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A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Eli, sisudo, preparava-se
para responder quando, de repente, ocorreu uma comoção, lá à frente, e a
caravana parou. Natan deixou o grupo e correu para lá. Mas a notícia
espalhou-se pelo grupo muito antes que Natan chegasse à frente da caravana.
Ídolos! Um esconderijo de ídolos! Rapidamente, a caravana transformara-se numa
massa única e todos corriam para a frente, para ver os ídolos. O clima era de
excitação, quem, de entre eles, teria realmente visto um ídolo dos antigos? Havia
os modernos ídolos romanos, naturalmente, embora mesmo esses estivessem
confinados a cidades como Séforis, na Galileia, que poucas das pessoas da
caravana teriam ousado visitar. Mas ídolos antigos! Aqueles ídolos lendários
que os profetas amaldiçoavam e que tinham levado à ruína e ao exílio dois
reinos: o do norte de Israel e o de Judá. Até os seus nomes eram pronunciados
com uma espécie de medo: Baal. Astarte. Moloc, Dagon. Merodac. Baal-Berit. Um
rabino de Betsaida estava em pé à beira da estrada, perto de umas camadas
rochosas com uma pequena abertura, onde dois dos seus assistentes escavavam e
retiravam objectos embrulhados. Uma fila deles encontrava-se já pelo chão,
jazendo como guerreiros mortos.
A marca era perfeitamente
visível!, gritava o rabino, apontando a rocha que cobria a entrada da gruta. Por
que é que ele acha que tem o direito de a abrir? Perguntava-se Maria. Eu sabia
que era coisa do mal!, gritou o rabino, como se respondesse à pergunta
silenciosa de Maria. Devem ter sido escondidos há muito tempo, na esperança de
que os seus donos voltassem para os recuperar, restaurar e recolocá-los em
locais altos, ou onde quer que fosse, para serem adorados. Mas talvez tenham
morrido na Assíria, o que foi justo. Desembrulhem-nos!, gritou para os seus
assistentes. Desembrulhem-nos, para que os possamos partir e destruir! Que horror!
Ídolos! Todas as abominações devem ser destruídas! As ligaduras de pano
amareladas tinham-se deteriorado de tal forma que era difícil desenrolá-las, e
o rabino ordenou que as cortassem com facas. Surgiram figuras de cerâmica,
rústicas, com olhos protuberantes, e braços e pernas que pareciam de pau. Maria
apertou com firmeza o tesouro que escondera no seu cinto. O seu não era feio
como aqueles, era lindo.
Quando o rabino começou a partir
as figuras com um porrete, Maria chegou a pensar se também deveria atirar o seu
para junto dos outros. Mas a ideia daquele belo rosto a ser destruído era
dolorosa. E ficou a olhar para os ídolos, abandonados àquela chuva de cacos. Um
pedaço de um braço minúsculo pousou na sua manga, e ela pegou nele e
examinou-o. Parecia um pequeno osso de galinha. Parecia até ter garras. Sem
pensar, enfiou-o também no seu cinto. Quem achas que eram?, perguntou Silvanus,
de repente. Talvez fossem deuses dos cananeus. Podiam ser qualquer coisa. Uma
chuva de pedaços de ídolos caiu sobre eles. - Bem, o que quer que fossem,
deixaram de ser. Desapareceram para sempre. Mas um deus podia desaparecer para
sempre? Um deus podia ser destruído? Perguntava-se Maria. Ai daquele que diz à
madeira: acorda! E à tosca pedra: desperta!, gritava o rabino, golpeando os
ídolos, uma última vez, com o seu porrete. Como pode uma coisa destas proferir
oráculos? Estão a ver? É revestido a ouro e prata, mas não existe vida dentro
dele. Fez uma pausa, abanando a cabeça em sinal de satisfação. Depois, apontou
em direcção a Jerusalém e, com uma voz de júbilo, citou os versos do profeta Habacuc:
o Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra!
Ergueu o seu cajado. Amanhã, meus amigos! Amanhã
veremos o Templo sagrado!
Abençoado seja o único e eterno Senhor! E cuspiu no que restava dos ídolos». In
Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições
Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.
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