Cortesia
de wikipedia e jdact
Ascensão dinástica e alianças
matrimoniais
Os
casamentos da Ínclita Geração
«(…) Dentre
os membros da Ínclita Geração, o primeiro a se casar foi o penúltimo filho, o
infante João, em Novembro de 1424 (Sousa, 1949). Matrimónio endogâmico, uniu o
infante, que desde finais de 1418 estava à frente da Ordem Militar de Santiago,
à sua sobrinha, única filha do conde de Barcelos, dona Isabel. João recebeu de
Nuno Álvares o castelo de Loulé e, após a morte deste, o cargo de Condestável,
e do rei a vila de Serpa com seus direitos e rendas; Isabel recebeu do irmão,
conde de Ourém, o reguengo e o lugar de Colares com todas as rendas, foros,
direitos e jurisdições (Sousa, 1949). De acordo com Mafalda Cunha, o casamento
alienou bens importantes do conde de Barcelos e de Nuno Álvares, permitindo
tanto o fortalecimento régio quanto a ascensão hierárquica do pai da noiva
(Cunha, 1990).
Tal
matrimónio, somado ao do infanteAfonso com a filha do Condestável, representa
uma tendência secundária das uniões estabelecidas pelos filhos de João I, visto
que de seis filhos que casaram, quatro homens e duas mulheres quatro casaram
fora de Portugal. A partir da escassez de fontes acerca das negociações
matrimoniais de dom Afonso, dona Beatriz e do infante João, pode-se entrever
que estas transacções não conheceram delongas, sendo o casamento da infanta com
o conde de Arundel o que mais se protelou. A constatação reitera-se na
observação das negociações que envolveram os matrimónios de Duarte, Pedro e Isabel,
pois este segundo conjunto de casamentos reafirma a tendência de que a procura
de um marido ou de uma esposa por um filho de rei era um processo longo,
complexo, ao curso do qual intervinham diferentes agentes e projectos
matrimoniais concorrentes.
O
estabelecimento de dois conjuntos de casamentos, sendo o primeiro representado
por Afonso, Beatriz e João, e o segundo por Duarte, Pedro e Isabel, permite
ainda que se delimitem distinções entre as consequências de cada um dos grupos
de matrimónios para a dinastia de Avis. Acredita-se que ambos reforçaram os
laços avisinos dentro e fora de Portugal, contudo também reflectem momentos
diferentes do reinado de João I. Os primeiros casórios ocorreram num período de
busca de afirmação e legitimação dinástica,
para a qual a aliança do rei com os Lancaster (1387) já tinha contribuído, com
os problemas internos apresentando-se como difíceis obstáculos; já o segundo
conjunto de consórcios se deu num contexto de consolidação e ampliação
das alianças externas existentes até aquele momento.
Portanto,
acreditamos que os casamentos dos anos 20 são reflexos de uma nova etapa da
diplomacia portuguesa. A posição interna de Avis já estava estabilizada, e a
aliança inglesa estruturada e reafirmada com o consórcio de Beatriz.
Acrescenta-se que a conquista de Ceuta (1415) tinha permitido a construção de
uma imagem do reino e da dinastia reinante articulada aos valores cristãos e à
defesa da Cristandade, elementos que favoreciam a honra da família real avisina
no cenário das casas principescas. Por fim, os casamentos a serem analisados
demonstram o esforço do rei de Portugal em consolidar-se no cenário político
ibérico, mormente através da aliança com Aragão, e, ultrapassando este quadro
diplomático tradicional, enrijecer os laços com o mar do Norte, por meio do
enlace com o ducado da Borgonha.
Os
casamentos dos outros três infantes portugueses foram concretizados num período
muito curto, entre Setembro de 1428 (Duarte I e dona Leonor de Aragão) e
Janeiro de 1430 (dona Isabel e Filipe o Bom), o que oculta o facto de que pelo
menos desde 1409 se discutisse possíveis matrimónios para o príncipe herdeiro e
para o infante Pedro. Assim, reforçamos que a construção de um casamento levava
em consideração diversos elementos, entre eles: os contactos estabelecidos com
as demais casas reais e poderes estrangeiros; o confronto com projectos
matrimoniais concorrentes; a existência de impedimentos de consanguinidade ou
de outros impedimentos canónicos, os quais só poderiam ser resolvidos com
dispensas papais; e a beleza e o dote da noiva. Dados dinâmicos que eram
profundamente influenciados por mudanças dinásticas, mortes e novas alianças
diplomáticas». In Douglas Xavier M. Lima, A política matrimonial de D. João I, Um
instrumento de afirmação dinástica, Portugal, 1387-1430, Roda da Fortuna, Revista Eletrónica sobre Antiguidade e
Medievo, 2014, Volume 3, Número 2, ISSN 2014-7430.
Cortesia
de REsAeMedievo/Academia/JDACT