terça-feira, 3 de dezembro de 2019

D. Fernando I. 2º duque de Bragança. Maria Barreto Dávila. «A nobreza medieval portuguesa tem sido alvo de importantíssimos estudos, que se dedicam maioritariamente ao estudo da família nobre e da casa senhorial»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Mestre Maria Barreto Dávila

Vida e Acção Política
«(…) A mudança política ocorrida com a subida ao trono de João I, a guerra contra Castela, a conquista de Ceuta em 1415 e a consequente criação das casas dos infantes tiveram um enorme reflexo na nobreza portuguesa de Quatrocentos. O esforço de legitimação de poder da nova dinastia de Avis fora acompanhado por uma importante política de mercês e doações a um número diminuto fidalgos que a haviam apoiado ao longo da crise sucessória, propiciando assim a formação de casas senhoriais com uma expressiva base territorial. O maior beneficiado destas doações foi, indiscutivelmente, o condestável Nuno Álvares Pereira que casou a sua única filha e herdeira com o filho bastardo do monarca, Afonso, conde de Barcelos. Nos anos de 1420, Afonso, era o único dos filhos de João I com filhos adultos e titulados. Estes, engrandecidos desde muito cedo pela herança do avô materno, foram imediatamente lançados para uma posição superior à dos servidores mais antigos da coroa. Afonso, conde de Ourém, e Fernando, conde de Arraiolos, não tiveram sequer que aguardar pela herança paterna. Contrariando a tendência das práticas de herança da nobreza, que optava pela reserva do núcleo patrimonial principal para o primogénito, o condestável optou por uma divisão igualitária dos seus bens, títulos e capital simbólico pelos seus netos e genro que passaram a ostentar todos os seus títulos.
O título de conde voltara a ser usado em Portugal no século XIV. Se anteriormente o título representava o exercício de um cargo público, nesta centúria surgiu como uma distinção excepcional, ao título juntava-se a propriedade da terra. Entre os reinados de Dinis I e Pedro I houve, contudo, apenas um título de conde, o de Barcelos, e no reinado de Fernando I dois, o de conde de Ourém e o de conde de Arraiolos. No reinado de João I, e numa altura em que o raio de incidência social da titulação era muito restrito e se limitava, praticamente, a membros da família real, Afonso e os seus filhos detinham os três condados existentes no Reino integrando o topo da nobreza da qual faziam também parte os senhores da terra, detentores de jurisdição, de cargos de administração central, de ofícios palatinos superiores e alguns alcaides-mores. Isto conferia-lhes uma enorme mobilidade de acção e um inumerável desdobrar de solidariedades. Note-se que muitas vezes os três condes se encontraram em facções opostas, como foi o caso da posição que assumiram em relação ao infante Pedro.

Actualmente, devemos grande parte do nosso conhecimento sobre a casa de Bragança aos estudos de Mafalda Soares Cunha sendo que para a época que pretendemos estudar, a obra intitulada Linhagem, Parentesco e Poder. A Casa de Bragança (1384-1483) é uma indispensável base de suporte. Nesta obra a autora caracterizou a reprodução do poder social da casa sendo que o âmbito da sua análise foi o da linhagem, englobando todos os descendentes directos de Nuno Álvares Pereira na análise da afirmação política e consolidação do poder social da casa de Bragança, tendo embora em atenção que os protagonistas decisivos foram os titulares da casa. A sua obra foi, portanto, o nosso ponto de partida para o estudo biográfico do segundo duque de Bragança.
Existem muito poucos estudos de cariz biográfico respeitantes a elementos da casa de Bragança, entre eles encontra-se a obra de Montalvão Machado, Dom Afonso, 8.º Conde de Barcelos, fundador da Casa de Bragança, dedicada ao primeiro duque; o estudo de Anastácia Salgado sobre o marquês de Montemor e os artigos elaborados por João Silva Sousa acerca do conde de Ourém. Aliás, o conde de Ourém tem sido alvo de inúmeras obras, algumas teses em curso, e até de um congresso. Para além da obra de Mafalda Soares Cunha e do capítulo, de cariz biográfico a ele dedicado na Historia Genealógica da Casa Real Portuguesa, sobre Fernando, nosso objecto de estudo, muito pouco se escreveu. Dado este panorama historiográfico pareceu-nos pertinente a realização de um estudo biográfico de uma das personagens politicamente mais influentes do século XV português. Este é, portanto, um estudo de caso, onde tentaremos reconstruir o percurso político e as relações pessoais de dom Fernando tal como uma biografia.
A nobreza medieval portuguesa tem sido alvo de importantíssimos estudos, que se dedicam maioritariamente ao estudo da família nobre e da casa senhorial. Para o nosso trabalho destacamos os estudos de Mafalda Soares Cunha dedicados à casa de Bragança, o de Luís Filipe Oliveira sobre a casa dos Coutinhos; o estudo sobre os Pimentéis de Bernardo Vasconcelos Sousa; o de João Silva Sousa sobre a casa senhorial do infante Henrique e, finalmente, os estudos de Nuno Silva Campos dedicados ao primeiro capitão de Ceuta, Pedro Meneses, e à construção da casa de Vila Real. Estes últimos estudos apresentam, aliás, um carácter mais biográfico. Não podemos deixar aqui de referir também os estudos levados a cabo pelos investigadores do Centro de História de Além Mar, quer os de cariz biográfico, inseridos na obra A Nobreza e a Expansão. Estudos Biográficos, quer os de análise das relações entre a alta nobreza do Reino e a expansão portuguesa, como por exemplo, as actas do colóquio internacional A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia». In Maria Barreto Dávila, D. Fernando I, 2º duque de Bragança, Vida e Acção Política, Dissertação de Mestrado, FCSHumanas, UNLisboa, 2009.

Cortesia de FCSH/UNL/JDACT