sábado, 14 de janeiro de 2012

Guimarães. V. O. T. de S. Francisco. Convento de S. Francisco. «O povo do burgo acorreu com dádivas para a sustentação dos frades e para a edificação do seu convento. Frei António do Rosário enumerou alguns testamentos antigos guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo»



Cortesia de vot e literaturas

O Primeiro Convento
«… não se conformaram os vimaranenses que os santos frades residissem tão longe e convenceram-nos a instalarem-se noutro local mais próximo da vila. Não repugnou aos frades esta mudança pois tornava-se-lhes mais fácil a difusão da mensagem franciscana e garantir a sustentação de um número crescente de religiosos. Por isso, ainda no mesmo ano da sua chegada fixaram-se num local mais próximo do burgo.

Não é difícil indicar o local escolhido pelos ‘Frades Menores’ termo que, por humildade, S. Francisco escolheu para os seus companheiros; além dos documentos citados na "História Seráfica", outros há no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, em Guimarães, onde se encontra o topónimo “São Francísco o Velho” que, como se lê no índice do Tombo I dos Testamentos da Colegiada, depois se chamou “Minhotinho”, termo que sobreviveu até ao nosso tempo.
Para lá se mudou S. Gualter, e aí foi sepultado em 1259,ano provável da sua morte. À sua vida, virtudes e milagres dedicou Frei Manuel da Esperança dois capítulos da sua crónica, pelo que será desnecessário referi-los aqui.
O povo do burgo acorreu com dádivas para a sustentação dos frades e para a edificação do seu convento. Frei António do Rosário enumerou alguns testamentos antigos guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, onde constam deixas para os Frades Menores de Guimarães, mas outros há que referem legados da mesma natureza.



O Segundo Convento
Refere o cronista:
  • “foi entendendo Guimaraës quanto melhor lhe esteva a vizinhança do conuento, que a distancia delle, assi se resolueo em o trazer pêra parto dos seus muros, donde os religiosos mais facilmente acodissem âs obrigações da caridade christaam”.
Assim, em 23 de Novembro de 1271, na presença do alcaide-mor, Pero Rodrigues, e de muitos homens-bons, o juiz Mem Martins fez doação aos religiosos de S. Francisco “d'hum hospital, por outro nome Albergaria, no qual se recolhião os pobres que passauão de caminho, & por ser administrado pelo gouerno da villa se chamaua o hospital do concelho”. A entrada solene no seu novo mosteiro fez-se dois dias depois, a 25 de Novembro de 1271, tendo sido lavrado o respectivo auto de posse, donde consta que o hospital estava encostado aos muros da vila “prope portam quae vocatur de turre veteri”.

NOTA: Esta informação é fundamental para a datação de ‘cerca nova’; a muralha que circunda a vila de Guimarães. Vê-se que em 1271, recordemos que Afonso III reinou até à sua morte, em 1279, já existia aberta na muralha a “Porta da Torre Velha”. Assim, ao contrário do que geralmente se afirma, a “cerca nova” deve ter sido iniciada no seu reinado, sendo concluída e provavelmente reforçada por ordem do seu sucessor, Dinis I. outros documentos confirmam esta afirmação.


Cortesia de vot

Nessa mesma noite, tentou o Cabido da Colegiada de Guimarães enriquecer a sua igreja apropriando-se do corpo de S. Gualter, há poucos anos falecido e tido já em grande veneração, sepultado em campa rasa no ermitério de São Francisco o Velho. Assim, no segredo da noite, tentaram os cónegos por todos os meios retirar o corpo do Santo da sua humilde sepultura, no que foram impedidos por uma força sobrenatural; milagroso facto que rapidamente constou pelas redondezas e induziu a comunidade franciscana a pô-lo em segurança, primeiro num sepulcro de pedra, depois num relicário que acompanhava os frades sempre que estes mudavam de residência.

Os devotos de Guimarães e região envolvente demonstraram a maior devoção por S. Gualter e pelos religiosos que se fixaram na sua terra, tendo chegado ao nosso tempo numerosos testamentos onde se estabeleciam legados para sustento dos frades e para a obra de construção do novo convento. Por isso mantiveram-se as deixas testamentárias.
A pureza do cristianismo que os frades mendicantes, franciscanos e dominicanos, pregavam o desprezo pela ostentação, e pobreza, a obediência e a castidade que praticavam, constituíam vivo contraste com a prática vivida por grande parte do clero secular da região e, designadamente, pelos cónegos e demais clérigos da Colegiada de Guimarães cuja apetência pelo dinheiro, que não vinha de agora, os documentos testemunham. O desvio dos réditos para as comunidades mendicantes e o ciúme do prestígio que estes granjeavam no seio da comunidade cristã vimaranense, levaram o cabido da Colegiada, com o apoio do cabido catedralício de Braga, a criar aos frades os maiores obstáculos». In Convento de São Francisco, Guimarães, texto de Fernando Teixeira, VOT de São Francisco, Guimarães, 2000, ISBN 972-95176-4-9.


Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT