sábado, 31 de março de 2018

No 31. Páscoa. A Mulher do Vaso de Alabastro. Margaret Starbird. «Também são muito significativas as numerosas aparições recentes da Virgem Maria, a única imagem de deusa permitida pela cristandade»

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«(…) Existem várias possibilidades sobre a heresia do casamento de Jesus. Talvez ela seja autêntica e tenha sobrevivido porque os que a defendiam não apenas acreditavam nela como sabiam que era verdadeira (por exemplo, por meio de provas como o célebre tesouro dos templários: sob a forma de documentos ou artefactos genuínos). Ou talvez ela tenha sido disseminada na tentativa de devolver o princípio do feminino perdido ao dogma cristão, que estava claramente desequilibrado em favor do masculino. Essa restauração do equilíbrio dos opostos, base da filosofia clássica, pode ter sido considerada necessária para o bem-estar da civilização. O culto do feminino floresceu em Provença no século XII. Tentativas confluentes dos cabalistas judeus de resgatar a Senhora Matronit como a esposa perdida de Jeová, na mitologia judaica, comprovam o facto de que esse resgate do feminino era visto como importante, ou mesmo vital. Um movimento semelhante acontece hoje no mundo ocidental, revelando-se em estudos junguianos na área da psicologia, nos conceitos asiáticos do yin/yang e na consciência da deusa. Também são muito significativas as numerosas aparições recentes da Virgem Maria, a única imagem de deusa permitida pela cristandade. E as suas imagens têm sido vistas derramando lágrimas em igrejas cristãs por todo o mundo. Esses fenómenos vêm ganhando destaque na comunicação social nos últimos nos. Até as pedras choram! O feminino desprezado e esquecido está suplicando para ser reconhecido e abraçado por nossa era moderna.
A perda do feminino teve um impacto desastroso na nossa cultura. Masculino e feminino estão profundamente feridos neste início do terceiro milénio. As dádivas do feminino não foram aceitas ou apreciadas por completo. Enquanto isso, o masculino, frustrado pela incapacidade de harmonizar as suas energias com um feminino bem desenvolvido, continua a liderar o mundo empunhando a espada, brandindo armas irresponsavelmente, atacando com violência e destruição.
No mundo antigo, o equilíbrio entre as energias opostas era compreendido e respeitado. Mas, no mundo moderno, as atitudes e os atributos masculinos têm dominado. A adoração do poder e da glória do princípio masculino/solar está a poucos passos da adoração do filho: um culto que, com frequência, produz um homem mimado e imaturo- zangado, frustrado, entediado e, muitas vezes, perigoso. Sem poder integrar-se à sua outra metade, o masculino se exaure. O resultado final do princípio feminino desvalorizado não é apenas a poluição ambiental, o hedonismo ou a criminalidade desenfreada. O resultado fundamental é o holocausto. Este livro é uma exploração da heresia do Santo Graal e um argumento a favor do resgate da mulher de Jesus, com base em importantes provas circunstanciais. É também uma busca do significado da Noiva Perdida na psique humana, na esperança de que seu retorno ao nosso paradigma de completude possa nos ajudar a restaurar a terra infértil. Aqui, registei os resultados da minha busca pessoal pela Noiva Perdida na história cristã. Procurei explicar de que modo ela foi esquecida e como esse facto tem sido devastador para a civilização ocidental.
Tentei, ainda, visualizar o que aconteceria se conseguíssemos restituí-la ao paradigma. Os anos que passei pesquisando acarretaram consequências. Levei o assunto a sério. Doutrinas nas quais acreditei pela fé tiveram que ser arrancadas e descartadas para que novas crenças fossem plantadas e cuidadas até formarem raízes. Toda a estrutura da Igreja Católica da minha infância precisou ser desmontada para deixar à mostra a perigosa falha existente em suas fundações, permitindo que um novo sistema de crenças pudesse ser cuidadosamente reconstruído quando a fissura tivesse se fechado. Esse processo durou muitos anos. Em algum momento, desisti de ser apologista da doutrina e embarquei na busca pela verdade. Estou dolorosamente consciente de que minhas conclusões não são ortodoxas, mas isso não significa que não sejam verdadeiras. Muitas pessoas estão se tornando cada vez mais conscientes do abismo que separa as descobertas dos modernos estudiosos da Bíblia da versão de cristandade ensinada nos púlpitos das igrejas.

Miriam do Jardim
Ela sentiu um calafrio ao enrolar-se no manto e cobrir o corpo delgado. O tempo estava frio. O sol flamejante já se havia escondido além do muro do jardim, atrás do Templo do Monte Sião. As fragrâncias no ar a acalentavam, suavizando seus nervos retesados, enquanto permanecia sentada no banco de pedra sob a amendoeira. O brilho prateado do luar lançava sombras na passagem que levava até ao portão. Ela esfregou os dedos dos pés na areia macia, formando pequeninos montes de terra seca. Um leve barulho de passos assustou-a. Tentou distinguir de quem era o vulto cujo rosto estava na sombra e que tinha o corpo coberto por um manto escuro. O homem a observou em silêncio por alguns instantes. Como um passarinho. Tão vulnerável, pensou ele. O homem falou num sussurro, tentando não assustá-la». In Margaret Starbird, Maria Madalena e o Santo Graal, Mulher do Vaso de Alabastro, Quetzal Editores, colecção Referências, ISBN 978-972-564-624-3.

Cortesia deSextante/QuetzalE/JDACT