Cortesia
de wikipedia e jdact
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«(…) Apócrifos,
corrigiu ela absurdamente, com uma voz que parecia vir de muito longe. Não é da
Bíblia convencional. É dos evangelhos apócrifos. Que me importa se Deus deu a
história a Moisés em pessoa, sua cab… Ele agarrou-lhe no cabelo e pôs-se em pé,
obrigando-a a colocar-se de joelhos. Arrastou-a até ao mastro central e atou-a
com os braços esticados acima da cabeça. Foi até às peles. Ela tinha a certeza
de que ele ia buscar o punhal para lhe cortar o pescoço. O seu coração
batia-lhe no peito com uma pulsação de chumbo. Ele regressou com a garrafa de
vidro e encostou-a aos lábios dela. Bebei, ordenou.
Ela gemeu e mexeu-se.
Ian olhou-a do banco onde estava sentado a comer uma das empadas. Ela estava
deitada na enxerga, de braços e pernas afastados e amarrados aos cantos. Ele
tinha ponderado tirar-lhe a roupa mas acabara por decidir que poderia ser de
mais. Ele queria-a assustada e vulnerável, não paralisada de terror. A luta
deles rasgara-lhe o vestido, quase expondo um pequeno e mimoso seio. A saia
subira-lhe pelas pernas bem torneadas. Ela tinha um corpo muito bonito, mesmo
que algo magro de mais. Pequeno e curvilíneo e compacto e bem-feito como o de
Elizabeth era, só que mais jovem. Quando a vira pela primeira vez, em pé à luz
ténue, formidável e determinada, com aquele cabelo claro e liso a dar-lhe pelas
ancas, pensara por um instante que ela era Elizabeth. Mas o rosto, ainda que
bastante belo, nada tinha da perfeição precisa de Elizabeth, e era mais
caloroso e expressivo. E o cabelo não era branco como o de Elizabeth, mas de um
louro-claro raiado de madeixas prateadas, e a sua pele possuía um agradável
brilho rosado. Elizabeth fora branca como a neve. Esta mulher parecia o
primeiro sol da madrugada.
Vinte e tais, foi o
seu palpite. Adorável e corajosa. Pena ter de a destruir. O seu escudeiro,
John, transpôs a entrada da tenda, trazendo consigo um prato de guisado. O
jovem tinha tomado o seu tempo para servir a ceia, trazendo uma coisa de cada
vez, o que lhe proporcionava uma desculpa para olhar cobiçosamente para a
mulher. Os seus olhos voluptuosos examinaram as pernas desnudadas. Era melhor
clarificar as coisas agora. Mantém as calças bem apertadas, rapaz. Ela não é
para ti. John corou e pousou o guisado. Ian recebeu a pasta sensaborona com uma
careta. Felizmente, tinha enchido a barriga com as deliciosas empadas de carne
de Melissa. Pegando na última, atirou-a ao escudeiro quando ele saiu. Uma
consolação. O prazer que se tira de toda a mulher é muito parecido. O mesmo não
se pode dizer da comida. Ela voltou a mexer-se. As suas pálpebras ergueram-se
suavemente. Ficou alerta à medida que compreendia a posição em que estava. Deu
puxões às cordas que a amarravam, e o movimento fê-la gemer novamente. Então,
que tal?, perguntou ele. Nunca ouvi falar de uma poção para dormir que depois
não nos desfizesse a cabeça.
O olhar encoberto dela deslizou para o sítio onde ele estava
sentado. Por um momento, antes de se recompor, mostrou uma centelha de pânico. Óptimo.
Sorte a vossa que não era veneno, acrescentou ele. Eu não tinha uma receita de
veneno. Ele resistiu à vontade de rir. Quanta vivacidade. Que pena. Ela
conseguiu encolher um pouco os ombros. Já que é óbvio que nunca bebestes uma
gota, não teria feito diferença nenhuma. Ela voltou a passar os olhos pelo seu
corpo vulnerável. O que ides fazer? Tentou parecer corajosa e imperturbável.
Ele sentiu alguma pena dela. Tenho estado a pensar nisso durante estas últimas
horas. Estava a postos para vos enforcar quando vós acordastes. Enforcar-me! Sim.
Por assassínio. Mas eu não… Tentastes. Não foi bem assim. Perdi a coragem. Tenho
um corte no braço que diz que sim. Só porque me atacastes. Se tivésseis ficado
a dormir como era devido…» In Madeline Hunter, Mil Noites de Paixão, Edições
ASA, 2012, ISBN-978-989-231-672-7.
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