quinta-feira, 2 de junho de 2022

As Tercenas Régias de Lisboa: dom Dinis a dom Fernando. Manuel Fialho Silva e Nuno Fonseca. «Assim sendo, as 13 taracenas, referidas no Livro dos Bens Próprios, parecem corresponder a um edifício organizado em 13 naves»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Barcelona, cidade cabeça do reino de Aragão, é dotada das suas Drassanes Reials entre 1282 e 1285, no reinado de Pedro III de Aragão, pai da esposa de dom Dinis. As tercenas de Barcelona estão intimamente ligadas ao processo de expansão mediterrânica A estrutura erguida nessa época consistia num recinto rectangular, fortificado em três lados. As dimensões totais teriam cerca de 102m de comprimento, no eixo mar-terra e 81m de amplitude no eixo paralelo ao mar. A estrutura original teria nove naves, as quais teriam capacidade para 18 galés.

No caso de Lisboa, as primeiras referências documentais a um palatium navigo-rium regis, ou seja a um Paço das naus do rei, situado na Freguesia de Santa Maria da Madalena, surge ainda no reinado de Sancho II. No entanto nada mais se pode acrescentar a esta breve informação sobre estas estruturas de apoio às actividades navais. As escavações arqueológicas conduzidas por Artur Rocha no local do actual Museu do Dinheiro, ou seja, no extremo ocidental da margem ribeirinha do arrabalde ocidental da Lisboa medieval, revelaram que esta zona da cidade estaria ainda sob a influência das marés, antes da construção do muro Norte das Tercenas. Deste modo é possível afirmar que esta zona, não estaria ainda urbanizada em meados do século XIII. A primeira referência documental à existência de tercenas régias, apenas surge no reinado de dom Dinis, em 1294, quando são referidas umas Casas das Galés pertencentes à Coroa, no contrato para a construção da muralha da Ribeira celebrado entre dom Dinis e o concelho. Poucos anos depois, no Livro dos Bens Próprios, um inventário da propriedade régia composto entre 1299 e 1300, é afirmado que o rei possuía, na Ribeira, 13 taracenas onde estavam, nesse momento, 12 galés. Pelas confrontações que surgem em vários documentos da época é possível reconstituir parcialmente as tercenas originais de dom Dinis. Assim sendo, as 13 taracenas, referidas no Livro dos Bens Próprios, parecem corresponder a um edifício organizado em 13 naves. As reconstituições que aqui apresentamos alicerçaram-se em três áreas distintas.

A primeira foi um estudo comparativo com tercenas medievais de várias cidades marítimas, o que nos possibilitou a compreensão da forma arquitectónica destas estruturas. A segunda foi a consulta à documentação medieval referente a Lisboa, com especial enfoque na documentação notarial, o que nos revelou os limites aproximados das tercenas régias de Lisboa e a evolução desta estrutura ao longo da idade média. O terceiro e último componente, fundamental para a nossa reconstituição, consistiu na confrontação dos dados provenientes de escavações arqueológicas com todas as outras informações recolhidas. Além destes três campos de investigação foi também imprescindível a consulta aos vários estudos publicados sobre as tercenas de Lisboa, destacando-se alguns autores: Augusto Vieira da Silva, José Vasconcelos Menezes, e Fernando Gomes Pedrosa». In Manuel Fialho Silva e Nuno Fonseca, As Tercenas Régias de Lisboa: dom Dinis a dom Fernando, O Mar como Futuro de Portugal, Academia de Marinha, Lisboa, 2019, ISBN- 978-972-781-145-8.

Cortesia de AcademiadaMarinha/JDACT

JDACT, Manuel Fialho Silva, Nuno Fonseca, Cultura e Conhecimento, Armada,