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de wikipedia e jdact
Sancho
II de Portugal. Um Conspecto Historiográfico
Com
a devida vénia ao Doutor José Varandas
Fr.
António Brandão (1632). Quarta
parte da Monarchia Lusitana que conthem a Historia do reyno de Portugal, desde
o tempo delRey D. Sancho I, até o reynado delRey D. Affonso III. Lisboa,
ed. por Pedro Crasbeek, 1632
«(…)
O
cognome do rei parece ser outra preocupação de fr. António Brandão, que defendia
a utilização daquela peça de vestuário por parte do rei como uma espécie de pagamento
de promessa por causa de enfermidades que teria tido enquanto criança. Corroborava
esta afirmação com a idade adulta do rei, os 20 anos, altura em que o monarca
poderia vestir o hábito dos monges de S. Francisco, já que na sua infância esta
ordem menorita ainda não se tinha implantado na terra portuguesa.
A
concórdia com Estêvão Soares Silva e com as suas três tias são também futuros
clássicos tratados pela pena do cisterciense. As causas e as disposições de
ambas as concordatas, bem como a sua existência, não são postas em causa por
Brandão, embora desconfie que os textos chegados até ele, e que perduraram,
muito dificilmente corresponderiam, cláusula por cláusula, ao espírito dos dois
textos assinados naquele ano de 1223. Outra dimensão aberta pela obra de
António Brandão sobre as incertezas em torno de Sancho II é a da participação
do monarca nas empresas militares contra o Islão. Alicerçado por bulas de
cruzada e de incentivo despachadas pelos papas para terra portuguesa e
destinadas a dinamizar no rei o espírito da investida contra as tropas de Mafoma,
além de citar outros autores que reafirmam essas existências, Brandão valoriza a
participação do rei português que, segundo ele, estaria já em 1225 em plena
campanha contra aquelas forças inimigas. A crítica a Brandão não aceita alguma
documentação por aquele citada, como verdadeira. Muitos consideram que
documentos referidos como existentes na Torre do Tombo, mas nunca lidos pelo
cisterciense, seriam de reinados anteriores e teriam sido confundidos com
apelos à guerra e com descrições sobre a participação de outros reis
portugueses na guerra contra os Sarracenos, como Afonso Henriques ou Sancho I.
E,
sob o ponto de vista militar, é António Brandão que, pela primeira vez na historiografia
portuguesa, introduz a problemática da conquista de Elvas, directamente pelo
rei de Portugal e da conquista de outras praças-fortes bem no interior do limes islâmico do Gharb. Achava Brandão que a conquista se reportava
ao ano de 1226, embora mais tarde as fontes viessem a confirmar antes a data de
1230, quase na mesma altura em que a fortaleza de Mérida cai nas mãos dos
cristãos. Foi, Alexandre Herculano, quem mais tarde deu algum sentido à
disparidade de informação entre as crónicas portuguesas e as estrangeiras acerca
das datas em que Elvas caiu nas mãos dos guerreiros portugueses. A cidade teria
sido tomada em 1226 numa primeira investida mas o contingente que a conquistou
não a conseguiu manter, ou então, optou por destruir os seus muros e infraestruturas
mais importantes e depois abandonou-a. A ameaça cristã de novo assalto fez com
que os seus habitantes e respectiva guarnição fossem forçados a abandoná-la
definitivamente. É desta forma que as forças de Sancho II ocupam esta praça em
1230.
Inevitável,
incontornável, e sem qualquer espécie de dúvida, encarado como um problema
importante está o polémico casamento de Sancho II com dona Mécia Lopes Haro.
Citando A. Magalhães Basto no comentário crítico que faz àquele episódio, os
principais argumentos de Brandão resumir-se-iam da seguinte forma:
1- Conhecendo
ele, Brandão, escrituras de doação de quasi todos os anos do reinado de Sancho,
em nenhuma aparece nomeada dona Mécia, ou qualquer outra, como mulher do rei;
mas a este respeito adverte; poderá haver alguma (escritura) que eu não visse
em que se lhe dê este título, mas é dificultoso, porque vi muitas.
2- As bulas que
há para el-rei não tocam cousa alguma em seu casamento.
3- Não fala do
casamento o arcebispo Rodrigo Ximenes, tendo, aliás, acabado a sua História em 1243.
4- Nem tampouco
de tal casamento faz cargo a Sancho II o papa Inocêncio IV na bula de
deposição, de 24 de Julho de 1245, na qual, no entanto, este pontífice aponta todos
os defeitos e acções indecentes do rei.
5- Não prova o
casamento a escritura publicada por Gudiel, celebrada em Castela, no ano de
1257, e na qual dona Mécia se nomeia rainha, porque uma cousa é ter-se ela por
rainha, e nomear-se por tal (…) outra é sê-lo de feito.
Neste contexto, de que não teria
havido casamento, Brandão coloca a hipótese de dona Mécia ter sido chamada a
Portugal com esse engodo, ou eventual vontade do rei. Não sendo esposa de Sancho
II a tradição do seu rapto e prisão no castelo de Ourém não colocava grandes
problemas a fr. António Brandão. Não estando casada o ser arrancada à força ao
rei de Portugal não parecia tão dramático, como se o fosse». In José
Varandas, Bonus Rex ou Rex Inutilis, As Periferias e o Centro. Redes de poder
no reinado de Sancho II (1223-1248),Ude Lisboa, FdeLetras, DdeHistória, Tese de
Doutoramento em História, História Medieval, 2003, Wikipedia.
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