Cortesia de jfadabaleia
Nota Histórico-Artistica
«A igreja de São Leonardo de Atouguia da Baleia é uma das principais realizações góticas que definem o que se convencionou chamar Gótico Paroquial, um fenómeno construtivo que percorreu grande parte do país, em particular as principais localidades do litoral, durante os reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, entrando, mesmo, pelas primeiras décadas do século XV.
Com efeito, são muitas as afinidades que se podem encontrar entre estes templos, em cujo grupo se incluem igrejas como as de Santa Maria de Sintra, Santo André de Mafra, Santa Maria do Castelo de Tavira, Matrizes de Alcochete ou de Caminha, etc. São invariavelmente templos de três naves escalonadas, seccionadas por arcos formeiros apontados. A fachada principal forma uma espécie de triângulo, com corpo central a dois registos (abrindo-se, no primeiro, o portal, normalmente inscrito em gablete e, no segundo, ampla rosácea), enquanto que a cabeceira é tripartida, com capela-mor de dois tramos, o último poligonal, e absidíolos de esquema idêntico, porém de menores dimensões.
A construção do conjunto anda atribuída à transição para o século XIV e, estilisticamente, alguns autores reconhecem nela indícios de arcaísmo, em particular ao nível dos capitéis (DIAS, 1994, p.100, na linha de outros autores), embora esta apreciação mereça ser revista num século XIV bastante heterogéneo em termos decorativos. Sintoma disso mesmo é a inusitada qualidade do baixo-relevo da Natividade, um frontal de altar realizado no século XIV, único no país e pleno de naturalismo, apesar da rigidez natural do pano de fundo.
Pouco depois de terminada a obra, a igreja começou a ser enriquecida com enterramentos por parte dos mais importantes senhores locais. De 1371 é a inscrição de Domingos Bartolomeu, vassalo do rei e corregedor da Estremadura, que se fez sepultar na nave central. No século XV, a igreja tornou-se um monumento emblemático da principal estirpe que governou a vila, os Condes de Atouguia. O primeiro conde, D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, jaz na capela que mandou construir pelos meados do século. E, na década de 60, contam-se importantes realizações, como o coro-alto, obra patrocinada pela Condessa de Atouguia, D. Guiomar de Castro, "pela alma do senhor conde", como indica a inscrição comemorativa da iniciativa.
No início do século XVI, a matriz de Atouguia era uma importante igreja da Estremadura, a ponto de ser novamente enriquecida com empresas vincadamente manuelinas. A principal é o portal da sacristia, em arco canopial regular. No exterior da capela-mor, o coroamento passou a integrar ameias, uma solução característica do ciclo artístico de D. Manuel.
Nas décadas seguintes, o interior foi esteticamente actualizado, com inclusão de pinturas murais (de que restam escassos elementos), mas a história da igreja acompanhou, de perto, a da própria vila: a partir do momento em que Atouguia perdeu importância, em benefício de Peniche, a igreja ressentiu-se, não mais voltando a ser objecto de grandes reformas, o que permitiu que tivesse chegado até aos nossos dias em relativo bom estado de conservação.
O restauro do conjunto ocorreu na década de 70 do século XX (uma fase já tardia na actividade emblemática da DGEMN) e iniciou-se pela consolidação de património integrado, no caso as pinturas murais e o painel da natividade. Houve, no entanto, uma efectiva preocupação em aplicar o "velhinho" conceito de "unidade de estilo", o que determinou a demolição do coro-alto, por exemplo, entre outras obras consideradas pós-medievais». In PAF, IGESPAR.
Cortesia de IGESPAR/JDACT