Cortesia de wikipedia
«Colaborou assim o Navegador na recuperação dos territórios de Riba-Coa, iniciada por el-rei D. João I, seu pai, em 1403, através da bula «Eximie devotionis» de Bonifácio IX, de 3 6s Julho daquele ano, revelada e publicada no vol. I de «Monumenta Henricina», documento 128, a qual separara da diocese castelhana de Ciudad-Rodrigo e anexara à de Lamego os bens por aquela Ordem possuídos em Riba-Coa.
Tendo o infante D. Henrique projectado, em 1430, fundar hospital seu em Tomar, para o que se propusera escambar com a Ordem de Cristo as suas terras de Reigada e Pereiro, obtidas de Pero Gonçalves de Curutelo, cavaleiro de sua casa e, mais tarde, seu fidalgo, residente em Sameiro, Campo de Besteiros, por bens daquela Ordem em Tomar, por que é que, menos de quatro anos volvidos, o infante resolve anexá-las, pura e simplesmente, à Ordem referida, mediante autorização pontifícia, extensiva, aliás, a todos os bens da Ordem de Alcântara no País?
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Vimos como el-rei D. Duarte, irmão do infante, neste mesmo ano de 1434, se dispusera a reduzir e fundir os muitos, pequenos e pobres hospitais ou estabelecimentos assistenciais existentes no Reino para virem a dispensar aos indigentes maior e melhor caridade. Era, pois, inoportuna a fundação do hospital henriquino em Tomar, onde, para mais, já havia catorze, a saber:
- o de Nossa Senhora da Cadeia, depois de Nossa Senhora da Graça, sede da Misericórdia da vila;
- o de S. Pedro e o de Santa Iria, na Rua dos Moinhos;
- o de Santa Maria-a-Velha, na Rua Nova;
- o de Sant'Iago-o-Velho e o de S. João, na Rua de S. João;
- o de Sant'Iago-o-Novo e outro de Santa Iria, na Rua dos Oleiros;
- o de S. Bartolomeu, nas casas de João de Castilho;
- o de S. Martinho, na povoação do mesmo nome;
- os do Espírito Santo, de S. Brás, de S. Paulo e de S. João, na Várzea Grande.
Seguindo, pois, a orientação do irmão D. Duarte, o Navegador absteve-se de fundar novo hospital em Tomar, como projectara em 1430, e tratou de reduzir os existentes apenas a quatro:
- o de Nossa Senhora da Cadeia,
- a Gafania,
- e os de Santa Maria e de Santa Cruz, este último de invocação não constante da lista acima reproduzida, mas que nada nos permite inferir ,tratar-se de fundação henriquina.
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E estes quatro institutos assistenciais de Tomar, da redução de D. Henrique, mantiveram-se até à criação da Misericórdia local por el-rei D. Manuel, no ano de 1510.
Conta-o o Dr. Pedro Álvares Seco, em meados do século XVI:
- A egreja de Nossa Senhora da Graça, em que antiguamente soya ser hum hospital que se chamaua Nossa Senhora da Cadea, ao qual foram vnidos mujtos outros hospitaaes que nesta uilla auia pelo jfante dom Anrrique, que santa gloria aja, sendo gouernador desta ordem de Nosso Senhor Jhesu Christo, e na mesma egreja e hospital se jnstitpyo a santa confraria da Mjsericordia, per mandado delrrey dom Manuel, que santa gloria aja, no anno de 1510, e a ella mandou ajuntar o dito hospital e a guafaria e as confrarias de Santa Maria e de Santa Cruz, pera que, sopridos os encargos do dito hospital, gafaria e confrarias, do remaneçente das rrendas deles se prouese a dita confraria da Misericórdia pelo prouedor, jrmãos e oficiaaes della, como largamente se declara nos tombos da dita confraria, esprital, gafaria e confrarias que o dito doutor PedrAluares faz, per mandado delrrej nosso senhor».
In A Pobreza e a Assistência aos Pobres na Península Ibérica durante a Idade Média, Instituto de Alta Cultura, Centro de Estudos Históricos, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974.
Cortesia de Imprensa Nacional-Casa da Moeda/JDACT