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Paris
«(…) O
artista faz pouco caso delas porque são superficiais e passageiras. São apenas
um testemunho de continuidade e de progressão das mutações internas. Quanto às
cores essenciais, duram mais tempo que esses matizes transitórios e afectam
profundamente a própria matéria, marcando uma mudança de estado na sua
constituição química. Não se trata de tons fugazes, mais ou menos brilhantes,
que cintilam na superfície do banho, mas sim de colorações na massa que se
manifestam exteriormente e assimilam todas as outras. Será bom, cremos nós, precisar
este ponto importante. Estas fases coloridas, específicas da cocção na prática
da Grande Obra, serviram sempre de protótipo simbólico; atribuiu-se a cada uma
delas uma significação precisa e, muitas vezes, bastante extensa para exprimir
sob o seu véu certas verdades concretas. É assim que em todos os tempos,
existiu uma língua das
cores, intimamente unida à religião, tal como diz Portal, e que reaparece na
Idade Média, nos vitrais das catedrais góticas.
A cor negra foi atribuída a
Saturno, que se tornou, em Espagíria, o hieróglifo do chumbo; em Astrologia, um
planeta maléfico; em Hermetismo, o dragão
negro ou Chumbo dos Filósofos; em Magia, a Galinha negra etc. Nos
templos do Egipto, quando o recipiendário estava pronto para as provas iniciáticas,
um sacerdote aproximava-se dele e segredava-lhe ao ouvido esta frase
misteriosa: Lembra-te que Osíris é
um deus negro!. É a
cor simbólica das Trevas e das Sombras
infernais, a de Satã, a quem se ofereciam rosas negras, e também a do Caos primitivo, em que as sementes de todas as coisas estão
confundidas e misturadas; é o sable
da ciência heráldica e o emblema do elemento terra, da noite e da morte.
Tal como o dia, no Génesis,
sucede à noite, a luz sucede à escuridão. Tem por símbolo a cor branca.
Atingindo este grau, os Sábios asseguram que a sua matéria está livre de toda a
impureza, perfeitamente lavada e completamente purificada. Apresenta-se então
sob o aspecto de granulações sólidas ou de corpúsculos brilhantes, com reflexos
adamantinos e de uma brancura resplandecente. O branco também foi aplicado à
pureza, à simplicidade, à inocência. A cor branca é a dos Iniciados
porque o homem que abandona as trevas para seguir a luz passa do estado profano
ao de Iniciado,
de puro. É espiritualmente
renovado. Este termo Branco, diz
Pierre Dujols, tinha sido escolhido por razões filosóficas muito profundas. A
cor branca, a maior parte das línguas atestam-no, sempre designou a nobreza, a candura, a pureza. Segundo
o célebre Dictionnaire-Manuel hébreu et chaldéen, de Gesenius, hur, heur, significa
ser branco; hurim, heurim, designa os nobres, os brancos, os puros. Esta
transcrição do hebraico, mais ou menos variável, (hur, heur, hurim, heurim) conduz-nos à palavra heureux (feliz). Os bienheureux (bem-aventurados),
aqueles que foram regenerados e lavados pelo sangue do Cordeiro, são sempre
representados com vestes brancas. Ninguém ignora que bem-aventurado é ainda o equivalente, o sinónimo de Iniciado, nobre, puro. Ora os Iniciados vestiam-se de branco. De
igual maneira se vestiam os nobres. No Egipto, os Manes vestiam também de branco. Phtah, o Regenerador, cobria-se igualmente de
branco para indicar o novo nascimento dos Puros ou Brancos. Os Cátaros,
seita à qual pertenciam os Brancos de
Florença, eram os Puros Florença, eram os Puros. Em latim, em
alemão, em inglês, as palavras Weiss,
White, significam branco, feliz,
espiritual, sábio. Pelo contrário, em hebraico schher caracteriza uma cor
negra de transição, ou seja, o profano procurando a iniciação. O Osíris negro
que aparece no começo do ritual funerário, diz Portal, representa esse estado
da alma que passa da noite ao dia, da
morte à vida. Quanto
ao vermelho, símbolo do fogo, assinala a exaltação, a predominância do espírito
sobre a matéria, a soberania, o poder e o apostolado. Obtida sob a forma de
cristal ou de pó vermelho, volátil e fusível, a pedra filosofal torna-se penetrante e
idónea para curar os leprosos, ou seja, para transmutar em ouro os metais
vulgares que a sua oxidabilidade torna inferiores, imperfeitos, doentes ou achacados». In Fulcanelli, 1926, Le
Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica
dos símbolos herméticos, Edições 70, 1975, Lisboa, Colecção Esfinge.
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