Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Ninguém ia querê-la. Além
disso, está prometida ao convento. É o lugar perfeito, embora me vá custar uma
fortuna. Casar-me com a sua mãe foi o maior engano da minha vida, era uma
donzela magricela e muito esperta. Não está certo que uma mulher tenha inteligência,
ao menos você não tem essa carga. Felizmente, em alguns aspectos me pareço com o
pai, disse Elizabeth, com um sorriso doce. Embora o barão Osbert não se desse
conta de que acabava de ser insultado, o homem à sua direita, que ocupava o
posto de honra que por regra geral estava reservado ao senhor do castelo,
sufocou uma gargalhada. Elizabeth tinha-se esforçado por não prestar atenção
nele, mas como não podia continuar ignorando a sua presença, voltou-se
ligeiramente para poder ver, pela primeira vez, o tristemente famoso príncipe
William. Tinha ouvido as histórias que se contavam sobre ele, é obvio. O seu
título era uma mera cortesia, porque apesar de William Fitzroy ser o filho mais
velho do rei, era fruto de uma relação extraconjugal. João-sem-Terra não tinha
tido filhos do seu primeiro casamento, então divorciou-se e casou-se com uma
moça de doze anos; entretanto, isso já fazia três anos, e como ainda não tinha
tido descendência legítima, o povo começava a perguntar-se se William acabaria
sendo nomeado herdeiro da coroa.
Seria uma desgraça para a
Inglaterra que isso acontecesse, porque as histórias sobre William Fitzroy eram
lendárias e terríveis. Era um depravado, e nesse momento tinha que fazer
penitência por ter causado a morte de uma jovem que, para começar, não teria
que ter estado na sua cama. Se ela tivesse presenciado o acontecido, teria dito
a ele como as suas acções eram reprováveis…, jamais se aproximaria do quarto de
um príncipe, claro, mas imaginava o que lhe teria dito naquelas circunstâncias.
Não se tratava do primeiro incidente relacionado com os desagradáveis hábitos
do príncipe, mas nessa ocasião a jovem pertencia à aristocracia e não tinha
sido fácil aplacar ao seu pai, que era um dos seguidores do rei João. De modo
que William se dirigia ao convento de Santa Ana para cumprir a sua penitência,
acompanhado de uma guarda armada que o protegia e de um grupo de monges que
deviam assegurar-se de que ficasse limpo de todo o pecado. E ela tinha o
duvidoso privilégio de unir-se ao grupo, até chegar sã e salva junto à reverenda
madre.
Assim que o viu, deu-se conta de
que tinha feito bem ao evitar aproximar-se dele. Não era de admirar que tivesse
deixado um rasto de luxúria e depravação por todo o reino, que mulher poderia
negar-lhe os seus cuidados? Embora aparentemente o problema consistisse em que
várias o tinham feito, e tinham sofrido as consequências. O príncipe estava sentado
relaxadamente na cadeira do seu pai, e era o exemplo perfeito de um membro da
realeza. Saltava à vista que era alto, e embora tivesse o cabelo mais curto do que
o usual, ondulava ao redor do forte rosto como a carícia de uma amante. Tinha
os olhos opacos, escuros, quase negros, e a pele do tom dourado de um homem que
passava muito tempo ao sol. Talvez desflorasse as pobres virgens a plena luz do
dia. Vestia roupa de qualidade, mas extremamente ostentosa. Tanto a sua túnica
como as suas botas de couro eram debruadas de ouro, usava um enorme anel de
rubi na mão esquerda, e usava tantas correntes de ouro no pescoço, que um homem
de menor tamanho teria ficado curvado sob o seu peso.
Não tinha a boca de um libertino…,
os seus lábios não eram grossos e rosados, seu sorriso não era lascivo. Era uma
boca forte num rosto perfeitamente barbeado e quase severo, e perguntou-se, se
aquele homem sorria alguma vez. Parecia velho para a idade que tinha, talvez se
devesse ao peso dos seus muitos pecados. Certamente, só sorria quando estava
atacando jovens inocentes. Esta é a minha filha, comentou o pai sem olhá-lo.
Não é grande coisa, mas é calada e obediente, e não o incomodará durante a
viagem. Diga ao príncipe a grande honra que é ter o seu amparo no caminho para
o convento. É uma grande honra, meu senhor. De modo que é calada e obediente,
não? Gosto das mulheres assim, murmurou o príncipe». In Anne Stuart, Desejos Ocultos, Harlequin, Harper Collins Ibérica, 2014, ISBN:
978-846-875-034-7.
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