domingo, 15 de janeiro de 2012

Bracara Augusta. A Casa Romana das Carvalheiras: «Estamos em presença de uma elegante construção de forma aproximadamente quadrada, que pode ser dividida em duas áreas funcionais diferenciadas, bem marcadas pelo desnível de cerca de 3m de altura entre a plataforma norte (mais baixa) e a plataforma sul (mais alta)»



Cortesia de roteiros arqueologicos

Cronologia e evolução da Casa das Carvalheiras
«Se o desnível do terreno é compensado pela própria estrutura da casa, numa solução que certamente se repetirá noutras habitações congéneres, no exterior, ao nível dos pórticos e ruas, ele seria vencido por pequenos lances de escadas, documentadas na rua leste.
Na primeira metade do século II, a casa da Carvalheiras sofreu uma primeira reforma que afectou todo o seu lado oeste. Na origem desta reforma, que define uma segunda fase construtiva do conjunto habitacional, esteve a implantação de um balneário que irá ocupar o quadrante noroeste da primitiva habitação. Simultaneamente, toda a fachada oeste é remodelada, sendo mesmo sacrificado o pórtico e as lojas que anteriormente se desenhavam nesse lado da casa.

Estamos em crer que esta habitação sofreu outras reformas, ainda mal definidas, anteriormente aos finais do século III / inícios do IV, registando-se, então, uma profunda remodelação da estrutura. Sabemos, entretanto, que a construção se manteve ocupada até aos finais do século IV inícios do V altura em que terá sido definitivamente abandonada.

Cortesia de roteiros arqueologicos

O facto dos terrenos não terem sido posteriormente construídos, pois ficaram fora da cidade medieval, favoreceu a preservação do conjunto das ruínas que viriam a ser recuperadas pela escavação. No entanto, tal como aconteceu noutros locais de Braga, muitos muros foram saqueados até à rocha, deles restando apenas as valas onde foram implantados. Esta situação revela-se mais frequente nos muros de boa qualidade, erguidos nos séculos I e II, cujo aparelho regular se adaptaria melhor a ser reutilizado pelos construtores medievais. Pelo contrário, os muros tardios, construídos nas reformas datadas do Baixo Império, estão melhor conservados, revelando mesmo alguns elementos arquitectónicos associados às entradas dos compartimentos, designadamente as soleiras e as ombreiras.
Tais circunstâncias permitem que a fase tardia das Carvalheiras seja aquela que mais facilmente é compreensível ao visitante, revelando um conjunto de muros com alguma monumentalidade.

O primeiro projecto da Casa das Carvalheiras
Sistema construtivo
O primeiro projecto arquitectónico, que deixou evidências construtivas, data do último quartel do século I da nossa era. Trata-se de uma grande habitação que ocupa uma área de 1156 m2 (110x120 pés), dos cerca de 1367 m2 correspondentes à área total do quarteirão.
A casa desenvolve-se adaptada às condições morfológicas do local, desenhando-se em dois planos distintos, mas interligados, que definem, no seu conjunto, uma residência unifamiliar.


Pormenor de um dos compartimentos do sector leste
Cortesia de roteiros arqueologicos

Estamos em presença de uma elegante construção de forma aproximadamente quadrada, que pode ser dividida em duas áreas funcionais diferenciadas, bem marcadas pelo desnível de cerca de 3m de altura entre a plataforma norte (mais baixa) e a plataforma sul (mais alta). Tal desnível foi resolvido através da construção de um muro interior, erguido aproximadamente a meio da habitação. Ambas as plataformas, que definem espaços funcionais autónomos, possuem entradas próprias que assinalam bem a diferenciação, não só das áreas, como das actividades que aí se desenvolviam.
Esta casa revela uma boa qualidade técnica que é característica das construções de Bracara Augusta nesse período. Solidamente implantada no saibro, rasgado para assentamento de argamassa e cascalho grosso que definem as sapatas dos muros estruturais do edifício, a casa das Carvalheiras ergue-se como um volume sólido e estável, de paredes de granito. Estas mostram um aparelho coeso, no qual dominam os blocos quadrados e sub-rectangulares, dispostos em fiadas horizontais, com ligante constituído por argamassa de saibro. A espessura dos muros mais representativos oscila entre 45 cm e 48 cm nas paredes interiores (1,5 pés) e 51 e 56 cm nas exteriores, valores que as aproximam da medida de 2 pés». In Bracara Augusta. A Casa Romana das Carvalheiras, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, 2000, ISBN 972-9382-11-5.


Planta da casa das Carvalheiras na fase I, finais do século I
Cortesia de roteiros arqueologicos



Cortesia de Cortesia de Roteiros Arqueológicos/JDACT