Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses.
Roskilde
«(…) Ao avistar as torres
espiraladas da catedral, tocou no ombro do condutor e disse-lhe: Vagn, não te
importas de me deixar sair? Vou ficar mais um pouco. Tens a certeza? Sim,
lembrei-me agora que ainda tenho umas coisas para fazer.
Stephanie passou ao lado da nave
e mergulhou ainda mais no interior da catedral. Para lá dos enormes pilares que
se elevavam à sua direita, o serviço religioso continuava. Os saltos baixos dos
sapatos faziam barulho no chão de pedra, mas apenas ela os escutava, graças ao
som imponente do órgão. O caminho à sua frente rodeava o altar-mor e uma série
de meias paredes e estátuas dividiam o claustro do coro. Olhou para trás e viu
o homem que dizia chamar-se Bernardo a caminhar vagarosamente. Contudo, dos
outros dois homens não havia nem sinal. Apercebeu-se de que não tardaria a
chegar à entrada principal, mas do lado contrário do edifício. Apercebia-se,
pela primeira vez, dos riscos que os seus agentes corriam. Ela nunca trabalhara
no terreno, tal não fazia parte das suas funções mas aquela também não era uma
missão oficial. Tratava-se de um assunto pessoal e oficialmente encontrava-se
de férias. Ninguém sabia que ela viajara para a Dinamarca, à excepção de Cotton
Malone e, tendo em conta a sua situação, esse anonimato estava a tornar-se um
problema. Contornou o claustro.
O seu perseguidor mantinha uma
pequena e discreta distância, sabendo por certo que ela não tinha para onde
fugir. Stephanie passou por um lanço de escadas de pedra que desciam para outra
capela lateral e, quinze metros à sua frente, viu os dois homens aparecerem no
pórtico traseiro, bloqueando-lhe a saída da igreja. Atrás de si, Bernardo
continuava a avançar. À sua esquerda ficava outro sepulcro, identificado como
Capela dos Reis Magos. Correu para o interior. Dois túmulos de mármore que
lembravam templos romanos ocupavam o interior. Escondeu-se atrás do que ficava
mais recuado e foi assolada por uma enorme sensação de pânico ao aperceber-se
da sua situação. Estava encurralada.
Malone correu para a catedral e
entrou pela porta principal. À direita avistou dois homens, robustos, cabelos
curtos e roupas discretas, parecidos com os que lhe haviam encostado uma arma
às costas. Decidiu não correr mais riscos e meteu a mão por dentro do casaco
para tirar a Beretta automática, a arma que todos os agentes do Magellan Billet
usavam. Conseguira autorização para ficar com a arma depois da reforma e
trouxera-a às escondidas para a Dinamarca, onde era ilegal possuir uma arma de
fogo. Agarrou a coronha da pistola, colocou o dedo no gatilho e escondeu-a ao
lado da coxa. Há mais de um ano que não empunhava uma arma. Era uma sensação
que pensava pertencer ao passado e da qual não tinha muitas saudades. Porém, o
voo de um homem para a morte chamara-lhe a atenção e viera preparado. Era assim
que pensava um bom agente e esse tipo de atitude já lhe salvara a vida muitas
vezes. Os dois homens estavam de costas para ele, com as armas à cintura e as mãos
vazias. A música do órgão abafou a sua chegada. Malone aproximou-se e disse: que
noite atarefada. Voltaram-se ambos e ele mostrou-lhes a arma. Vamos ser
civilizados. Por cima do ombro de um dos homens avistou um terceiro, a cerca de
trinta metros, que se dirigia calmamente na sua direcção. Quando o viu deslizar
a mão para o interior do casaco de cabedal não ficou à espera e saltou para a
esquerda, abrigando-se numa fila de bancos vazia. O disparo ecoou mais alto do
que a música e a bala acertou nos bancos à sua frente. Os outros dois homens
sacaram também das armas. Deitado, Malone disparou duas vezes. Os tiros ecoaram
pela catedral, acompanhando a música. Um dos homens foi atingido e o outro
fugiu. Malone ajoelhou-se e ouviu mais três disparos. Baixou-se e as balas
voltaram a alojar-se nos bancos de madeira. Respondeu com mais dois tiros
disparados na direcção do atirador solitário. O órgão parou de tocar.
As
pessoas perceberam o que se passava e começaram a fugir dos seus lugares,
correndo para o exterior pela porta das traseiras. Malone aproveitou a confusão
para espreitar por cima dos bancos. Viu o homem do casaco de cabedal junto à
entrada de uma das capelas laterais. Stephanie, chamou por cima do rebuliço. Não
houve resposta. Stephanie, sou eu, Cotton Malone. Diga-me se está bem. Não
obteve qualquer resposta. Rastejou até encontrar o transepto e depois
levantou-se. O caminho à sua frente rodeava a igreja e conduzia ao outro lado.
Os pilares que ladeavam o trajecto tornavam impossível um tiro certeiro e mais à
frente o coro iria escondê-lo por completo. Assim, começou a correr em frente».
In Steve Berry, O Legado dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote,
2007, ISBN 978-972-203-808-9.
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