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A mobilidade interna na Ordem de Avis
(século XII-XIV)
«(…) Não sabemos
qual foi a posição da Ordem de Avis nos conflitos que caracterizaram o reinado
de Sancho II e que estiveram na base da sua deposição. A actividade militar não
deve, porém, ter sido abandonada. E assim se explica a participação dos
cavaleiros de Avis na conquista do Algarve em meados do século XIII e a
participação, ao lado do rei Fernando III de Castela, na tomada de Sevilha em
1248.
Terminada a Reconquista
em território português, a Ordem de Avis terá continuado a participar
activamente na defesa do reino, e na construção e manutenção de várias
fortalezas. Simultaneamente, a monarquia tentava controlar a milícia de uma
maneira mais ou menos eficaz, atitude que a nosso ver se entende enquadrada,
por um lado, no conjunto de medidas tendentes à centralização régia que os
vários monarcas, desde Afonso II, vinham tomando, e, por outro, na perspectiva
mais global de estabelecimento das fronteiras entre os reinos de Portugal e da
Castela. Com efeito, sabemos que a presença e deslocações dos cavaleiros nos
territórios que lhe haviam sido doados nomeadamente junto à fronteira com o
reino vizinho estão relacionados com a actividade militar. No final do século
XIII esta terá sido mesmo imprescindível: a Crónica de Dom Dinis refere
um episódio ocorrido após 1295, que revela bem o que acabamos de verificar:
Depois do monarca Dinis I
ter entrado em Castela pelas Comarcas de Cidade Rodrigo e Ledesma, alguns capitães e senhores de Castela, dos quais
era Afonso Pires Gusmão, se ajuntaram, não para dar batalha a el-Rei Dinis I,
mas para entrar, como entraram com muitas gentes da Andaluzia e da sua
frontaria, da qual entrada mataram e cativaram de Portugal muitos homens e
mulheres (...). Ao encontro do
qual saiu o Mestre de Avis, com as gentes que pôde, e houveram ambos dura
peleja, em que houve muitas mortes e danos de ambas as partes, no fim da qual
foi o mestre vencido por as menos gentes que tinha, e muitos dos seus foram
mortos, e novecentos cativos (...).
Tendo em conta o que
acima afirmámos, o monarca Dinis, tal como os reis que o precederam, sempre
procurou manter a Ordem ao seu serviço: os motivos expressos nas doações que
lhe faz ao longo do seu reinado mostram-nos claramente o que acabamos de
afirmar (polo muito serviço,
en galardom do serviço que mi fez, por
muyto serviço que [..] a dicta
ordim e convento fezestes a mim e aaqueles onde eu venho). Mas
foi a intromissão régia no processo de eleição de um dos mestres (Garcia Peres)
que provocou a ida à corte de alguns comendadores. Em 1311, o mestre eleito
pelos Treze não agradou à totalidade dos freires, que, receosos de perderem as
comendas e os benefícios que detinham, recorreram ao rei. Este garantiu junto
de Garcia a manutenção das dignidades e cargos nos cavaleiros que anteriormente
os detinham, e, simultaneamente, autorizou, ultrapassando um dos preceitos da Regra
da Milícia, que qualquer freire que se sentisse lesado nos seus direitos pudesse
a ele recorrer directamente». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a
Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto,
2009.
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