«(…) Muito provavelmente o velho tabelião era cliente de casas mais modestas ou podia tê-la conhecido numa casa de jogo, onde muitas dessas aventureiras que trabalhavam sem a protecção de uma madame e de um tecto fixo, iam todas as noites caçar os seus parceiros. Era isso, não havia dúvida e logo ali tomou uma decisão que, definitivamente, lhe resolveria vários problemas. Sozinho esta noite, meu belo marquês?, perguntou Martine que, entretanto, se aproximou sem que Louis percebesse. A Cléa está ocupada... Há outras moças disponíveis. Estou sem paciência para escolher, Martine. Talvez esteja ficando velho ou talvez este não seja um bom dia. Talvez esteja ficando apaixonado, meu senhor! Ouvi dizer que uma tal madame Bosquet o traz muito ocupado. É o que se diz?, Louis sorriu e Martine notou que havia tristeza nos seus belíssimos olhos azuis. Louis, Louis..., conheço-o há quantos anos? Vinte? Era um rapazinho quando o seu pai o trouxe aqui pela primeira vez. Estimo-o como estimei o seu pai e conheço-o melhor do que muitos dos seus amigos. Procure uma jovem no seu meio que lhe dê filhos e uma vida familiar agradável, que lhe permita perpetuar os seus títulos e a sua fortuna... Que ideia, Martine! Só de ouvi-la falar em casamento já me sinto enfadado... Louis forçou um sorriso. Pense no que lhe digo. É agradável a sua vida. Tem dinheiro, posição, amigos e as mais belas mulheres de Paris aos seus pés, mas nenhuma à sua espera quando chega em casa. Os anos passam, meu amigo, e esse vazio que se lê nos olhos se tornará mais e mais profundo. Acredite em mim, sei do que falo. O embaixador da Bélgica entrou nesse momento e Martine despediu-se de Louis para recebê-lo. Uns minutos depois, sem esperar pelos amigos que, entretanto, tinham subido para os quartos com as suas amantes, o marquês de Villeclaire pediu a um criado que chamasse o seu cocheiro e saiu. Quando chegou em casa avisou Maurice, que como sempre ainda o esperava, que dentro de dois dias partiria para o Loire.
Acompanho-o,
senhor? Sim, por favor, Maurice. Alguma providência que quer que eu tome? Terá
convidados? Nada de especial, o costume. Não nos demoraremos mais do que uma semana.
Duas, no máximo. Louis deitou-se pensando no corpo esguio e suave de Catherine
Duvernois. No seu pescoço de cisne, nos seus cabelos escuros. Teve vontade de
tê-la ali, na sua cama, de lhe percorrer o corpo com os dedos, descobrindo as
formas que se escondiam debaixo daqueles vestidos gastos e desajeitados.
Imaginou como seriam duros os seus seios e, naqueles segundos antes de
adormecer, de olhos fechados, na escuridão do seu quarto, fantasiou que lhe
prendia com um braço a cintura fina, que descia a mão até ao centro do seu ser
e a excitava delicadamente, fazendo-a gemer e abrir as pernas, pronta para o
receber. O sexo de Louis ganhava vida própria e abriu-lhe a porta para uma
noite de sonhos deliciosos em que Catherine, nua, se sentava sobre ele e o
conduzia num acto de amor selvagem e louco, elevando e baixando o tronco para
que o p… de Louis entrasse e saísse d…, cada vez mais depressa, enquanto ele
lhe agarrava as ná… com uma das mãos e, com a outra, lhe acariciava os se…,
soltos, afastava os longos cabelos da face e percorria a boca com um dedo, introduzindo-o
depois na boca, explorando-a, como se a pene… duplamente. Acordou confuso,
recordando o sonho em todos os pormenores e achando até estranho não a
encontrar ali deitada, abraçada a ele… Que loucura, pensou Villeclaire ao
acordar. E voltou a sentir que o sexo lhe endu… e que desejava ardentemente
Catherine.
Catherine Duvernois arrumou os seus parcos haveres mesmo antes
de saber qual seria o seu destino. Fosse o que fosse que o marquês de
Villeclaire decidisse sobre ela, sabia que estava vivendo os últimos dias
naquela casa. Não teria saudades desses cinco anos em que viveu encerrada
naquele casarão frio e decrépito, tendo de suportar os maus modos daquele velho
desagradável de quem agora era viúva, a falta de dinheiro, a má comida, a solidão,
a impertinência dos criados que a tratavam como uma igual, o desprezo com que
as outras mulheres a olhavam nas raríssimas vezes em que saía, sem nunca ir
muito longe, para comprar botões ou linhas para remendar a sua roupa velhíssima,
os olhares de piedade dos caixeiros quando entrava numa loja, deixando-a a um
canto, para ser atendida mesmo depois de outras senhoras que chegavam a seguir
dela. Estava cansada daquela vida. Aos vinte e dois anos sentia-se, muitas
vezes, uma velha. Desejara tantas vezes a morte naqueles dias duros de Inverno
em que as correntes de ar daquela casa a prostravam, cheia de febre, sem ninguém
que tivesse a caridade de lhe levar um chá». In Matilda Wright, Aposta Indecente,
2011, Editor Livros d’Hoje, Publicações dom Quixote, 2011, ISBN
978-972-204-776-0.
Cortesia de Ld’Hoje/JDACT
JDACT, Literatura, Matilda Wright,