Cortesia
de wikipedia e jdact
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«(…)
erá que me instruir,
então. Eu sou somente um simples cavalheiro. Estou acostumado às prostitutas
que fazem o que o homem lhes solicita. Vejo que o caso das cortesãs é
justamente o contrário. Conseguirá
tudo o que desejas, e, mais. Eu fui treinada em muito mais artes além dessa.
Música, conversação... Certamente depois de estar vivendo pouco melhor que um
animal nestas tendas, uma noite de fineza e elegância te resultaria
interessante. Isso é, deixe-me mostrar-te. Ela marchou para as peles, tomou
algumas bolsas de couro, e as usou para criar uma espécie de travesseiro. E agora, descansai. Pronto. Não é melhor assim? Ele deitou-se
em cima das peles, com a cabeça e os ombros reclinados nas bolsas. Ela
ajoelhou-se ao seu lado e levantou o pano que cobria o cesto. Preparou as
empadas de carne e a taça e, em seguida, serviu o bom vinho de Bordéus.
Ofereceu-lhe a taça. Ele bebeu com calma e deteve os olhos nela. Não bebeis? Não.
Fico menos capaz. Não queremos que tal aconteça, pois não? Ele provou uma
empada e ergueu as sobrancelhas em sinal de aprovação. Se suplantais as
rameiras do acampamento, ainda estamos para ver, mas a vossa comida suplanta
decididamente a cozinha daqui.
Um sorriso tonto iluminou-lhe o rosto e, antes de se recompor,
Reyna quase se lançou numa explicação das plantas aromáticas que utilizara. Desejais
que toque flauta enquanto comeis? Sem sombra de dúvida. Trata-se de uma
experiência rara para um pobre cavaleiro como eu. Não quero perder nada. Apoiou-se
num cotovelo. Ela tentou não olhar para a taça que se movia em direcção aos
lábios dele. Mais. Uma boa golada. Ela começou a tocar uma melodia lenta no
instrumento. Enquanto tocava, pensava nos minutos seguintes e naquilo que teria
de fazer. Rezou para ter coragem para levar a cabo a sua missão. Tal faria com
que o cerco fosse levantado pelo menos por alguns dias, até Morvan Fitzwaryn
descobrir o que tinha acontecido e enviar mais homens para lá. Entretanto, os
outros poderiam ir para norte, até Clivedale. Pelo canto do olho, viu Ian
pousar a taça de vinho. Estava vazia.
Ela suspirou de
alívio e tocou uma nota em falso. Falhou outra quando dois dedos tocaram no seu
braço e lhe subiram, vagarosos, até ao ombro. Movimento atrás dela. Mãos que
lhe afastavam o cabelo para cima de um ombro. Um rosto que passava ao de leve
pelo seu pescoço e uma respiração cálida na sua pele. Um beijo no seu ombro e
dentes que lhe roçavam a orelha. Ela olhava fixamente para a lona branca,
perplexa por as atenções deste estranho estarem a perturbá-la e a deixá-la sem
fôlego. A melodia perdeu-se num desastre de sobressaltos. Ela baixou a flauta e
dirigiu-lhe um olhar céptico. O rosto dele estava a centímetros do dela, e só
lhe via os olhos abrasadores e a boca sensual. Não parava de olhar para a taça
vazia. Adormece. Infelizmente, sir Ian não parecia nem um pouco sonolento.
Foi encantador, disse
ele suavemente, volvendo a beijar-lhe o pescoço. As pequenas pausas conferiram à
melodia um toque comovente. Voltou-se, alinhando o tronco com o dela. Vós sois
encantadora, sussurrou, aproximando a cabeça dela da sua. Ele deu-lhe um beijo
quase lânguido. Mais um beijo amoroso do que um arroubo, que lentamente se
tornava mais profundo, despertando algo dentro dela que ela não controlava,
algo que se fizera expectante após longa abstinência. Uma expectativa deliciosa
acordou e percorreu-lhe todo o corpo de uma forma escandalosa. Reyna devia
afastá-lo, mas Melissa, a cortesã, certamente não o faria, e como tal aguentou,
com a consciência dolorosa de que o seu sofrimento não era, nem de perto nem de
longe, tanto como deveria ser. Tentou travar a sua reacção escandalosa e a sua
mente desnorteada começou a entoar repetidamente uma ordem silenciosa, que ele
dormisse, raios, que dormisse.
Ele afastou-se dela. A expressão do seu rosto era indescritível. Calor.
Desejo. A promessa do prazer revelado. Estava apoiado num braço e o seu tronco
nu quase tocava no ombro dela. Aquela chama proibida dentro dela regozijou
contra a sua vontade. Ela não conseguia tirar os olhos daquele rosto incrível.
Não conseguia mexer-se. Não vos sintais constrangida, disse ele. Decerto é
permitido que desfruteis uma vez ou outra. Ele baixou o olhar e passou os dedos
pela orla do vestido dela, no alto dos seios. Curvou-se e beijou a pele exposta
pelo decote generoso. Ela sentiu o corpo inteiro ser percorrido pelo mais
estranho dos arrepios. Observou, hipnotizada, aquela mão libertar o seu ombro
do tecido. É importante que ele beba o vinho todo antes de tentar despir-vos.
Recompôs-se. Inclinou-se para trás e soltou um risinho forçado». In Madeline
Hunter, Mil Noites de Paixão, Edições ASA, 2012, ISBN-978-989-231-672-7.
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