«Sato tornou a baixar os olhos para Langdon e esfregou o pescoço. Instalar um cabo telefónico é algo muito diferente de ser um deus. Para os homens modernos, pode até ser, retrucou Langdon. Mas, se George Washington soubesse que nós virámos uma raça com o poder de nos comunicar através dos oceanos, voar à velocidade da luz e pisar na Lua, ele iria supor que nós nos transformámos em deuses, capazes de tarefas milagrosas. Ele fez uma pausa. Nas palavras do futurista Arthur C. Clarke: Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. Sato franziu os lábios, aparentemente entretida com os próprios pensamentos. Baixou os olhos para a mão e, em seguida, os ergueu de volta para a cúpula, na direcção apontada pelo indicador esticado.
Professor,
o senhor foi informado de que Peter iria apontar o caminho, correcto? Sim,
senhora, mas... Chefe, disse Sato, virando as costas para Langdon, pode nos
fazer ver a pintura mais de perto? Anderson aquiesceu. Sim, há uma passarela
que contorna a parte interna da cúpula. Langdon olhou bem lá para cima, para a
minúscula grade logo abaixo do fresco, e sentiu o corpo se retesar. Não há
necessidade de ir até lá em cima. Ele já subira uma vez naquela passarela
raramente visitada, a convite de um senador e sua esposa, e quase desmaiara por
causa da altura estonteante e da precariedade da estrutura. Não há necessidade?,
repetiu Sato. Professor, nós temos um homem que acredita que esta sala contém
um portal capaz de transformá-lo em um deus; temos um fresco no tecto que
simboliza exactamente essa transformação; e temos a mão de alguém apontando
directo para essa pintura. Parece que tudo está nos incentivando a subir.
Na
verdade, interveio Anderson, olhando para cima, poucas pessoas sabem disso, mas
existe um painel
hexagonal na cúpula que se abre como um portal e pelo qual é possível olhar
e... Esperem um instante, disse Langdon, vocês estão entendendo mal. O portal
que esse homem está procurando é um portal figurado... que não existe. Quando ele disse Peter apontará o
caminho, estava falando em termos metafóricos. O gesto da mão que aponta, com o
indicador e o polegar esticados para cima, é um símbolo conhecido dos Antigos
Mistérios, e aparece na arte antiga do mundo todo. Esse mesmo gesto aparece em
três das obras-primas codificadas mais famosas de Leonardo da Vinci: A Última Ceia, A Adoração dos Magos e São João Baptista. É um símbolo da
conexão mística do homem com Deus. Assim
em cima como em baixo. A bizarra escolha de palavras do louco começava
a parecer mais relevante. Nunca vi esse gesto antes, disse Sato. É só assistir à ESPN, pensou Langdon,
que sempre achava graça ao ver atletas profissionais apontando para o céu para
agradecer a Deus depois de um touchdown
ou de um home run.
Perguntava-se quantos deles sabiam que estavam dando continuidade a uma
tradição mística pré-cristã de reconhecer o poder superior que, por um breve
instante, os havia transformado em um deus capaz de realizar feitos milagrosos.
Não sei se adianta alguma coisa, disse Langdon, mas a mão de Peter não é a
primeira desse tipo a aparecer na Rotunda.
Sato
olhou para o professor como se ele estivesse louco. Como é que é? Langdon
gesticulou na direcção do BlackBerry dela. Procure no Google George Washington
Zeus. A directora fez cara de desconfiada, mas começou a digitar as palavras. Anderson
se aproximou dela devagar, olhando por cima de seu ombro com interesse. Langdon
disse: Antigamente, esta Rotunda era dominada por uma gigantesca escultura de George
Washington nu da cintura para cima... retratado como um deus. Ele estava
sentado exactamente na mesma posição que Zeus no Panteão, com o peito à mostra,
segurando uma espada na mão esquerda enquanto a direita se erguia com o polegar
e o indicador esticados». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand
Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,