terça-feira, 19 de março de 2019

Novas Cartas Portuguesas. Maria Barreno, Maria Horta, Maria Costa. «Senhora Mãe que te achaste sem o saber emprenhada, o ventre vendo crescer…»

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Proposta de mim ao trio
«(…) Meu tudo sei ou sou
de casa e pão
alimento de mim
claridade

Hábito que não visto
de uso ou grão
semente de água pois se de uma
ave

Terra que por posta
vos darei
sabendo bem que dela só se parte
e nada nela cresce se não nasce

Viagem que de mim
vos dou a arte
onde de mim não sei já ser disfarce
24/Mar/1971

Brinco de Freira
mariana ama (o) mal
maria sabe a mar
contra a maré de mariana
quem amaina o sal?

a salto tresmariam malhas
e emigram (dela)
amando mariana queda e mal
marias maridadas cada qual

isolla bella (isolda?) e
teresa da mão leda e
fátima da ácida azinheira

lêem escritos (vaga casa) escrevem marejados
e por ou contra mariana
(asinha como estando com (o) vento
sua cal mareiam.

qual moireja o mal de beja
(paz de jus)
e sua o sal real
a lei das se(i)smarias
léu de povo-rei?

o caldo marinando à vela
desveladas rainhas ramos vigis (por ora) perorando

mariana no horto dado
marias mouras ilhas (telas)
neste sopro de (com) vento airado
dado.
24/Mar/71

Cantiga de Mariana Alcoforado a Sua Mãe

Senhora Mãe eu me sei
em vosso ventre
gerada

gosto de gozo ou silêncio
vossas entranhas gastei
nelas entrando enganada

Ó sina de mágoa imensa
Ó meu labor recordado

Ó sua agonia intensa
Ó vosso parto adiado

medo tristeza e sustento
teu ombro de minha infância

Ausência que foi doendo
como uma pedra engastada
de anel em vosso dedo

Que filha posta em convento
não se quer em sua casa
Senhora Mãe que te achaste
sem o saber
emprenhada

o ventre vendo crescer
sem te sentires
habitada
27/Mar/71

In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN 978-972-204-011-2.

Cortesia PdQuixote/JDACT