segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

O Mistério das Catedrais. Interpretação Esotérica. Fulcanelli. « Tal como o dia, no Génesis, sucede à noite, a luz sucede à escuridão. Tem por símbolo a cor branca. Atingindo este grau, os Sábios asseguram que a sua matéria está livre de toda a impureza…»

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Paris
«(…) O artista faz pouco caso delas porque são superficiais e passageiras. São apenas um testemunho de continuidade e de progressão das mutações internas. Quanto às cores essenciais, duram mais tempo que esses matizes transitórios e afectam profundamente a própria matéria, marcando uma mudança de estado na sua constituição química. Não se trata de tons fugazes, mais ou menos brilhantes, que cintilam na superfície do banho, mas sim de colorações na massa que se manifestam exteriormente e assimilam todas as outras. Será bom, cremos nós, precisar este ponto importante. Estas fases coloridas, específicas da cocção na prática da Grande Obra, serviram sempre de protótipo simbólico; atribuiu-se a cada uma delas uma significação precisa e, muitas vezes, bastante extensa para exprimir sob o seu véu certas verdades concretas. É assim que em todos os tempos, existiu uma língua das cores, intimamente unida à religião, tal como diz Portal, e que reaparece na Idade Média, nos vitrais das catedrais góticas.
A cor negra foi atribuída a Saturno, que se tornou, em Espagíria, o hieróglifo do chumbo; em Astrologia, um planeta maléfico; em Hermetismo, o dragão negro ou Chumbo dos Filósofos; em Magia, a Galinha negra etc. Nos templos do Egipto, quando o recipiendário estava pronto para as provas iniciáticas, um sacerdote aproximava-se dele e segredava-lhe ao ouvido esta frase misteriosa: Lembra-te que Osíris é um deus negro!. É a cor simbólica das Trevas e das Sombras infernais, a de Satã, a quem se ofereciam rosas negras, e também a do Caos primitivo, em que as sementes de todas as coisas estão confundidas e misturadas; é o sable da ciência heráldica e o emblema do elemento terra, da noite e da morte.
Tal como o dia, no Génesis, sucede à noite, a luz sucede à escuridão. Tem por símbolo a cor branca. Atingindo este grau, os Sábios asseguram que a sua matéria está livre de toda a impureza, perfeitamente lavada e completamente purificada. Apresenta-se então sob o aspecto de granulações sólidas ou de corpúsculos brilhantes, com reflexos adamantinos e de uma brancura resplandecente. O branco também foi aplicado à pureza, à simplicidade, à inocência. A cor branca é a dos Iniciados porque o homem que abandona as trevas para seguir a luz passa do estado profano ao de Iniciado, de puro. É espiritualmente renovado. Este termo Branco, diz Pierre Dujols, tinha sido escolhido por razões filosóficas muito profundas. A cor branca, a maior parte das línguas atestam-no, sempre designou a nobreza, a candura, a pureza. Segundo o célebre Dictionnaire-Manuel hébreu et chaldéen, de Gesenius, hur, heur, significa ser branco; hurim, heurim, designa os nobres, os brancos, os puros. Esta transcrição do hebraico, mais ou menos variável, (hur, heur, hurim, heurim) conduz-nos à palavra heureux (feliz). Os bienheureux (bem-aventurados), aqueles que foram regenerados e lavados pelo sangue do Cordeiro, são sempre representados com vestes brancas. Ninguém ignora que bem-aventurado é ainda o equivalente, o sinónimo de Iniciado, nobre, puro. Ora os Iniciados vestiam-se de branco. De igual maneira se vestiam os nobres. No Egipto, os Manes vestiam também de branco. Phtah, o Regenerador, cobria-se igualmente de branco para indicar o novo nascimento dos Puros ou Brancos. Os Cátaros, seita à qual pertenciam os Brancos de Florença, eram os Puros Florença, eram os Puros. Em latim, em alemão, em inglês, as palavras Weiss, White, significam branco, feliz, espiritual, sábio. Pelo contrário, em hebraico schher caracteriza uma cor negra de transição, ou seja, o profano procurando a iniciação. O Osíris negro que aparece no começo do ritual funerário, diz Portal, representa esse estado da alma que passa da noite ao dia, da morte à vida. Quanto ao vermelho, símbolo do fogo, assinala a exaltação, a predominância do espírito sobre a matéria, a soberania, o poder e o apostolado. Obtida sob a forma de cristal ou de pó vermelho, volátil e fusível, a pedra filosofal torna-se penetrante e idónea para curar os leprosos, ou seja, para transmutar em ouro os metais vulgares que a sua oxidabilidade torna inferiores, imperfeitos, doentes ou achacados». In Fulcanelli, 1926, Le Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, 1975, Lisboa, Colecção Esfinge.

Cortesia de E70/JDACT