Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Isabel Cruz
Onde se pergunta quem foi, afinal, o primeiro rei de Portugal.
«Falamos
de uma história de novecentos anos, mais pózinho, menos pózinho, quando
Portugal era ainda uma miragem. Afonso VI de Castela e Leão, imperador de toda
a Hispânia, quando do matrimónio de sua filha ilegítima dona Teresa com o conde
Henrique da Borgonha, tinha criado o Condado Portucalense, oferecendo-o como
dote a sua filha. Os condes de Portucale governavam este cantinho da Península,
vassalos do Rei de Castela.
Ora, vivia na corte um fidalgo, Egas Moniz de seu nome, pertencente à nobre
família de Ribadouro. Homem de toda a confiança, solicitou aos seus amos que
lhe permitissem a honra de ser aio do futuro governante. E assim se fez quando
nasceu Afonso Henriques que veio a ser o único descendente masculino
sobrevivente de Henrique e Teresa. Pobre Afonso! Dizem alguns que terá nascido
fraco, com as perninhas tortas, as más línguas diziam até que era corcundinha.
Temeu-se pela sua vida. Era este bebé o futuro conde, o futuro chefe militar?
Que futuro para o Condado! Que grande tristeza!
Egas Moniz era profundamente dedicado ao pequeno. Foi seu tutor, amigo, mestre
d’armas… O bem-estar do amo era a sua preocupação maior. Devoto da Virgem
Maria, rezava-lhe amiúde, pedindo pela saúde da criança que tanto amava. Teria
Afonso uns 5 anos de idade, quando sonhou Egas com Nossa Senhora. Esta
ordena-lhe: vai, Egas Moniz! Leva Afonso à minha igrejinha de Cárquere (Resende)
e aí será curado! Egas pôs-se a caminho com o jovem infante, cheio de
esperança.
Colocado o pequeno no altar,
terá então procurado uma imagem escondida da Virgem, acendido 2 velas e
esperado, murmurando as suas preces. O tempo, nesse tempo sem relógios, passa.
Egas adormece, cansado. Uma das velas cai. Assustado, o infante levanta-se com
esforço, evitando as chamas e a queimadura certa. Curado sim, com a ajuda da
Nossa Senhora. E regressam à corte, aio e amo.
O povo rejubilou!!!! O conde
Henrique, agradecido pela graça concedida, manda construir, junto à igreja, o
Mosteiro de Santa Maria de Cárquere. Egas Moniz foi obreiro do milagre. Mas
será que foi mais do que isso?
É que se
conta, no rol de histórias que passam, que o infante, frágil e enfezado, não
terá resistido à primeira infância, deixando o domínio sem herdeiros
masculinos… E que Egas Moniz, combinado ou não com o conde Henrique, terá
trocado a criança morta por um dos seus próprios filhos, assegurando assim a
continuação do Condado Portucalense… Quem sabe?
Sabe-se que
Afonso cresceu e se fez homem. Alto e forte, segundo estudos feito no seu
túmulo, dizia-se que a sua espada era pesadíssima e que nenhum outro poderia
manejá-la. E não queria ser conde! Queria ser Rei! E, para tal, combateu os do
seu próprio sangue (?), com Egas Moniz sempre a seu lado. Conforme se diz
noutro relato, no auge da guerra pela independência de Portugal, Egas Moniz faz
uma promessa de cavaleiro ao rei de Castela e Leão, Afonso VII, em nome de
Afonso. Afonso não cumpre! Então Egas Moniz e a família viajam a Toledo,
apresentando-se ao Rei de Castela e Leão, todos de corda ao pescoço, oferecendo
a vida. Afonso VII, condoído, perdoa… E os Moniz voltam para Portugal. Para seu
rei…, ou seu parente chegado?
Ao falecer Egas, foi sepultado junto ao seu Paço de Sousa, Penafiel.
Posteriormente, foi transladado para o interior do Mosteiro. É então que, para
espanto de todos, se viu serem os ossos das suas pernas extremamente longos,
transformando-o aos olhos das gentes num homem descomunal, um verdadeiro
gigante para a época. Aio ou pai do primeiro Rei de Portugal, Egas Moniz foi,
sem dúvida, um homem lendário!»
«O Mosteiro de Santa Maria de Cárquere é um mosteiro de Cónegos Regrantes de
Santo Agostinho,
datado do século XII, constituído por uma igreja, de base românica, modificada
no gótico, constituída por uma nave, capela-mor, sacristia, panteão e torre
sineira, e por uma zona conventual construída em volta de um claustro. Nesta se
pode encontrar a mais antiga iconografia da Gaita de Foles conhecida na
Península, esculpida num capitel. Santa Maria de Cárquere vem referido
na Crónica de 1419 como local da cura milagrosa de Afonso Henriques. Egas Moniz
da casa de Ribadouro teria pedido ao conde
Henrique, que o deixasse ser o aio da descendência que esperava de dona
Teresa, independentemente de vir a ser um filho varão ou uma filha. Nasceu
então Afonso Henriques mas, segundo a lenda, o infante recém-nascido apresentava
uma má formação nas pernas que fazia temer o pior:
quando veio o tempo que a Rainha
houve seu filho grande e fermoso mais que não podia mais ser moço da sua idade,
senão tam soomente que tinha as pernas encolheitas, em guisa que todos dezião,
assi mestres como os outros, que nunqua mais podia ser são delas.
Recebendo
Egas Moniz a incumbência que tinha rogado ao conde ao ser nomeado aio
encarregado da educação do infante, ficou muito sensibilizado pela maleita do
recém nascido:
E, quando
Egas Monis vio tam bella criatura e o vio assim tolheito, ouve dela mui grande
doo, pero, confiando em Deus que lhe poderia dar saude, tomou o moço e feze-o
criar tam bem e tam honradamente como se fizera se fora são.
Então,
quando a criança tinha cinco anos, o milagre?! aconteceu e Santa Maria apareceu
ao aio dizendo-lhe que buscasse um lugar onde existia uma igreja inacabada que
lhe era dedicada e aí fizesse vigília e no altar colocasse a criança que seria
curada. Egas Moniz assim procedeu e a criança foi curada. Diz-se então que, por
força deste milagre, foi construído nesta igreja o mosteiro por Henrique:
E por este
milagre que asi acontece o foi depois feito nesta igreja o mosteiro de Cárcere».
[…]
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Wikipedia
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