A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Era verdade que ela queria
saber tudo sobre Deus e suas exigências, mas não pretendia passar o tempo todo
mergulhada em documentos, como os escribas e pesquisadores que conheciam em
Magdala, que, apesar de perigosamente influentes junto à comunidade, também
eram cómicos. Nem o próprio Eli queria juntar-se a eles. Não é bem isso..., começou
a explicar. Mas o que havia para adorar num templo vazio?, era o que realmente
queria perguntar a Silvanus. Mas talvez ele não compreendesse.
A viagem de volta parecia mais
rápida. Assim que se reuniu, no alto da colina acima de Jerusalém, e depois de
seus líderes terem contado as famílias, para se certificarem de que se
encontravam todos ali, a enorme caravana partiu. Com um sinal, as carruagens
começaram a mover-se na direcção norte, rumo à Galileia. Alguns iriam, depois,
para Jope e outros, na direcção leste, para Jericó, mas a família de Maria iria
directamente para o mar da Galileia. As coisas agora pareciam mais confusas. A
família de Maria e as cinco outras famílias religiosas de Magdala passaram a
ficar mais próximas umas das outras, mas Maria sempre procurava um jeito de
escapar. Sentia curiosidade de ver seus vizinhos do lago, e esta era a sua
oportunidade. Já sabia os nomes das cidades: Cafarnaum e Betsaida; outras, como
Nazaré, ficavam bem mais longe. Queria conhecer as pessoas que moravam nesses lugares.
No seu grupo de Magdala, não havia outras crianças, além das suas primas
distantes, Sara e Raquel, que também estavam ansiosas por novidades. Vamos dar
uma escapada!, sussurrou para elas. Vamos juntar-nos a um dos outros
grupos! Vamos!
Por um momento, surpreendeu-a que
Sara, dois anos mais velha que ela, e Raquel, ainda mais velha, acatassem a sua
ideia, mas ficou contente que assim fosse. Foram com ela, e isso é que
importava. Abaixaram-se, junto às rodas das carruagens, que rangiam, e à
respiração ofegante dos jumentos. Pouco depois, encontraram o grupo de
Cafarnaum. Era o maior de todos, composto de pessoas já idosas e adultos, que
caminhavam com dificuldade, suspirando. Havia poucas crianças no grupo e Maria
e as suas primas não ficaram por ali. Cafarnaum era a maior cidade do mar da
Galileia, situada no extremo norte do lago, mas se fosse como eram os seus
peregrinos, deveria ser um lugar sério e aborrecido. O grupo de Betsaida
parecia ser composto, na sua maioria, por pessoas devotas, afinal, fora desse
grupo que surgira o rabino que destruíra os ídolos, e também não suscitou
grande interesse para as crianças.
Pulando entre os grupos, o
pequeno bando de exploradoras aproximou-se de um grupo totalmente desconhecido,
o que não deixava de ser emocionante, quando Maria percebeu que uma menina,
mais ou menos da sua idade, as vinha seguindo. Virou-se e, na sua frente, estava
uma garota com uma massa de cabelos ruivos, amarrados sem muito sucesso por
laços. Quem é?, perguntou. Deveria ter sido Raquel ou Sara, que eram as mais
velhas, a fazer a pergunta, mas, como ficaram caladas, ela mesma o fez. Quezia,
respondeu, em voz forte. Significa cássia, a flor do cinamomo. Maria olhou para ela. Era um
tipo exótico, com o seu cabelo vermelho-escuro encaracolado e os olhos
castanho-dourados. Cássia
era um bom nome para ela. De onde é? De Magdala, respondeu. Magdala!
E seu pai? Benjamim, disse.
Mas a sua família nunca
mencionara Benjamim. E não estavam viajando com as outras seis famílias. Isso
significava que não deveriam ser pessoas devotas, e, portanto, seriam
inadequadas para a sua companhia. Havia tanta coisa em Magdala que ela não
conhecia, e agora sentia vontade de conhecer. E onde é que mora? Moramos na
parte norte da cidade, na subida que leva à estrada... Na parte nova da cidade.
Na zona onde se reuniam os novos-ricos, amigos dos romanos. Mas..., se tinham
feito a viagem como peregrinos, não poderiam ser totalmente amigos dos romanos.
Quezia, disse, com a solenidade que uma criança de 7 anos podia ter, seja
bem-vinda. Obrigada! E a menina balançou a sua bela cabeleira, fazendo
Maria sentir um tiquinho de inveja. Se eu tivesse um cabelo desses, minha mãe
ia orgulhar-se de mim. Mas do jeito que ele é, ela só acha que é banal. O próprio
cabelo dela é mais espesso e brilhante que o meu. Mas se eu tivesse o cabelo de
Quezia...» In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de
Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.
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