Numa terra do oeste da Ibéria chamada Lusitânia
«A
aventura do conde Henrique raramente é reconhecida na história. No entanto, as
suas viagens até à Palestina são asseveradas por um cronista da Ordem de
Cister, que também observou como o conde era acompanhado por um monge português
da Ermida de São Julião. Mais provas desta viagem vêm de fontes
estrangeiras, nem todas apoiantes dos portugueses, além do mais, como o padre
Zapater, cronista da Ordem de Cister na corte espanhola de Aragão. Um
relato posterior de um membro da Ordem dos Templários vai ao ponto de afirmar
que o conde Henrique era conhecido do papa Urbano II, que o nomeou um dos
doze líderes dessa expedição sagrada. E há mais. Os monges cistercienses
eram escritores consumados. Redigiram copiosos volumes sobre os acontecimentos
do seu tempo, e num desses relatos afirmam que, na Palestina, Henrique venerou
os locais sagrados, e, em troca da sua fiel assistência, um grato rei de
Jerusalém, um cavaleiro flamengo, deu-lhe a custódia de várias relíquias
sagradas, incluindo a lança usada na crucificação de Cristo, amostras da coroa
de espinhos e o manto de Maria Madalena.
No fim de 1099, o mesmo rei
enviou o conde Henrique de volta a Portugal. Ao chegar, partiu prontamente para
a cidade de Braga, acompanhado por Geraldo, o em breve arcebispo francês dessa
cidade, após o que depositaram as ditas relíquias sagradas dentro da sua igreja
principal. Henrique passou os dois anos seguintes a viajar entre a cidade de
Coimbra (para administrar os assuntos de Estado) e a sua corte em Guimarães
(para atender à sua esposa negligenciada), antes de embarcar numa segunda viagem
à Palestina em 1103, de novo com a frota genovesa, desta vez acompanhado por dom
Maurício, bispo francês de Coimbra, juntamente com Guido da Lusitânia e outros
nobres da região.Três anos depois, o conde Henrique e o bispo estão de volta a
Coimbra, como é evidenciado pela assinatura do conde num documento. Portanto, não
só os relatos põem o sempre viajante conde de Portucale em Jerusalém na altura
da cruzada, duas vezes, como também oferecem outra revelação: enunciam o nome
do cavaleiro flamengo, rei de Jerusalém, que originalmente lhe entregou os
artefactos religiosos para que os guardasse em Portucale, pois na descrição dos
movimentos do conde Henrique consta que o seu valor era estimado por Godofredo,
rei de Jerusalém. O que leva à pergunta: o que aconteceu no cerco de Jerusalém,
e como foi que um cavaleiro flamengo de classe social média atingiu o mais alto
lugar do poder na cidade de Deus?
1099.
Junho. Fora dos portões de Jerusalém
O contorno da cidade tremeluzia e
refractava ao calor escaldante do sol de verão. Soldados choravam abertamente
ao ver esta aparição divina, a miragem agora demasiado real. E embora se
tivessem saído melhor do que a mal organizada Cruzada do Povo, só cerca de doze
mil dos trinta e quatro mil cruzados originais chegaram ao destino pretendido. O
terreno em torno da cidade no topo da colina era árido devido ao calor implacável.
Os homens tinham sede e fome e eram em número insuficiente para montar um
cerco. A única opção era um ataque total.
Cruzados vendo Jerusalém pela primeira vez.
Cinco semanas depois, as muralhas
da cidade mantinham-se resilientes a todos os ataques. Melhores notícias
chegaram a 17 de Junho, quando navios de Génova ancoraram em Jafa para fornecer
aos líderes dos exércitos engenheiros competentes e, consequentemente, com a
capacidade de construir armas de cerco a partir de madeira canibalizada dos
seus navios. O ar abafado tornava a pressa impossível, até que a notícia da
chegada iminente de reforços árabes que marchavam desde o Egipto motivou os
cruzados a agir. Com um esforço final, lançaram todos os projécteis contra as
muralhas da cidade a partir do norte e do sul, até que os muros que protegiam
Jerusalém cederam. A vitória era deles». In Freddy Silva, Portugal. A Primeira Nação
Templária, 2017, Alma dos Livros, 2018, ISBN 978-989-890-700-4.
Cortesia de EAlmadosLivros/JDACT
JDACT, Freddy Silva, Cultura, Conhecimento, Saber, Narrativa,