havia sempre deserdados e mortos de fome que ousavam atacar um senhor, por mais
que isso significasse o inferno eterno. Dirigiu-se ao pavilhão ocidental, onde
uma comitiva de músicos dava as boas-vindas aos nobres. Estavam presentes os
escudos de armas de todas as casas: leões, castelos, caldeirões e outros emblemas
que nunca vira impressionaram-no a ponto de o fazer duvidar se tinha lugar ali.
Se ele, infanção do Norte, era
digno de partilhar aposentos com tão ilustre senhorio. Lembrou-se do pai, que lutara
sem descanso para que um dia o filho estivesse ali. Sim, possivelmente era o
senhor da casa com menos terras e bens da corte do rei Sancho, o Maior.
Sim, a sua família não contava com gerações de cavaleiros. Mas fora convidado
para a recepção real por direito, ninguém lhes oferecera nada, pelo contrário.
Por mais de uma vez, o pai tivera de enfrentar senhores e também quem de senhor
pouco tivesse. E, sem outro remédio, de cruzar com eles o seu aço, pois nesta
vida são muitos os que te pisam do alto quando te veem chegar ao cimo, mas
poucos os que te empurram para cima a fim de realizares os teus sonhos.
Os feitos e esforços do
progenitor davam-lhe a possibilidade de talvez, um dia, ostentar um título
maior. Isso dependia da sua espada e, sobretudo, da astúcia. Ele não fora educado
para isso. Era o segundo filho, mais de uma vez o pai o quisera mandar para
monge. Mas Lope Ferrech não fora feito para vestir o hábito. Era teimoso como
uma mula e desde jovem que se empenhara em demonstrar à família que segurava
melhor uma espada do que um crucifixo. Herdara o título do antepassado porque o
primogénito, o irmão Antón, encontrara a morte durante uma razia dos muçulmanos
do reino de Saraqusta. Com a queda do califado, o rei de Pamplona tentou fazer
avançar a fronteira, mas nada foi conseguido, além de verter sangue cristão». In
Luis Zueco, O Castelo, 2015, Alma dos Livros, 2020, ISBN 978-989-899-914-0.
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JDACT, O Castelo, História, Século XI, Idade Média,