domingo, 2 de fevereiro de 2020

Imperatriz dona Leopoldina. Marsilio Cassotti. «A irmã preferida da rainha Maria Antonieta não foi a única parente próxima da futura imperatriz do Brasil que perdeu o trono naquele ano. As tropas revolucionárias francesas…»

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Sob as asas da águia (1798-1806)
«(…) A arquiduquesa Leopoldina herdou também as características físicas tradicionais dos Habsburgo do ramo austríaco. Era loura, de pele muito branca, e tinha os olhos azuis, de uma beleza que jamais perderia. Durante a infância se parecia muito com a arquiduquesa Maria Clementina, que nasceu pouco depois de ela completar um ano, e que em família seria chamada simplesmente de Maria. Segundo os diários de uma condessa dinamarquesa que visitou Viena no ano do nascimento dessa arquiduquesa, a imperatriz estava tão apaixonada por seu esposo que tentava evitar que ele se relacionasse com outras mulheres da corte. O estilo de vida da família imperial imposto por ela, que alguns chamariam equivocadamente de burguês, por conta de sua aparente simplicidade, teria sido, segundo a condessa, uma forma de garantir que o marido não se encontrasse muito com algumas belíssimas mulheres da aristocracia vienense. Os burgueses de Viena, por sua vez, consideravam Maria Teresa uma mulher de virtude inatacável, que realizava as obras de caridade que se esperava que uma imperatriz realizasse, tarefa na qual se fazia acompanhar por suas filhas à medida que cresciam. Nos citados diários narra-se uma cena que teria acontecido nos jardins do palácio de Laxenburgo, onde a família imperial costumava passar parte da Primavera e o Verão.
Um estrangeiro viu o imperador sentado sozinho num banco, absorto em seus pensamentos. De súbito, a imperatriz se aproximou para abraçá-lo e ele exclamou: porque nunca me deixa sozinho, para que eu possa respirar um instante? Pelo amor de Deus, não me siga o tempo todo. Maria Teresa também era criticada por passar muitas tardes cantando e actuando em comédias que eram representadas no círculo familiar mais íntimo dos Habsburgo. A bem da verdade, a imperatriz não parecia muito preocupada quando, em 1799, seus pais foram destronados pela chamada Revolução Napolitana, herdeira da francesa. A avó materna de Leopoldina acabou refugiada na ilha da Sicília.
A irmã preferida da rainha Maria Antonieta não foi a única parente próxima da futura imperatriz do Brasil que perdeu o trono naquele ano. As tropas revolucionárias francesas derrubaram também o grão-duque da Toscana, tio paterno de Leopoldina. O papa, que estava sob a protecção do grão-duque desde que os franceses haviam entrado em Roma e ajudado a declarar a República Romana, foi levado à França. Contam que Maria Teresa ficou muito comovida ao saber que o pontífice tinha morrido na prisão e que o seu funeral havia sido humilhante. Colocado num simples ataúde de madeira como o que então usavam os pobres, ele foi enterrado, no fim de Janeiro de 1800, num cemitério local com uma lápide que dizia: cidadão Gianangelo Braschi, de profissão, papa.
Durante séculos, a Casa de Habsburgo havia sido um dos grandes pilares do pontificado romano, e, de certo modo, era lógico que a imperatriz se sentisse afectada pela sorte de um de seus representantes. Mas também é possível que isso se devesse ao facto de que os seguidos nascimentos de seus filhos a teriam tornado mais sensível diante de certas coisas. Depois de dar à luz Maria Clementina, a imperatriz havia trazido ao mundo um segundo menino e, em 1801, a arquiduquesa Maria Carolina, futura princesa da Saxónia. No ano seguinte nasceria o arquiduque Francisco Carlos. Desse modo, ao completar cinco anos Leopoldina fazia parte de uma unida família de vários irmãos com quem passava grande parte do dia, pois os meninos e as meninas tiveram inicialmente uma aia em comum, além dos camareiros e porteiros; e ainda, cada criança possuía uma camareira e criadas de câmara próprias». In Marsilio Cassotti, Imperatriz D. Leopoldina, tradução de Sandra Dolinsky, Manuscrito Editora, 2015, ISBN 978-989-881-803-4.

Cortesia de ManuscritoE/JDACT