«(…) Sem dúvida tratava-se de um baptismo de água recebido no seio da Igreja católica, mas não recebia nenhum outro em substituição daquele. Partindo de todas estas constatações, parece-nos muito difícil seguir sustentando que o catarismo era apenas uma forma primitiva do cristianismo. Mas bem ao contrário, tratava-se em realidade de uma religião de forma absolutamente maniqueia, que não dissimulava seu rechaço do Jesus clássico da História e sua incredulidade total quanto a sua Encarnação, sua Paixão, sua Ressurreição e sua Ascensão se refere. O que ficava então do cristianismo? Nada, evidentemente. Este foi o caminho que seguiram, por sua vez, os Templários; menos de setenta anos separam a fogueira de Montségur de La Citè, e foi a mesma manopla de ferro que amordaçou a Verdade. Porque: As armas foram, em todo o tempo, os instrumentos da barbárie. Asseguraram o triunfo da matéria, e da mais pesada, sobre o espírito. Removeram, no fundo dos corações, o lado dos piores instintos.
As narrações escritas sobre
pergaminhos são destruídas por aqueles que querem manter a ignorância, mas as
palavras caem nas almas como pombas vindas de longe que, apenas pousam, partem
de novo. E esta é uma forma de justiça... In Maurice Magre, Le Sang de
Toulouse
Vamos
dar a seguir os dados sucintos dos manuscritos mais antigos de uma biblioteca
básica do cristianismo. A sua leitura, o leitor poderá convencer-se daquilo que
afirmamos ao longo desta obra, ou seja, que os documentos reais (e não aqueles citados
como desaparecidos!) não são jamais anteriores ao século IV. Mencionamos os
Evangelhos apócrifos a seguir os Evangelhos canónicos, dado que seu maior
interesse radica no facto de nos dar um reflexo do cristianismo popular das
origens [...]. Constituem o complemento dessas crónicas dos primeiros tempos
que são as grandes Epístolas paulinas e os Actos dos Apóstolos. [...] De um ponto
de vista mais estrito, os apócrifos contribuem alguns detalhes históricos que podem
não ser nada desprezíveis.
Os
Manuscritos dos Autores Pagãos
É habitual cantar os louvores dos
monges copistas, esses bons e excelentes padres que, nos mosteiros da Idade Média,
recolheram e copiaram os manuscritos dos autores gregos e latinos. O que se
omite é o que se fez dos originais. De facto, essa tarefa respondia a uma
necessidade urgente: tratava-se de fazer desaparecer todo o rasto de um Jesus
chefe de uma facção política, facção que frequentemente, por necessidade vital,
tinha derivado ao banditismo, e cujos actos, durante mais de trinta anos, não tiveram
nada de evangélicos. E também de fazer desaparecer a opinião dos autores latinos
sobre o tal Jesus, assim como a dos judeus aprazíveis, opiniões que também tinham
algo a dizer a respeito.
De modo que nos encontramos
frente a um balanço bastante decepcionante quanto aos manuscritos dos autores
antigos se refere. Os manuscritos mais antigos de Flavio Josefo são dos séculos
IX e XII, e unicamente o segundo possui a famosa passagem sobre Jesus, passagem
que todos os exegetas católicos sérios reconhecem como uma áspera interpolação.
Sobre sua Guerra judia, às vezes intitulada Tomada de Jerusalém ou Guerras da
Judeia, o texto eslavo é diferente do texto grego, e as interpolações também
são diferentes. Quanto a Tácito, os manuscritos de suas Histórias e Anais são
dos séculos IX e XI. E falta, precisamente, tudo aquilo que se refere aos anos
cruciais do nascente cristianismo, todo o período dos 28 aos 34. Aí, uma vez
mais, abundam as censuras e interpolações, às vezes de forma tão torpe que o
leitor perspicaz, sem nenhuma preparação prévia, pode jogar ao exegeta e as
descobrir por si mesmo. Daniel-Rops, sem querer, e ingenuamente,
proporciona-nos a chave desses mistérios. Em Jesus no seu tempo nos diz o
seguinte: Tome-se nota desta data: século IV. Os textos do Novo Testamento
datam, em geral, do período 50-100, portanto se intercalam três séculos entre
sua redação e os primeiros manuscritos completos que possuímos. Isto pode
parecer exagerado, mas não é nada, devemos sublinhá-lo, ao lado do espaço de
tempo que existe, em todos os clássicos da antiguidade, entre o autógrafo
desconhecido e a mais antiga cópia conhecida: mil e quatrocentos anos no caso
das tragédias do Sófocles, assim como nas obras de Ésquilo, Aristófanes e
Tucídides; mil e seiscentos anos nas de Eurípides e Catulo, mil e trezentos
anos nas de Platão, mil e duzentos nas de Demóstenes. Terêncio e Virgílio
resultaram favorecidos, já que neles a demora não foi, no primeiro, mas sim de
sete séculos, e de quatro no segundo». In Robert Ambelain, O Segredo Mortal dos
Templários, Jesus ou le mortel secret des Templiers, 1970, Éditions Robert
Laffont, Paris, Ediciones Martinez Roca, 1982, Barcelona, ISBN 842-700-727-2.
Cortesia de Roca/JDACT
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