«(…) Merecia absoluta confiança da princesa. Pode-se dizer que foi ele quem conduziu sobre os ombros o pesado encargo de todas as negociações a fim de realizar os propósitos da infanta, tendo activa correspondência com os partidários de sua senhora e com vice-reis e demais autoridades coloniais. O marquês de Casa Irujo lhe imputa o facto de haver protegido no Rio de Janeiro os perseguidos pelo vice-rei de Buenos Aires. Isso, se realmente prejudicava os interesses da Espanha, favorecia os da princesa, posto que muitos desses perseguidos eram partidários seus. Por sua mediação, foram enviados importantes auxílios para Montevideu, sendo, para isso, burladas as intrigas de lord Strangford. Apesar das censuras dos historiadores argentinos à conduta de Presas, devemos reconhecer nele grande habilidade para a intriga e excelente perspicácia para observar as questões políticas. Esses dons representam o motivo que influi para que o embaixador inglês obtivesse, em 1812, a separação de Presas da princesa, seguindo ele para a Espanha no desempenho de missão especial. Sua vida, anos mais tarde, na Espanha, teve lances de certa sensação. Resolveu o ex-secretário de dona Carlota Joaquina fazer-se publicista, contribuir com a sua opinião para o esclarecimento das questões políticas e entrou logo a guerrear o absolutismo. O seu primeiro livro, impresso na casa Carlos Lawalle Sobrinho, em Bordeaux, circulou em 1817 e despertou grande celeuma, sendo proibido por decisão das autoridades policiais.
Aludindo a esse panfleto, cujo
autor mereceria, no seu entender, pena de açoites, senão mesmo de fuzilamento,
disse o alcaide de Madrid, Julian Cid Miranda: se Presas cai em meu poder, em
menos de três dias eu o terei mandado à Plaza de la Cebada... Era o lugar em
que os inimigos da realeza pagavam pela sua audácia. Presas teve, porém, a
prudência de fugir para a França... Esse livro não era outro senão a Pintura
de los males que há causado a la España el gobierno absoluto de los últimos
reinados y de la necessidad del restablecimiento de las antiguas cortes por
estamentos, o de una Carta Constitucional dada por el rey Fernando.
Além desse livro e destas Memórias secretas de Dona Carlota Joaquina,
escreveu Presas um Juicio imparcial
sobre las principales causas de la revolución de la América Española, y acerca
de las poderosas razones que tiene la Metropoli para reconocer su absoluta independencia,
um proyecto sobre el nuevo método de convocar lãs antiguas cortes de Espanã,
conforme a las leyes fundamentales de la monarquia, y arreglado a las luces y
circunstancias del dia; um panfleto político, Filosofía del trono y del altar del império y del sacerdocio,
a que se seguiu outro: El triunfo
de la verdad; e , por fim, uma Cronología de los sucesos más memorables ocurridos em todo el âmbito de
la monarquia española, desde el año 1759 hasta 1836, este editado na Imprenta
de M. Calero, em Madrid, em 1836, ao passo que todos os demais foram
impressos em Bordeaux.
Imprimiu também, em 1815, antes
de qualquer outro livro, uma Representación que eleva al Rey Nuestro Señor
D.Fernando VII, por motivo das perseguições que sofreu em Granada, onde foi
contador provincial, por parte de vários empregados por ser ligado à família
reinante e, especialmente, à princesa do Brasil, de quem fora secretário. Em El triunfo de la verdad, publicou
o ex-secretário de dona Carlota as cartas de Fernando VII a Napoleão Bonaparte,
escritas em Valençay e nas quais o fraco soberano espanhol, num deplorável
excesso de bajulação e covardia, felicitava o poderoso imperador dos franceses,
usurpador de sua coroa e dos seus domínios, pelas brilhantes vitórias militares
alcançadas... Esse livro se caracteriza, sobretudo, pela polémica com o abade de
San Juan de la Pena, defensor do absolutismo e de Fernando VII». In José
Presas, Memórias Secretas de Dona Carlota Joaquina, Edição do Senado Federal,
volume 130, Brasília, 2013, ISBN 978-857-018-271-5.
Cortesia de ESenadoFederal/JDACT
JDACT, José Presas, Literatura, Carlota Joaquina, Brasil,