Cortesia da operaomnia
«Eugénio Lisboa homenageado em Portalegre. Apresentação do Livro “Eugénio Lisboa: vário, intrépido e fecundo” e inauguração da Exposição “José Régio: seus papéis e lugares” na Biblioteca Municipal. A Biblioteca Municipal de Portalegre é o local eleito para a apresentação do livro “Eugénio Lisboa: vário, intrépido e fecundo” pela Professora Doutora Otília Pires Martins, e para a inauguração da Exposição Bibliográfica “José Régio: seus papéis e lugares”, que teve lugar no dia de ontem, 6ª feira, dia 27 de Janeiro, pelas 17h00.
Eugénio Lisboa é hoje o mais consagrado estudioso da geração literária presencista, nomeadamente de José Régio, que conheceu em Portalegre e de quem foi amigo de longa data e será homenageado com a obra “Eugénio Lisboa: vário intrépido e fecundo”, que reúne 70 textos dedicados ao próprio.
A par desta homenagem, pode ainda ser visitada a Exposição Bibliográfica “José Régio: seus papéis e lugares”, que pretende mostrar um conjunto de documentos do Centro de Estudos José Régio, em Portalegre, relativos ao tempo do escritor. Os “papéis” que, testemunham o seu tempo de escola, de ensino, as suas preferências literárias, os seus gastos, as amizades, os admiradores, entre muitos outros. A Exposição estará patente até 29 de Fevereiro das 10h30 às 12h30 e das 14h00 às 19h00 de Terça-Feira a Domingo». In BM de Portalegre.
Com a devida vénia a Manuel Assunção
Eugénio Lisboa. Um Percurso Exemplar
«Eugénio Lisboa honrou a Universidade de Aveiro ao percorrer connosco, enquanto Professor Visitante, a "última etapa do (seu) percurso oficialmente activo" como uma vez afirmou. Não tanto por ter atingido o "limite de idade" mas mais por ter sido atingido por ele.
Concedeu-nos, Eugénio Lisboa, igualmente, o privilégio de o contarmos, desde 2002, como par do nosso já insigne colégio de Doutores “Honoris Causa” que ele veio enriquecer ainda mais. Visitante, de visita por que se anseia e que nos dá prazer, é aliás um termo que lhe cai bem. Visitante das ideias e dos lugares, determinado, desde sempre, por uma enorme curiosidade, Por essa vontade indómita de conhecer para além do horizonte e de se projectar para lá do conhecimento. Porém, visita que se demora, que aprende e apreende, que deixa marca. Lourenço Marques e Moçambique, Joanesburgo e Pretória, Estocolmo, Paris, Londres e muita outra Inglaterra, Lisboa e a "linha", Aveiro, são pontos decisivos no mapa do viajante. A que acrescento um outro, quiçá por fraqueza minha: o do meu distrito, Portalegre, "cidade do Alto Alentejo cercada”...(A Bela Cidade de Portalegre, acrescento eu, JDACT)
Um percurso de viajante, descobrindo, criando, e ensinando, que nos remeteria para Erasmus não fosse o nosso homenageado preferir, “et pour cause”, Ulisses. Contudo, um Ulisses de múltiplos périplos, que se não contentou com a ‘sua’ viagem e cuja itinerância representa, por si só, uma bela lição de vida a favor da internacionalização e contra o imobilismo.
Mas, principalmente, um percurso de uma grande humanidade. Mestre no manejo das ideias e na clareza de exposição, no despertar o interesse e a inspiração de tantos, assumiu-se como grande professor e pedagogo fazendo das suas aulas, certamente, o que as aulas devem ser sempre: uma festa! Crítico literário, soube ver, projectado no futuro, o valor, efectivo de muitos autores que tão só despontavam. Esta atenção aos novos autores está, aliás, presente na defesa da causa da língua portuguesa, por que sempre se bateu. Eugénio Lisboa, para além disso, afirmou-se como diplomata e engenheiro (projectou a rede de iluminação de Lourenço Marques); tem mantido uma intervenção cívica notável (em tempos mais difíceis ou menos difíceis); e é um grande comunicador, um excelente conversador e contador de histórias, exímio na prática e na vivência do humor. São desdobradas facetas de uma personalidade de grande fulgor e riqueza.
Destaco ainda, porque me diz muito a mim, a atracção igual que sentiu pelas chama das “duas culturas”:
- fez muito bem em não ter escolhido, .- ter rejeitado a disjuntiva "ou" … “ou”;
- em ter percebido logo o que agora sabemos bem, que a cultura é só uma.
Cortesia de arronchesonline
Apenas começou a escrever “quando teve alguma coisa para dizer”, receita que todos deviam seguir a preceito. Mesmo assim foi a tempo de fazer obra séria como ensaísta, como poeta e como dramaturgo.
A trajectória notabilíssima terá tido origem no leitor impenitente e apaixonado que o Eugénio-criança começou logo a ser. Razão maior para concordar com ele quando escreveu “não (crer) que haja desculpa para a literatura a não ser o prazer que ela dá”. E este livro, da iniciativa arrojada dos meus amigos Otília Martins e Onésimo Almeida a quem muito agradeço, pretende também, muito, testemunhar o prazer que Eugénio Lisboa nos deu a todos ao lê-lo.
A dimensão do testemunho é de mais de sete dezenas de contributos, marcante do mérito, prestígio e impacto do homenageado. Aos respectivos autores deixo uma palavra de reconhecimento e gratidão.
Quis a vida e a vontade de alguns que Eugénio Lisboa ficasse para sempre agregado à Universidade de Aveiro. Todavia, ao contrário do agregado de Machado de Assis, e felizmente, estamos perante alguém que acumula pernas longuíssimas com ideias igualmente longuíssimas». In Manuel Assunção, Eugénio Lisboa: Vário, intrépido e fecundo. Uma homenagem, organização de Otília P. Martins e Onésio T. Almeida, Opera Omnia, 2011, ISBN 978-989-8309-20-4.
Cortesia de CMPortalegre/Opera Omnia/JDACT