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de wikipedia e jdact
De
Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgia
«(…) E a recompensa era grande: glória ao governante e posições
de liderança lucrativas ao conselheiro ou diplomata que desse a sua
colaboração. Em 1411, o clérigo de Xátiva, cuja reputação como advogado não
parava de crescer, foi nomeado cônego da Catedral de Lérida. Essa função, que
fora ocupada regularmente por outros membros da linhagem principal da família,
garantia consideráveis rendimentos e justificava as esperanças por posições
mais elevadas. Mas na viragem da história de vida de Alonso deve ter ocorrido
alguns anos antes. O dominicano Vicente Ferrer (morto em 1419), amplamente
conhecido como rígido pregador, anunciou ao jovem clérigo que ele, um dia,
ocuparia o trono de Pedro. Tais profecias não
faltavam em biografias papais.
Factos concretos são a prova de que aqui não se trata da
invenção piedosa de um biógrafo tardio, mas sim de uma autêntica e marcante
experiência. Trinta e seis anos após a morte do eloquente frade, Calisto III,
de facto eleito papa, não tendo outra coisa mais importante para fazer, incluiu
o nome de Ferrer na lista dos candidatos à canonização. Mas também isso não
significava muita coisa, afinal o dominicano era considerado havia muito tempo
um escolhido do Senhor no que dizia respeito às rígidas reformas da Igreja. Ele
era também um conterrâneo do papa, o que geralmente acelerava os processos de
canonização. Mas havia um motivo ainda mais pessoal para a rápida canonização.
Esse motivo é mencionado na competente biografia de Ferrer, escrita pela pena
de um contemporâneo:
Alonso Borja dizia havia anos aos seus seguidores que
estava confiante, antes mesmo de ter sido eleito efectivamente papa: ele nutria
a esperança de um dia governar pessoalmente a Igreja Romana. Mas depois de
terem morrido dois ou três papas e a eleição ter acabado de forma diferente,
muitos daqueles que tinham apostado nele agora faziam troça do velho ridículo,
cujas previsões não passavam de conversa fiada. Essas mesmas pessoas, contudo,
ficaram tremendamente surpresas quando, após a morte do papa Nicolau VI, ele,
de facto, ocupou o trono de Pedro, e questionavam-no pelas inspirações que o
tinham levado a fazer tão frequentemente previsões desse desfecho, de forma
assim tão inabalável. Sua resposta: quando eu era ainda adolescente, foi-me
anunciado por um homem mundialmente famoso, marcado pela fé, piedade e
santidade de vida, Vicente Ferrer, da Ordem dos Pregadores, que eu, um dia,
seria o maior de todos os mortais e, depois de sua morte, iria superar todas as
pessoas em louvor, honra e adoração. [...]. E como vejo agora que, como um dom
de Deus, fui realmente agraciado com o que ele dissera, foi-me ordenado fazer
por ele o que ele profetizara a ser minha missão, a ser cumprida perante a sua
pessoa. Portanto, o meu veredicto é que esse grande homem seja santificado por
mim o mais rápido possível.
A santidade dos dominicanos revelou-se no cumprimento da
profecia. A canonização é também um acto de agradecimento. Dessa maneira, foi
estabelecida uma relação de reciprocidade, que conjugava destino e dignidade.
Assim, Alonso Borja torna-se papa a fim de outorgar a Ferrer a sua legítima
categoria. Dou para que dês: devoção aos santos e sua duradoura protecção ao
pontífice e sua família. A ideia de elegibilidade por dinastias vai tomando
forma. Pouco depois de 1400, essa profecia pareceu, em princípio, ousada. Como
deveria ser o caminho de Lérida a Roma? Como patrocinador, o primeiro a agir
foi o papa Bento XIII, um dos três papas rivais da época, que colocou o
promissor compatriota sob as suas asas. O valor de sua protecção, no entanto, foi irrelevante, já que foi
deposto sumariamente, com os seus concorrentes, pelo Concilio de Constança. O
objectivo era eleger, por volta de 1417, na figura de Martinho V, da família
Colonna, pertencente à alta aristocracia romana, um novo pontifex maximus que fosse
reconhecido por todos. E também Alonso Borja arranjou um novo e influente protector:
Afonso V (1396-1458), rei de Aragão». In
Volker Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o Papa Sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN
978-857-960-127-9
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