«(…) Nessa noite, Louis jantou em casa com os seus amigos de sempre, Gaston, Pierre, Laurent e Marcel. Estava taciturno e distraído, e durante todo o tempo uma ruga vincava a sua bela testa. Villeneuve, que bicho lhe mordeu? Convida-nos para celebrar os seus novos dois bilhões de francos e está com essa cara... De repente, a fortuna causa-lhe problemas?, brincou Pierre. Marcel, o banqueiro, soltou uma gargalhada: meu caro marquês, diga-nos o que o aflige. Certamente nada que uma experiente conta bancária não possa resolver por você! Os amigos riram e Louis tentou rir com eles. Mas, de facto, alguma coisa o incomodava. Aqueles olhos verdes e desafiadores de Catherine Duvernois que nem por um momento se humedeceram quando a ameaçou com um futuro sombrio num convento para indigentes… Nada de muito grave!, respondeu aos amigos. De facto, tenho de ir ao Vale do Loire por uns dias, o dever me chama. E logo numa altura em que esta neve torna as viagens mais incómodas e gostaria do aconchego quente da cama de Cléa. Esforçou-se por ser natural e voltou a rir. Os rapazes riram com ele. E madame Bousquet?, quis saber Laurent. Oh! A Bousquet! Está insuportável, apaixonada, exige que a visite todas as horas e fala até em largar o marido e fugir comigo para a Inglaterra ou para a Alemanha. Sonha com uma casinha pequena, no campo, onde viveremos os dois, felizes, até sermos velhos. Meu bom Louis, ainda bem que o dever o chama ao Vale do Loire porque, de facto, tem aí um problema. Oh! Se tem! É o que dá se meter com burguesas..., têm a imaginação curta e a cabeça cheia de ideias bucólicas que bebem nos romances da moda. É fugir delas, Villeclaire, é fugir delas..., declarou o príncipe de Montblanc.
E foi ainda rindo das desventuras de Louis Villeclaire com a sua
amante burguesa que os rapazes chegaram à casa de Martine. Cléa estava ocupada
com um outro cliente e Louis somou mais essa contrariedade ao seu dia e decidiu
ficar ali mesmo pelo salão, bebendo champanhe, sem paciência para escolher outra
moça. Queria a pequena Cléa, que de noite em noite estava cada vez mais competente
na arte do amor e o excitava cada vez mais. Gostava das pernas dela, brancas e
duras, um pouco roliças, mas que se enrolavam em volta do seu tronco, puxando-o
para si, enquanto lhe guiava o sexo para dentro dela. Cléa era uma mulher
permissiva, que gostava de ter prazer e que o procurava. Dois dias antes, ao
entrar no seu quarto, Louis tinha-a encontrado na cama com Denise, outra das
mulheres que trabalha na casa de Martine, ambas nuas, lambendo o sexo uma da
outra e nem sequer se interromperam quando ele se juntou, misturando o seu
corpo nos delas e amando as duas. Tinha sido uma tarde inesquecível e repetida
no dia seguinte, cada vez com mais prazer. Mas as moças eram assim mesmo, à
noite, quando a casa estava cheia, atendiam quem chegava primeiro e as
escolhia. A ele, tanto fazia que se deitassem com ele e com mais não sei
quantos. Até que chegasse um velho tolo que se embeiçasse por elas e lhes
montasse casa. Às vezes, até casavam... Bebeu mais um gole de champanhe e, de
repente, foi como se um relâmpago lhe iluminasse o pensamento. É evidente, foi
isso mesmo que aconteceu! O velho Duvernois deve ter conhecido a mulher num
bordel e casou com ela. Por que outra razão estaria uma moça tão nova casada
com um velho?... E aquela frieza no olhar!, disse para si próprio. Não se
lembrava de alguma vez tê-la visto em nenhum dos bordéis de luxo que
frequentava, mas a verdade é que também nunca tinha encontrado Duvernois em
nenhum deles». In Matilda Wright, Aposta Indecente, 2011, Editor
Livros d’Hoje, Publicações dom Quixote, 2011, ISBN 978-972-204-776-0.
Cortesia de Ld’Hoje/JDACT
JDACT, Literatura, Matilda Wright,