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de wikipedia e jdact
Isabel.
Maio de 1588
«(…) Os aromas misturados estavam
particularmente doces naquela tarde. Enganei-me ao chamá-la de lírio, explicou Vejo
agora que as rosas reflectem melhor a sua verdadeira natureza. Há tantos tipos diferentes,
assim como a senhora tem tantas facetas. Mas o meu lema pessoal é Semper eadem, Sempre a mesma,
nunca mudar. Eu tinha escolhido tal lema por considerar que a imprevisibilidade
num soberano era um grande fardo para os súbditos. Não seria assim que os seus
conselheiros a descreveriam. Nem seus pretendentes. Ele desviou o olhar e
acrescentou: eu deveria saber disso, já que vivi as duas situações. Ainda bem
que não pude ver o rosto dele para interpretar o que quis dizer com aquele, mas
acabei explicando. Apenas brinco de ser imprevisível, por dentro sou firme como
uma rocha. Sou sempre leal e estou sempre presente. Mas um pouco de encenação dá
um tempero à vida e mantém os meus inimigos em alerta. E os amigos também,
Majestade. Até mesmo sendo os seus olhos há muito tempo, às vezes não sei se
devo acreditar no que vejo. Pode sempre perguntar-me, Robert. Sempre lhe
responderei. Prometo-lhe.
Robert Dudley: a única pessoa
para a qual poderia revelar minha alma, com quem conseguia ser a pessoa mais
honesta possível. Há muito tempo, amei-o desesperadamente, do jeito que uma
mulher só consegue amar apenas uma vez na vida. O tempo mudou esse amor,
transformando-o em uma coisa mais resistente, espessa, forte e silenciosa,
assim como dizem que acontece com casamentos muito longos. Os russos dizem: o
martelo estilhaça vidro, mas forja o aço. Certa vez, disse a um embaixador que
se eu me casasse algum dia seria como rainha e não como Elizabeth. Se algum dia
eu fosse convencida de que um casamento era uma necessidade política, então
levaria a situação adiante, apesar da minha relutância pessoal. Mas, na minha
coroação, prometi aceitar a própria Inglaterra como meu esposo. Permanecendo virgem,
não me doando a ninguém a não ser ao meu povo, era o sacrifício visível que ele
teria como prémio e honra e nos manteria unidos. E foi isso que aconteceu. E,
apesar de poupá-los dos horrores do enlace estrangeiro e do fantasma da dominação,
deixei-os com a mesma coisa que fez meu pai virar o reino de cabeça para baixo
para evitar que acontecesse: nenhum herdeiro para me suceder. Não posso dizer
que isso não me preocupa. Mas tenho outras decisões mais importantes a tomar,
de igual ou maior urgência para a sobrevivência do meu país.
Francis Drake levou a maior parte
da semana para atravessar os mais de 300 quilómetros que separavam Plymouth de
Londres. Mas agora ele estava diante de todo o Conselho Privado, e eu, na sala
de reunião no Whitehall. Não quis descansar, e sim vir directamente a nós. Vê-lo
sempre fazia com que me sentisse mais segura. Ele tinha tal optimismo que
conseguia convencer qualquer um a ouvir os seus planos e mostrar que todos eram
realizáveis e sensatos. O grupo agora estava maior. Não era composto apenas do
trio interno: Burghley, Leicester e Walsingham. Tínhamos também sir Francis Knollys; Henry Carey, o
lorde Hunsdon; e John Whitgift, o arcebispo de Cantuária; bem como Charles
Howard, o novo lorde almirante.
Seja
bem-vindo, disse a Drake. O que acha da nossa situação? Ele olhou em redor. Era
um homem atarracado, parecia um barril. Conveniente para alguém que destruiu as
aduelas dos barris da Armada no ano passado. A cabeleira loira ainda era
espessa, e, embora o rosto apresentasse marcas de expressão, parecia jovem.
Estava avaliando uma possível oposição no Conselho antes de falar. Finalmente
disse: sabíamos que isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. E é chegada a
hora. Não havia como contradizê-lo. E a sua recomendação, qual é?, perguntei. A
senhora sabe a minha recomendação, amável rainha. É sempre melhor atacar o
inimigo e desarmá-lo antes que ele alcance a nossa costa. Uma acção ofensiva é
mais fácil de ser controlada do que uma acção defensiva. Portanto, proponho que
nossa frota zarpe das águas inglesas, navegando até interceptar a Armada antes
que ela chegue aqui». In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de
um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN
978-858-130-076-4.
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