«Elizabeth
de Bredon avançou pelo grande salão do castelo do seu pai com passo firme e o queixo
elevado. A pesada saia que vestia movia-se contra suas longas pernas, o seu
cabelo vermelho começava a escapar do fino diadema de ouro que o sujeitava, e o
seu estado de ânimo distava muito de ser hospitaleiro. Os homens do príncipe
William conseguiam ser piores que o resto dos membros do seu deplorável sexo, e
já tinha tido que resgatar duas criadas e uma ajudante de cozinha das suas
libidinosas atenções. E isso tendo em conta que nem sequer tinha conhecido
ainda ao perverso príncipe em pessoa, embora o mais provável fosse que
estivesse atacando às leiteiras do seu pai…, ou talvez às próprias vacas. Lembrou
a si mesma que só faltava uma noite mais para que a segurança do castelo deixasse
de ser responsabilidade dela. Felizmente, o convento de Santa Ana estava apenas
a duas noites de viagem. Ali estaria a salvo durante o resto da sua vida dos
homens e dos seus libidinosos desejos… Ou talvez não, porque os monges que
permaneciam agrupados num dos cantos não pareciam ser muito melhores que os
cavaleiros do príncipe William. Embora ao menos de momento não tivessem tentado
aproximar-se nem das donzelas nem dos animais.
Tratava-se de seis monges de
idades muito variadas. Um deles era muito jovem para barbear-se, e havia outro
tão velho que mal podia mover-se e que talvez aceitasse um dos seus remédios à
base de ervas; afinal de contas, tinha ajudado a acalmar as dores de Gertrude,
a velha lavadeira do castelo. Embora o mais provável fosse que o ancião se
negasse a aceitar nada dela, porque sabia por experiência que os homens
raramente a escutavam. Os outros monges não tinham nada de diferente. Dois
deles eram pálidos, calmos e normais. Outro parecia jovem e forte, e estava
claro que fazia pouco que tinha ingressado na ordem e acatava os limites que
lhe tinham sido impostos. Só o sexto, um homem de olhos azuis, brilhantes
cachos loiros e boca quase feminina, parecia à personificação de um monge casto
e silencioso. Pouco antes tinha-a olhado com um sorriso doce, e se houvesse
algum homem parecido com ele nas redondezas, que não estivesse prometido à
outra mulher nem a Deus, talvez tivesse reconsiderado os planos que tinha
traçado há muito tempo.
Mas sabia que isso seria um grave
erro, porque por mais gentis que fossem os homens e mais doces que fossem os seus
olhares e os seus sorrisos, assim que se convertiam em maridos, as mulheres
passavam a pertencer-lhes. As coisas sempre tinham sido assim, e como era muito
sensata para gastar a sua energia lutando contra algo que não podia mudar, ia
limitar-se a evitar que acontecesse a ela. Não estava disposta a acorrentar-se
a uma breve vida produzindo um filho atrás de outro até morrer pelo esforço,
como tinha acontecido à sua mãe. Queria ter solidão, força e poder, e um
convento podia proporcionar todas essas coisas a uma mulher que não era apta
para o matrimónio. Mesmo assim, o irmão Matthew tinha um sorriso lindo que
quase a fizera reconsiderar a sua escolha. Não suportava aos homens, mas
adorava crianças…, e seria maravilhoso ter vários filhos com a doce expressão
daquele monge. Filha! Elizabeth diminuiu o passo ao ouvir que seu pai a chamava
do outro extremo do salão.
Embora a infusão que tinha posto no
seu vinho às escondidas servisse para atenuar os seus apetites carnais, não
suavizava o seu temperamento colérico, então a sua única defesa consistia em
demorar a responder; desse modo, seu pai convencia-se ainda mais da
imbecilidade das fêmeas em geral, e da sua única filha em particular. Passou
por cima de um tipo adormecido que não parava de roncar, esquivou-se de um cão cheio
de pulgas, e continuou avançando pelo salão arrastando os pés. Todos diziam que
eram muito grandes, mas combinavam com a sua altura; além disso, Assim, como os
seus cinco irmãos mais novos e os seus amigos tinham descoberto rapidamente,
eram muito úteis na hora de dar chutos. O seu pai estava sentado ao lado do seu
lugar de costume na cabeceira da mesa, e não parecia muito feliz pela situação.
Onde esteve, tonta magricela?, disse-lhe, com orgulho paternal.
Estava assegurando-me de que os seus
convidados estivessem confortáveis, pai, respondeu com o paciente tom de voz
que reservava para ele. A essas alturas, o seu pai era o único que se atrevia a
bater nela, e não tinha nenhuma lembrança agradável. Procurava manter-se afastada
dele, como lhe era possível, e quando não tinha outra opção a não ser falar com
ele, comportava-se como uma simplória. Era o que ele esperava, e tudo ficava
mais fácil dessa forma. Às vezes, os seus próprios estratagemas divertiam-na. O
pai estava convencido de que todas as mulheres eram tolas, enquanto que ela
pensava o mesmo do sexo masculino. A julgar pelos membros da sua própria
família, os homens eram panacas, presunçosos e estúpidos. Então estava assegurando-se
de que estivessem confortáveis, não? Um saco de ossos não lhes daria nenhum
bem-estar, disse as seu pai com tom zombador. Acaso desejava que lhes
oferecesse um prazer mais pessoal, pai?, perguntou ela com fingida inocência». In Anne
Stuart, Desejos Ocultos, Harlequin, Harper Collins Ibérica,
2014, ISBN: 978-846-875-034-7.
Cortesia de Harlequin/Harper Collins
Ibérica/JDACT